terça-feira, 31 de julho de 2007

Felicidade

O abraço de um filho
Minha cama com lençóis trocados
Toalhas com monograma
Um banho frio no verão
Um dever cumprido
Um banho quente no inverno
Uma taça de bordeaux
Ter amigos fiéis, que ouvem sem julgar
Dormir num domingo de tarde, com chuva, de janelas abertas
Ter lembranças
Provocar lembranças
Ter o homem que a gente ama
Ser correspondido
Fazer guerra de pipoca na sala de televisão
Rever meu pai
Duas bolas de sorvete de chocolate Haagen Dazs, com calda quente de chocolate
Armário com cheiro de lavanda
Um pôr do sol a dois
Doce de leite talhado
Fazer pic-nic na cama
Voltar a Paris
Fazer planos
Um peito macio para deitar a cabeça
Alguém que nos entenda
Um corpo quente para aquecer à noite
Ter companhia para ouvir música
Manter o coração aberto
Não perder a capacidade de amar
A certeza de
nunca estar sozinho

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Evolução ou involução?

Estava outro dia almoçando em um restaurante na Vila Madalena. Um bonito, que tem na parede do fundo uma enoooorme fotografia da praia de Copacabana nos anos sessenta. Como para blogueiro tudo é motivo de post, fiquei olhando aquela imagem, cheia de pessoinhas em trajes de banho e divagando.

Em pouco tempo, minha atenção foi parar nos carros. Além dos muitos Dauphines, Gordinis, DKWs e Aero Willis e de alguns elegantíssimos Simcas, com rabinho de peixe e tudo, o que mais se via pelas ruas e calçadas da praia eram os popularíssimos Fuscas e as Kombis. De todas as cores do arco-íris, com uma discreta preferência pelos vermelhos, azuis, beges e brancos. Havia muitos modelos bicolores também. Um charme.

Bons tempos. Tempos das camisas de Ban-lon ou de malha, das cacharréis, das calças Levi’s 501 ou das de Tergal, que não amassavam e nem perdiam o vinco, mas como nem tudo na vida são flores, ameaçavam transformar qualquer ser humano em homem-tocha se expostas a uma fonte mais intensa de calor, de tão sintéticas que eram. Lembro que os comerciais em preto e branco anunciavam que quem comprasse um terno na Ducal, ganhava duas calças iguais. Nada mais lógico, não era? Afinal, todo homem sabe que a calça gasta muito mais que o paletó! Não sei se na época meu pai aproveitou a oferta, mas se era mesmo esperto como eu achava que era, deve ter aproveitado.

Saindo do restaurante, ergui os olhos no estacionamento e vi aquele mar de carros prateados. Prata, prata, prata, grafite, prata, prata, ah, olha um preto ali! Outro prata, mais um preto, prata, prata...

Na mesma hora, fiz a ligação com Henry Ford e seu famosíssimo Ford T. O modelo T de Ford foi produzido por 19 anos a partir de 1908 e vendeu mais de 15 milhões de unidades, marca só superada sessenta anos depois pelo Fusca. Um sucesso sem precedentes. Para fazer sua obra-prima numa linha de montagem, Ford descobriu rapidinho que ganharia tempo se não precisasse diferenciá-la na hora da pintura. E aproveitando que a tinta preta era a mais barata e de secagem mais rápida, o preto virou padrão. Vem dessa época a famosa frase atribuída a ele: "Você pode ter o carro da cor que quiser, desde que seja preto".

Hoje, a coisa mudou. Os carros têm ar condicionado, som com Bluetooth, airbags, freios ABS, as tintas são eletrostáticas e as carrocerias são recobertas por um verniz transparente com partículas cerâmicas microscópicas que endurecem durante o processo de secagem, formando uma película que protege a cor dos riscos e dos rigores no dia-a-dia.

Tudo muito chique e muito moderno. Desde que você escolha prata ou, excepcionalmente, preto. Tem graça?

sexta-feira, 27 de julho de 2007

O negociador

_ Mamãe, eu quero ir pro clube.
_ Hoje não dá, filho. Está muito frio.
_ E se eu puser um casaco?
_ Não adianta. Você tira.
_ E se eu não tirar?
_ Não adianta, filho. Tá chovendo, os brinquedos estão molhados...
_ Mas eu quero.
_ Mas hoje você não vai. Você vai na segunda-feira, quando começarem as aulas, tá?
_ Mas eu não quero ir pra escola.
_ Ué! E por que não?
_ Por que eu não gosto.
_ E por que você não gosta? É tão legal! Tem aula de artes, de música, tem seus amigos...
_ E se eu não for?
_ Você vai ficar burro.
_ E se eu ficar burro?
_ Aí, você não vai poder trabalhar e ganhar dinheiro pra sustentar a sua mãe no sul da França.
_ Mas eu vou ser explorador. Eu não preciso estudar!
_ Explorador em que sentido, meu filho?
_ Explorador, mamãe! Como a Lara Croft, do Tomb Rider!
_ Ah! Ufa... E você acha que explorador não precisa estudar? Explorador tem que saber história, geografia, química, física, tem que falar vários idiomas... Você não vê que a Lara Croft vai pro Cazaquistão, pra Rússia, pro Nepal...?
_ É.
_ Então...
_ E pra aprender essas coisas eu tenho que ir pra escola?
_ Tem, sim.
_ E se eu aprender no parquinho... ou jogando Lara Croft?
_ Não vai dar certo.
_ Hmmm... então acho que eu vou ser príncipe mesmo.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Quem se importa?

Aí, eu gosto de um shampoo americano que não tem pra vender aqui. Nada demais. É só um produto que funciona com o meu cabelo. Como não havia ninguém indo viajar nos próximos dois meses e minha irmã se recusou a deixar meu cunhado entrar sozinho na loja de lingerie pra comprar meu shampoo, acessei o site e aproveitei a oferta de sete dólares por frasco. Sete dólares, torcida brasileira. Estamos falando aqui em pouco menos de quatorze reais. Nada opulento, nada absurdo. Comprei logo dois shampoos e dois condicionadores. Mais o frete, a conta ficou em US$ 48,95, com prazo de entrega para até três semanas, via UPS.

Semana passada, me liga um mocinho da UPS.

_ Dona Ana Téjo?
_ A própria.
_ Sua encomenda chegou.
_ É mesmo? Que maravilha! Foi rápido, hein? Mas... por que é mesmo que você está me ligando?
_ Porque a mercadoria foi apreendida pela Anvisa.
_ O quê? Por quê?
_ Porque todos os medicamentos ou cosméticos importados podem ser retidos pela Anvisa.
_ Sei. E agora?
_ Agora, a senhora precisa liberar a mercadoria.
_ Eu?
_ É. Eu preciso que a senhora preencha dois formulários de declaração de uso e finalidade, um termo de responsabilidade de produtos de não anuência, assine tudo em duas vias, reconheça firma, junte duas cópias do seu CPF e imprima quatro vias de um Guia de Recolhimento da União com pagamento igual a zero para mandar para o nosso despachante em Viracopos.
_ Cuméquié?
_ Eu vou mandar um Power Point para a senhora com o procedimento, tá?
_ Peraí. Só uma coisinha: me explica de novo a parte do GRU em quatro vias com valor igual a zero.
_ É que a senhora Precisa entrar no site da Anvisa/Receit Federal (https://consulta.tesouro.fazenda.gov.br/gru/gru_simples.asp#ug), preencher o GRU com todos os códigos e, no campo do valor, colocar igual a R$ 0,00.
_ Sei... igual a zero?
_ É.
_ E aí eu faço o quê? Vou ao banco, pego fila, quando chegar no caixa dou o papel, ele recebe zero reais, faz a autenticação mecânica e eu mando pra vocês? É isso?
_ Não. A senhora não precisa pagar.
_ E nem poderia, né? Como é que eu vou pagar um GRU igual a “zero”?

Recapitulando, apenas para posicionar: são dois shampoos. Do tipo que a gente passa no cabelo na hora do banho, faz espuma e depois enxágua. Não são psicotrópicos, nem componentes para fazer bombas caseiras, nem Antrax, nem remédios para impotência. Shampoo, pura e simplesmente.

Chegou o tal do Power Point. No total, deveriam ser enviadas nada menos que dez páginas de documentos e termos onde eu precisaria indicar coisas como a finalidade a que se destina a importação; endereço do local de armazenagem da mercadoria fora do recinto alfandegado; o nome comercial e nome do princípio ativo, bem como a assinatura, CPF e CRF ou CRM do responsável técnico.

Comecei a ler aquilo e a rir de nervoso. Comassim “a que finalidade se destina a importação”? A finalidade da importação é lavagem e o condicionamento dos meus cabelos. Pra usar no banho, sabe? Debaixo d’água?

E em “endereço do local de armazenagem da mercadoria fora do recinto alfandegado”, o que eu devo responder? No meu banheiro? No box lá de casa? Francamente...

Finalmente, onde é que eu vou arrumar um “responsável técnico” para assinar uma guia de liberação da “mercadoria”? Tem algum engenheiro químico aí pra me acudir? Algum farmacêutico desempregado?

Como eu sou teimosa e dou um boi pra não comprar uma briga, mas todo o rebanho de Goiás para não sair, preenchi tudo com ódio, pedi à minha santa mãe que fosse ao cartório reconhecer firma e mandei a palhaçada para Viracopos. Ah, carta registrada, certo?

Hoje liguei para a UPS. Três dias úteis para liberar, um dia útil para buscar e outro dia útil para entregar. Ah, e entre os dias da busca e da entrega, a UPS boazinha vai me fazer o favor de pagar TODOS os impostos de importação que eu deverei restituir contra a entrega.

_ Peraí! Impostos? Que impostos?
_ Ah, todas as nossas encomendas sofrem tarifação de importação. A sra. vai pagar 60% disso, 15% daquilo, 12,3% daquilo outro...
_ Sei. E quanto é que isso dá?
_ Quase 100% do valor importado, senhora.
_ Mas estamos falando aqui de quatro itens de sete dólares cada!!!! SETE dólares!
_ Sim, senhora. O que dá uma tarifação de cerca de vinte e cinco dólares que senhora terá que pagar para receber a mercadoria.

Meleca, viu? Depois tem gente que tem a cara-de-pau de dizer que não entende porque contrabando funciona.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Parental control

Ainda na semana passada a revista Veja trouxe uma matéria falando sobre os danos irreparáveis que o acesso irrestrito de crianças à internet pode causar. Os problemas iam de seqüestros e aliciamentos a abusos sexuais, passando por fraudes em cartões de crédito e outras barbaridades afins.

Some-se a isso, a quantidade de spams que qualquer pessoa dotada de e-mail recebe todos os dias. Eu recebo pelo menos uns 30, oferecendo ouro e relógios Rolex a preços baixíssimos, Viagra, Cialis, Valium, drogas milagrosas para aumentar o meu pênis (o meu???), unhas de porcelana e diplomas de pós graduação em três meses. Essas maldições penetram em nossas caixas postais por roubo (ou venda mesmo, pura e simplesmente) dos cadastros que preenchemos por aí e é virtualmente impossível livrar-se deles. Passei algum tempo bloqueando criteriosamente tudo o que entrava de indesejável, até começar a perceber que os mesmos e-mails vinham sempre de domínios diferentes. Domínios como @çfuhdsjfnd ou @zaofdsvsdjvd. Hoje, limito-me a deletar tudo diariamente, sem nem ler.

Assim, não foi sem certa surpresa, que essa semana recebi o seguinte e-mail:


Achei de uma responsabilidade incrível porque o site não só notifica os pais, como permite o acesso aos dados cadastrados, mesmo sem senha, para conferência.

Podem chamar de paranóia norte-americana, de máquina de consumismo desenfreada, do que quiserem, mas que a iniciativa da Disney é um exemplo a ser seguido, isso é.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Indecências, da série "Altíssima relevância"

Aí, me contaram outro dia que nas primeiras temporadas de Jeannie é um Gênio, a pobre da Jeannie tinha que tampar o umbigo com massinha porque a calça de odalisca tinha a cintura meio baixa e a exposição do umbigo na época era considerada “indecente”.

Procurei até encontrar umas fotos. Estão meio toscas, mas acho que dá pra ver. Que tal?

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Vaga quente

Aí, cá estava eu, reclamando da vida, da fatura do cartão, do cheque especial estourado, do percentual da inflação versus o salário dos últimos anos, da grana dos freelas às vezes demora a chegar, dos calotes, do presente que eu queria comprar pra mim e não vou poder, do carro que eu queria trocar, do mês que acaba muito depois do fim do salário... Aí, parei e tive uma crise de consciência pesadíssima. A gente reclama de barriga cheia, repleta. Eu aqui, na minha cadeira ergonômica, diante do meu monitor fininho de grife, ligada à minha banda larguíssima, perto da máquina de café expresso e reclamando?

Há um tempo - muito tempo, aliás. Estava na faculdade -, fiz um estudo sobre a ocupação urbana do Centro Velho de São Paulo; aquela parte da cidade para onde as pessoas acabam indo, vindas do Terminal Rodoviário do Tietê e, antes dele, de Sergipe, da Paraíba, da Bahia, do Ceará e sabe-se Deus de onde mais, cheias de esperanças e expectativas. Gente que vêm para voltar, meses ou anos depois, desiludida, destroçada, embrutecida e, o pior de tudo: certa de que "era feliz e não sabia" na simplicidade espartana de onde veio. Não sou contra o êxodo. Se fosse, nordestina que sou, não estaria nem aqui! Mas voltando ao Centro Velho, fiquei besta ao descobrir os tipos de acomodação oferecidos aos recém-chegados.

Era mais ou menos assim:

- Apartamento: é a acomodação "de luxo", para os retirantes bem nascidos, que estão "no topo da cadeia alimentar". Só que de apartamento, não tem nada. Trata-se apenas de um quarto com banheiro em uma casa de família, ou nem tanto. É a famosa "suíte" da classe média, só que lembrando muito mais o Quarto de Van Gogh em Arles, sem os quadros na parede, evidentemente.

- Quarto: um nível abaixo do apartamento, é o mesmo Quarto de Van Gogh em Arles, só que sem os quadros e sem banheiro. O banheiro é comunitário e fica no corredor.

- Vaga: é aqui que a coisa começa a ficar curiosa. A "vaga" consiste em um quarto sem banheiro, com várias camas (geralmente beliches), em que diversas pessoas partilham o mesmo espaço. Para guardar as coisas, um único guarda-roupas de duas portas, geralmente dominado por quem está no lugar há mais tempo, baús em casos eventuais ou a própria mala mesmo, se você tiver a sorte de estar na cama de baixo. A "vaga" tem duas subdivisões:

- Vaga fria: é a melhor. Na vaga fria, a cama é de uma pessoa só. É só chegar, deitar e dormir.

- Vaga quente: trata-se de uma "otimização" da vaga e consiste na ocupação alternada de um mesmo leito, por duas ou mais pessoas. Assim: você é pedreiro e eu sou vigia noturno. Você dorme na vaga das dez da noite às cinco da manhã e eu durmo das seis da manhã às duas da tarde. Se a gente der sorte de arrumar alguém que queira dormir das três da tarde às nove da noite, melhor ainda porque o aluguel fica mais barato. A vaga quente tem esse nome por razões óbvias. Com o uso otimizadíssimo do espaço, os lençóis nunca chegam a esfriar. Prático, né? Tudo no maior respeito.

E é muito melhor que os abrigos da prefeitura, pra quando o cabra já está próximo do fundo do poço. Nos abrigos, os colchões ficam no chão, sem lençol mas com piolhos e pulgas e a ocupação é desordenada, ou melhor, caótica mesmo. Como é um serviço gratuito, quem chegar primeiro, deita. Se estiver frio, então, pior ainda. Os abusos sexuais e roubos não são raros, na calada da noite.

Mas ainda é melhor que dormir na rua...

E eu, preocupada com a fatura do cartão! Francamente...

Ah, o texto, como a vaga, é requentado.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Marcondes, o porteiro brejeiro

Meu prédio tem um porteiro assim: malemolente. Mulato, socado, dentes perfeitos, sorriso bonito, já foi mais magro, mas a vida boa na portaria contribuiu para os centímetros a mais no abdômen. Entenda-se que por “boa”, eu não quero dizer fácil. Ninguém questiona a dureza de permanecer sentado naquela salinha de 3 metros quadrados, dia e noite, de inverno a verão, alerta e operante. Mas o Marcondes de defende. Ah, isso ele faz.

Sabido, tem televisão – pra distrair, sabe? Ficar só olhando o movimento, cansa – aparelho de som, revistas – engraçado como todas as assinaturas chegam atrasadas lá no prédio.”È problema da editora”, explica ele, solícito. – um banheiro que deve ser o máximo porque é raro chegar alguém na portaria e encontrá-lo em seu assento. No da portaria, digo. Geralmente, depois de tocar a campainha duas ou três vezes, lá vem o Marcondes, procedente de outro assento, sorrindo, apressado.


_ Desculpe, Don’Ana. É que eu estava aqui, no...
_ Tudo bem, Marcondes. Dá pra abrir a porta que eu estou na chuva há quase dez minutos?

Ele é assim, sociável. Sabe priorizar as coisas como ninguém: pode até deixar um morador esperando, com oito pacotes, dois filhos e um cachorro do lado de fora, mas não deixa passar uma morena bonita de jeito nenhum. Conhece todas as empregadas, babás e manicures do bairro pelo nome e sempre que elas passam – e como passam! –,faz questão de cumprimentar, perguntar da vida, saber da família e principalmente dos amores em horas intermináveis de conversa através do portão.

Tem quatro filhos: três meninas com a mulher e um menino – justo o menino-homem – “por fora”, com a Diolinda. “A senhora sabe come, né, Don’Ana?”

Democrático, não tem preconceito nem biótipo preferido. Valem loiras, morenas, mulatas, altas, baixas, gordas, magras... se der bola, ele está no jogo.

Filósofo, quando não está analisando algum contorno do entorno, fica com os olhos distantes, pensativo.

_ Marcondes? Marcondeeeeees? Dá pra abrir a porta, por favor?
_ Ah, claro, Don’Ana. É que eu...
_ Eu sei, Marcondes. Eu sei.

Elegante, está sempre bem apanhado no terno azul de porteiro, com os sapatos brilhando de graxa. Capricha na gravata e quando está frio, empertiga-se todo no mantô azul-marinho que o deixa com um ar levemente exótico.

Econômico, evita se cansar. Não se oferece para carregar um pacote que seja, a menos que a mão que segura o embrulho pertença a alguém do público-alvo. Quando é assim, se desdobra em dez, em mil, se necessário.

Focado, é incapaz de dizer se o correio já passou ou se a vizinha do andar de cima está em casa, mas sabe de cor os períodos de férias das prestadoras de serviço do prédio. De todas elas.

Ele é assim, mantém o emprego a inacreditáveis cinco anos e quem não gostar... que se mude!

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Coisinhas


Suas mensagens no meu celular.

Seu cabelo todo em pé quando você acorda.
Seu cabelo com gel.
Seu cabelo sem gel.
Seu perfume no cinto do meu carro.
Sua mania de deixar um golinho no fundo de qualquer copo (ou xícara, ou taça, ou caneca).
A quantidade de açúcar que você põe no café.
A necessidade de deixar o café esfriar antes de beber.
Suas omeletes, com tudo dentro.
Sua mania de frio.
Seus olhos, quando se fecham ao meu lado.
Os caminhos engraçados do seu coração.
Seu cuidado de sempre me colocar do lado de dentro da calçada.
Sua necessidade saber quem canta a música que está tocando.
Seu jeito de aluno de colégio particular inglês.
Sua mania de falar mal de tudo o que é inglês (inclusive dos alunos de colégios internos).
Sua paixão por cantoras inglesas (vai entender...)
Seu hábito de mandar entregar coisinhas no meu trabalho.
Sua capacidade de sempre saber o botão certo do controle remoto.
Sua promessa de nunca mostrar seus escritos, só para me deixar curiosa.
Sua pinta de Robert de Niro.
Seu jeito de tomar sorvete, com colher pequenininha, para durar mais.
Seu cacoete de nunca comer a borda da pizza (mesmo que seja recheada).
Seu jeito de me olhar. Aquele, só seu, só pra mim.

Isso é o que eu gosto. Todo o resto, eu adoro!

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Making up

Hmmm, definitivamente, acho sou careta.

Outro dia, fui comprar um batom. Na loja fashion, fui atendida por um vendedor magro, alto, cabeça raspada, barba cuidadosamente por fazer, todo vestido de preto e usando muito mais sombra azul do que eu jamais usei na vida. Aliás, pensando bem, acho que nunca usei sombra azul porque quando era moda, eu felizmente não tinha autorização para usar maquiagem, a não ser no carnaval. Relevei. Ora, ele vende maquiagem. De certa forma, todos os funcionários devem funcionar como vitrines para a marca de vanguarda. Por que não ele também?

Durante o processo de compra, conversamos sobre cores, texturas, formatos de rosto e ele me apresentou um produto para o contorno dos olhos que repuxa delicadamente a pele, deixando qualquer balzaquiana com cara de ninfeta. Bom, pensei. Ótimo, disse ele, como se lesse meus pensamentos. “Eu uso sempre, sabe? Principalmente quando não durmo bem à noite. Quando eu trabalhei na loja do Duty Free do aeroporto e tinha que entrar às seis horas da manhã, era creminho todo dia.”

Separei o creminho, o batom e antes de concluir a compra, já estávamos amigos íntimos, trocando confidências sobre corretivos que deixam qualquer ser humano com cara de quem dormiu doze horas mesmo depois de uma noite de vigília, blushes bronzeadores que garantem a cor típica dos que passaram trinta ou quarenta dias lagarteando em Ibiza e outros mistérios do mundo dos lindonildos.

Lá pelas tantas, criei coragem e perguntei:

_ Escuta, eu tenho visto uns editoriais de moda... os homens estão mesmo se maquiando?
_ E não é que estão, menina?
_ Mas “quanto”?
_ Ah, aí depende, né?
_ Entenda: não é que eu seja preconceituosa, mas acho aquela coisa “Chiquinho Scarpa” meio over...
_ Ah, aquilo é ridículo. Mas eu vendo muita base, corretivo, um pózinho pro rosto não ficar brilhando...
_ Jura?!
_ Por Deus. E pro pessoal mais jovem, a gente tem vendido muito lápis de olho.
_ Lápis de olho?!
_ É. Preto. Pra dar aquele ar meio “Piratas do Caribe”, sabe? Aquela coisa meio decadence avec elegance...
_ Mas o pessoal que compra usa assim, no dia-a-dia, pra trabalhar?
_ Não, né? Usam à noite, na balada.
_ Sei... e as mulheres não estranham?
_ Que nada, menina! Muitas vezes é a mulher que vem aqui com o namorado, pra convencê-lo a comprar. Elas adoram um estilo meio Jack Sparrow, meio Alice Cooper...
_ Sei...
_ Deixa de preconceito, mulher! Homem não pode se cuidar?
_ Claro que pode, Syd (era o nome dele. Como o Vicious ou como o Magal. Escolham...). Acho que homem deve ir ao dermatologista, usar filtro solar, um bom hidratante..., mas isso que você está me contando vai um pouco além do “cuidado básico”, não?
_ Que nada. Você está por fora.

É devo estar. E mais: ou eu estou velha, ou ando freqüentando as baladas erradas. Provavelmente, as duas coisas, mas uma eu garanto: prefiro mil vezes ver meu homem lindo, de cara lavada, do que dar de cara com um Jack Sparrow na minha sala de visitas.

E mais: já pensou, ter que disputar o espelho na hora de sair e o demaquilante na hora de voltar? Eu, hein...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

O novato

Aí, chegou o dia de começar no trabalho novo. Animado e cheio de boas intenções, resolveu caprichar na aparência. Acordou mais cedo, escolheu a roupa com cuidado, tomou banho, penteou os cabelos e passou o perfume que a mãe dizia que era “para usar em ocasiões especiais”. No elevador, estranhou quando o chiuaua da vizinha latiu insistentemente. Mas como chiuauas costumam ser bichos histéricos, não deu muita bola.

Antes de tomar a condução, parou na padaria e arrematou um misto quente com pingado. Apesar da disputa por um palmo de balcão, os assentos ao seu lado se mantiveram vazios. Ele deu de ombros. No táxi, o motorista perguntou duas vezes se queria que abrisse o vidro. Esquisito, pensou, ainda mais com essa chuva...

Apesar de todas as precauções, atrasou-se. Calculou mal a distância e o trânsito estava um inferno, sabe como é. O fato foi que quando chegou, todos já estavam em seus postos, trabalhando.

Simpático, desculpou-se e cumprimentou a futura chefe. Então, foi de mesa em mesa, beijando todas as moças a guisa de boas vindas. Algumas sorriram amarelo, outras limitaram-se a levar a mão ao rosto. Povo esquisito...

No dia seguinte, chegou mais cedo, ligou o computador, guardou a maleta embaixo da mesa e foi para a copa, onde encontrou três moças. Beijou-as e notou uma certa resistência. Seria mau hálito? Mas o dentista havia garantido que a nova escovação, junto com os pedacinhos de cravo que mascava freqüentemente seriam tiro e queda!

Voltou acabrunhado para a mesa. Os dias se passaram e quanto mais tentava se aproximar dos colegas de trabalho, mais eles se afastavam. Até a moça da contabilidade que havia sido tão acessível no primeiro dia, desviava quando o via no extremo oposto do corredor. Começou a achar que não dava pra coisa, que o emprego não era para ele, que a empresa não saberia reconhecer seus talentos.

Um dia, estava no reservado do banheiro masculino tratando de assuntos pessoais, quando entraram dois colegas de trabalho.

_ E o Skunk, hein?
_ Nem me fale. As meninas não agüentam mais.
_ Pô, mas será que ele não se toca?

Era ele. Só podiam estar falando dele. Entre o aborrecimento e a curiosidade, foi vencido pela segunda e suspendeu os pés sobre o vaso para não ser percebido. E ali ficou, encolhido e vulnerável, ouvindo.

_ Parece que não. Será que o cara não tem uma mulher que diga para não sair de casa daquele jeito?

Jeito? Que jeito? Cada vez mais confuso, ele inclinou a cabeça para a frente, para ouvir o que diziam. Mas os dois colegas já se afastavam porta afora.

Em casa, aconselhou-se com a mãe.

_ Mummy, tem alguma coisa errada comigo?
_ Errada, meu amor? Imagina... você é um pitéuzinho.
_ Tô com mau hálito?
_ De jeito nenhum. Você acha que a mummy não ia falar se estivesse?
_ E a roupa? Tá boa?
_ Ótima. Esse casaquinho que a mummy tricotou fica uma beleza em você.
_ É que as pessoas têm se afastado de mim...
_ Ah, que gente horrível! Se afastar de uma coisinha feito você! Você tem usado o perfume que a mummy deu?
_ Tenho, sim.
_ Tem passado bastante, pra ficar bem cheiroso?
_ Tenho sim, mummy. O frasco já tá quase no fim.
_ Tá acabando, meu amor? Então, momentin que a mummy vai fazer um refil pra você.

Sem perder tempo, ela foi até o banheiro, pegou o vidro de perfume e colocou na mesa da sala. Então, foi até a área de serviço, pegou outra embalagem e verteu com cuidado o conteúdo desta dentro do frasco de perfume. Quando entrou novamente para o banheiro, o filho se aproximou da mesa e leu o rótulo: “Pinho Bril Marine”.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Problema de tamanho

Estava aqui pensando... você sabe seu tamanho, não sabe? Por tamanho, nesse caso específico, refiro-me ao espaço que seu corpo ocupa dentro de uma peça de roupa. Explico melhor: quando vai a uma loja, você sabe exatamente se precisa de uma calça 40 ou de uma 42, não é? E sabe se sua blusa precisa ser P, M, G ou GG. E mesmo quando muda de loja, você provavelmente sabe que “aqui, eu sou G”.

Considerando isso tudo, tem coisa mais irritante do que pedir à vendedora que traga a calça vermelha de veludo, tamanho 40 e ficar tiritando de frio sob a luz inclemente do provador enquanto espera, só para ouvir um: “Olha, 40 não tem, mas eu trouxe uma 36 e uma 44. Por que você não prova?”

Ora, sua anta, não provo por um motivo muito simples: eu NÃO SOU 36 e muito menos 44. Se eu pedi uma 40, as chances de eu caber numa 36 ou numa 44 são virtualmente zero! Vou me sentir uma baleia dentro da 36 e poderei colocar um filho ou dois comigo dentro da 44. Dãããns...

Mais uma dúvida, só para corroborar minha tese: existe alguma chance de você comprar aquele liiiindo casaquinho de pelúcia azul royal tamanho PP se TODAS as peças do seu armário são M? Não, né? Até porque, suas costelas não vão estreitar só porque você tem uma festa. E, não. Você não vai caber no PP nem que passe a noite inteira sem respirar.

Sendo assim, por que você, consumidor, deve ser confrontado à força com todas as peças de tamanhos que não são o seu quando vai fazer compras? De que adianta saber da existência daquele blazer lindo, que JAMAIS abarcará seu corpanzil?

A pergunta é simples: por que, nas lojas, as peças não são arrumadas por tamanho? Por que, em nome de Deus, as calças M não ficam junto com as blusas M, e as saias M, e os vestidos M? Não seria muito mais racional?

“E quando eu quiser comprar um presente para outra pessoa?”, perguntará você. Aí, meu caro, vá até a sessão do tamanho da pessoa e mande bala!

Estou há algum tempo pensando nisso, não sem certo incômodo. Aí, dia desses, vagando por aqui, além de encontrar alguém com o mesmo conflito, explicitado de forma muito mais razoável, acho que achei a resposta: as roupas que você compra são organizadas por modelo, por estampa e por cor e não por tamanho porque o objetivo é facilitar a vida do lojista e não a do consumidor!

A resposta trouxe mais uma pergunta: oh, raios... mas não é o consumidor quem consome, efetivamente? E o objetivo do lojista não é vender? E não haveria um incremento nas vendas se as mercadorias fossem organizadas de forma mais sensata? Então, por que não muda? Eu, hein...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Afônica

_ Oi, mamãe!
_ Mmmm...
_ Eu disse: oi, mamãe! Tudo bem com você?
_ Twdmm... e cmm. vmm?
_ Mamãe? Fala comigo!
_ Estou falando, filho. É que a mamãe perdeu a voz.
_ Perdeu?! Onde?
_ Em lugar nenhum, filho. Eu só não estou conseguindo falar, entendeu?
_ Hein?
_ EU NÃO ESTOU CONSEGUINDO FALAR!
_ Ah! Mas você está falando. Só que baixinho...
_ Eu sei, meu amor. É que a mamãe está afônica.
_ O quê?
_ Nada. Esquece.

(gritando, do outro lado da casa.)

_ Mamãe!
_ Mmmm.
_ Mamãe!!!
_ MMMMM!
_ MAMÃÃÃÃÃE!
_ O que foi, moleque?

_ Por que você não responde? Você falou que era falta de educação a gente chamar e a pessoa não responder.
_ É que eu estou SEM voz, filho. Muda, entendeu?
_ Ah... é mesmo. Mas por que você não respondeu?
_ Eu respondi, filho. Você é que não ouviu!
_ Como é que eu ia ouvir? Eu, hein...

terça-feira, 10 de julho de 2007

Mensagem transmitida telepaticamente, de baixo de uma pilha desumana de arquivos.

O céu está azul, o dia está bonito, os passarinhos estão cantando, as crianças estão de férias... qualquer principiante sabe que esse é o cenário perfeito para um crime cruel de abdução.

Foi o que aconteceu. A Ana Téjo foi abduzida por um bando de clientes exigentes, que resolveram pedir todos os seus trabalhos ao mesmo tempo. Nesse momento, o cérebro dela está completamente dominado pela missão quase impossível de entregar tudo dentro do prazo, com a máxima qualidade.

Assim que ela conseguir sair dos escombros e alcançar o teclado, promete voltar a escrever. Até lá, torçam para que a inspiração abunde.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Beleza interior

Alguém já reparou que a gente vê muito mais mulher bonita com homem feio do que o contrário. Isso acontece porque homens dão muito mais importância à estética feminina do que as mulheres. Tá bom, tá bom, eu sei que mulheres são extremamente críticas com outras mulheres e que tendem a ver celulites imperdoáveis onde os homens só vêem “uma gostosa”. Mas isso é com relação às outras mulheres. Com relação aos homens, as mulheres são bondosas, complacentes, razoáveis e generosas até demais. Porque mulher gosta com a cabeça e homem gosta com os olhos.

Alguém aí já viu homem, em rodinha de amigos...

_ E aí, Mané, que tal a mulé?
_ Simpática.
_ Pô, Mané. Se você ta dizendo que é simpática, deve ser um trubufú! É boa ou não é boa?

Não rola, né? Homens – principalmente quando em grupo – são incapazes de valorizar atributos não-físicos da aspirante a parceira. Já a mulher...

_ E aí, queridoca? Que tal o moço?
_ Ai, gentennnnnnn, ele é tãããããão fofo...
_ Fofo? Mas você disse que ele era careca...
_ É.
_ E disse que ele tinha um narigão.
_ E tem.
_ E disse que era barrigudo... e meio baixinho...
_ Eu sei, eu sei. Eu disse tudo isso e é verdade, mas ele é tããããão fofo, me tratou tãããão bem, abriu a porta do carro, me ajudou a vestir o casaco, levantou quando eu fui ao toalete, gravou um CD pra mim, conversou a noite inteira, ligou no dia seguinte, mandou flores... e ele é tão inteligente... tão espirituoso... tão...
_ Ahhhhhhhhh... _ suspiram as amigas, em uníssono. _ Que fofo!!!!!!!!!

Mulher é mesmo assim. A gente gosta de quem gosta de gostar da gente. Não precisa ser lindo, nem fortão, nem sarado, nem bronzeado, nem nada disso. Aliás, algumas de nós até preferem que não seja. E para eles fazerem bonito, a gente passa fome, faz ginástica, tinge o cabelo, faz escova progressiva, peeling a laser, ioga, RPG, depilação, compra roupas e lingeries que eles nem percebem e se empenha. Afinal, tem homem mais lindo que aquele que gosta da gente?

quinta-feira, 5 de julho de 2007

E para coroar...

Ah, queridas, vocês não achavam que esse negócio de coluna fashion ia ficar só no mundo dos machos, né? De jeito nenhum! Até porque, não é porque a SPFW acabou, que você vai ficar alienada, certo? Anda bem que o Fashion Trends Pensatriz vive de olho no mundinho, para ajudá-la a ar-ra-sar em qualquer lugar.

Pois então, cabeludas, donas de cabelão e de cabeleiras, preparem-se: as tiaras voltaram! Siiiiim, aquele troço de plástico e espuma que você usava na década de oitenta e que se projetava dois dedos acima da sua cabeça. Aquele, que tinha uns detalhes em veludo, carmuça, strass ou tudo isso junto e mais uns douradinhos básicos pra combinar com o par de CDs que você usava nas orelhas, lembra? Não se faça de esquecida, criatura. Você sabe muito bem do que eu estou falando. Vou ter que apelar? Então, tá! Estou falando das tiaras que você usava com OMBREIRAS, lembrou?

Pois bem. Esse prático e decorativo acessório, também conhecido como arco, travessa ou diadema, que depois de ter vivido o apogeu nos anos sessenta, ressurgiu com força total nos anos oitenta, como acessório obrigatório de dez entre dez peruas (você, inclusive), voltou. E não é coisa de Rua 25 de Março, não. Grifes chiquetésimas como Prada, Miu Miu, Chanel e Louis Vuitton já aderiram.

E vai piorar: se você quer mesmo ser uma mulher fashion, além das tiaras prepare-se para um banho de dourado. Gold da cabeça aos pés, querida. Valem correntes, bolsas, brincões e até unhas. Afff! Tudo isso, se possível, com saia curta e bota.

Agora, vamos combinar que o trio tiara + saia curta + bota é um velho conhecido nosso? Assim, não se reprima. A hora é agora. Pegue a sua tiara Pakalolo no fundo do armário, ressuscite aquele par de botas brancas e dê asas à Paquita enlouquecida que agoniza em você.

Para referenciar a matéria, fui buscar inspiração em nada menos que a revista da Daslu. Tá bom pra vocês? Então tá. E lembrem-se: não basta ser eighties. Tem que usar tiara!

Fotos: http://www.daslu.com.br/revista/27/03.php

Garoto Pensatriz Outono-Inverno

Dando seqüência à já famosa coluna de pronto-socorro fashion para homens, é com imenso orgulho que esse bloguinho anuncia a chegada ao mundo dos machos de uma das mais confortáveis peças do guarda-roupa feminino: a calça legging. É isso mesmo. Aquela coisa agarradinha, que mulheres com mais de trinta usaram na década de oitenta – acompanhada de rabo-de-cavalo de lado e camisetão com nó na ponta – depois caíram em si, voltaram a usar só na academia para, finalmente, nesse inverno, surtarem novamente, tirarem as benditas do armário e saírem às ruas.

A parte boa é que as calças legging masculinas garantem uma dose de conforto só comparável àquela proporcionada pelas meias-calça. Os homens habituados a usar meias-calça saberão que não estou mentindo.

Mas nem pensem em sair correndo da frente do computador, entrar na primeira loja de departamentos que lhes cruzar o caminho e comprar logo quatro ou seis peças, de cores diferentes. O uso masculino da calça legging é uma arte, que demanda uma alta dose de bom senso e sabedoria. Assim, se você foge do padrão 30/60 (mais de 30 anos ou mais de 60 quilos), esqueça. Se é do tipo marombado, que trabalha diariamente a musculatura das coxas em horas e horas de supinos e agachamentos na academia, a moda também não é pra você. E não adianta ficar sentido. Eu sei que você tem orgulho do corpanzil que construiu à base de Whey Protein, mas vamos combinar que você vai ficar parecendo o King-Kong? Outro problema são seus tornozelos. Nem em sonho use suas calças legging com sapatilhas de corrida ou com sapatênis. Mocassins caramelo, nem pensar, né? Não sei nem porque eu toquei nesse assunto! Machos de atitude usam leggings com calçados bem viris, como botas, coturnos ou tênis de cano alto. Nada menos.

Finalmente, a menos que você seja um exibicionista histérico – e, nesse caso, me avise onde você vai estar para eu não correr o risco de passar nem perto – mantenha seus atributos anatômicos bem protegidos sob camisas mais longas, blazers ou jaquetas. Como as leggings para homens ainda não têm uma modelagem específica, suplica o bom senso que você seja discreto. Sim, a gente lembra perfeitamente do Mikhail Barishnikov dançando O Lago dos Cisnes, mas você não é ele, bofe! E av. Paulista não é o Opera de Paris! Se enxerga!

Com esses conselhos úteis, os machos vanguardistas brilharão feito purpurina nesse mundinho fashion. E nem precisam me agradecer.

Fotos do desfile da Marni e do site Chic, de Glória Kalil.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Entretenimento da pesada

Ainda sobre as férias escolares, os pobres pais em desespero são obrigados a inventar estratagemas e artimanhas para impedir que seus anjinhos destruam a casa nos momentos de ócio.

E dá-lhe locadora de DVDs. “Mamãe, posso alugar um filme? Posso alugar outro? Outro? Outro? Posso alugar aquele um de novo?” No fim do mês, você descobrirá que gastou o equivalente à prestação de um carro popular em locações e que há uma verdade absoluta nos filmes voltados para o público infanto-juvenil: todos, sem exceção têm “muito louco”, “da pesada” ou “do barulho” no título. Tive a pachorra de fazer uma pequena lista de locações recentes, apenas para comprovar minha tese:

- Mickey em um verão muito louco
- Breakout – Uma aventura muito louca (esse é muito loucA. Vale? Vale, né?)
- Matinê, uma sessão muito louca
- Um Natal muito, muito louco
- Um funeral muito louco
- Um morto muito louco
- Um hotel muito louco

- Brice, um surfista muito louco
- Crazy People, Muito loucos
- Ainda muito loucos
- Madrugada muito louca
- Sexta-feira muito louca
- Uma escola de arte muito louca
- Heróis muito loucos
- Os deuses continuam muito loucos
- Ainda muito loucos

- Top Gang! Ases muito loucos

- Recrutas da pesada
- Um ninja da pesada
- Uma dupla da pesada
- Uma família da pesada
- Uma turma da pesada

- Um tira da pesada 1, 2 e 3
- Churrasco da pesada (é. Churrasco)
- Spot – um cão da pesada

- A gangue do barulho
- Um casal do barulho
- Latidos do barulho
- Uma turma do barulho
- Um salão do barulho
- Harry, um hóspede do barulho
- Little Robots – uma caixa do barulho
- Cupidos do barulho
- Férias do barulho

“Da pesada” e “do barulho” são as crianças em férias. “Muito louco” é o que a gente acaba ficando. Haja criatividade...

terça-feira, 3 de julho de 2007

Vá procurar sua turma!

Todo ano é a mesma coisa. Chega essa época e, para delírio das crianças e desespero dos pais, vêm as férias. Quando digo “desespero” é porque como as crianças costumam ter cerca de três meses de férias por ano, enquanto os pais só têm um – a menos que sejam juízes, promotores ou políticos – é virtualmente impossível acompanhá-los. E eles ficam sedentos por uma maratona de atividades divertidas. “Mamãe, vamos ao parque, e ao clube, e ao cinema, e ao Mc Donalds’? Aí, depois, a gente podia jogar um jogo, e ver um filme, e fazer guerra de pipoca. Aliás, vamos fazer brigadeiro? E bolo? Posso fazer um bolo sozinha? Posso? Posso?”

Hoje é dia 03. Só faltam 27. Em ocasiões assim e na ausência de parentes com filhos de idades próximas morando em cidades paradisíacas, só resta uma coisa a fazer: programa de férias do clube.

O programa de férias é uma idéia espetacular que garante aos pais uma semana inteira de filhos intensamente entretidos durante o dia e extremamente cansados à noite. Cansados a ponto de nem lhes passar pela cabeça sugerir um torneio na pista vertical do Hot Wheels entre os cento e oitenta e dois carrinhos da coleção quando você chega, esgotado, do trabalho. Mas não é só isso! Essa semana de férias garante também um pernoite, ou seja, um dia em que as crianças DORMEM no clube, acampando em barracas na pista de atletismo. Já deu para imaginar o que isso significa, né? Para você, adulto, significa a possibilidade de fazer coisas raras e proibidas com outros adultos, como jantar ou ir ao cinema, por exemplo.

Aos filhos, a semana de férias garante contato com outras crianças, um bando de adultos de energia aparentemente inesgotável inteiramente dedicados, brincadeiras sem fim, almoços sem lei e o bendito pernoite, com direito a walkie-talkies, lanternas, banho de gato e a um clube totalmente vazio, de noite, só para eles.

Hoje, pela manhã, levei meus filhos ao primeiro dia do programa de férias. Minha filha, veterana, já participou de uma dúzia desses programas e conhece todas as manhas. Apesar da ansiedade inicial para saber se encontraria as amigas, se conseguiria se ia ficar num grupo legal e, principalmente, se a calça legging da coleguinha ia ser mais curta ou mais comprida que a dela, só me fez uma recomendação:

_ Mamãe, pelamor, nem chega perto de mim com esse moleque, hein?
_ Que moleque, menina?
_ Ele!
_ Mas é o seu irmão, criatura! Não tá reconhecendo? Seu único irmão! É o primeiro ano dele. O primeiro programa de férias da VIDA dele! É natural que ele queira chegar perto de você em algum momento.
_ Mamãe, desinfeta. Se ele chegar perto de mim, eu vou fingir que nem conheço, hein?
_ Mas nem da hora do almoço, filha?
_ Principalmente na hora do almoço.
_ Tá bom. Vem, filho. Vem com a mamãe. Vamos ver em que grupo você está.

Ele estava animadíssimo. Acordou uma hora e meia antes do despertador tocar só para ter certeza de que não chegaria atrasado. Não chegou. Assim que ele entrou e viu aquelas duas centenas de crianças fazendo barulho, segurou a minha mão um pouco mais forte. “Tudo bem, filho. Vamos procurar sua turma.” A turma dele é a de iniciantes, naturalmente. Os menores do programa, os pequenos ou, na linguagem dos demais, os debilóides, bebezinhos babões. Desconfiado, ele apertou minha mão um pouco mais e virou o corpo de lado para segurar minha perna.

_ Mamãe...
_ Diga, filho.
_ Você vai ficar comigo, né?
_ Não, filho. Nenhuma mãe vai ficar.
_ Não?!
_ Não, meu amor. Mas vai ser o máximo, eu garanto.

Nesse momento, os monitores começaram a tocar os pais para fora pelo microfone.

_ Pais, xô! Vão embora! Vão pro cinema! Ninguém quer vocês aqui, né, pessoal?
_ Uuuuuuaaaaaaawwwww!!! _rugiram os mais velhos, em resposta.

Meu filho me puxou pela blusa e disse, baixinho:

_ Eu quero, mamãe.
_ Eu sei, meu amor, mas eu não posso. Senta aqui, ó. Senta perto desses bebezi... digo, desses outros meninos que também estão no seu grupo.
_ Tá _ concordou ele, sem muita convicção e sem soltar minha mão.

Dei um beijo na cabecinha cheirosa, garanti que ia ser o máximo e fui me afastando. Antes de chegar à porta, virei (toda mãe vira. Se disser que não vira, é caso de fazer exame de DNA para ver se é mãe mesmo). Ele estava ali, sentadinho no lugar em que eu havia colocado, pernas cruzadas, carteirinha vermelha na mão, olhos fixos e mim e queixo ligeiramente trêmulo. Joguei uns beijos e acenei. Corajoso, ele forçou um sorriso e retribuiu.

Saí dividida entre a vontade de voltar lá, dizer aos monitores que “xô, pais” coisa nenhuma e que eu ia ficar lá, com o MEU Montanha no colo até ele se sentir seguro para ficar sozinho e a certeza de que às vezes, na vida, a gente precisa sentir um pouquinho de medo em nome de um ganho muito maior, que é a autoconfiança.

Amanhã, tenho certeza, não vou precisar nem sair do carro. Bendito programa de férias.

A função social do cacoete na manutenção da estabilidade emocional infantil

Não é novidade para ninguém que criança tem mania de sucção. Muito mais que mania, o exercício da sucção desenvolve a musculatura oral, os dentes e as arcadas dentárias, além de ensinar funções importantes como a da mastigação, deglutição e respiração e de aproximar a criança da mãe. Mãe que, por sinal, é aquela referência quase única da vida do bebê. Mãe é aquela entidade onipresente durante tooooooda a vida dele e que depois do nascimento interage através da amamentação. E como bebê não é bobo, é claro que quer ficar perto de quem o alimenta e o conforta. Eu quero, o bebê quer, você quer – e se disser que não quer, você que é esquisito, e não nós.

Assim, no fundo não é nada estranho que a simulação do ato da amamentação acalme o bebê, fazendo com que se sinta mais perto da nave-mãe, de onde ele ainda não entendeu porque saiu. Mas se um bebê exercitando a sucção é uma coisa pra lá de natural, à medida que ele vai crescendo, ganhando dentes e tudo o mais, a coisa começa a ficar engraçada.

E vai ficando engraçada até se tornar um cacoete. Como os cacoetes dos outros são muito mais divertidos que os nossos, falemos nos dos outros. Dos meus filhos, por exemplo.

Minha filha foi uma adepta entusiasmada da chupeta, diferentemente do meu filho, que nunca aceitou o artefato. Ambos tiveram cacoetes que até hoje me matam de rir.

Minha filha, na hora de dormir, fazia questão não de uma, mas de DUAS chupetas. Era uma na boca e outra na mão. Medo de perder? De jeito nenhum. Desde pequenininha, ela colocava uma das chupetas na boca, girava no sentido horário, girava no sentido anti-horário, sugava um pouquinho e experimentava a outra chupeta. Assim, como se estivesse fazendo uma degustação. “Hmmmm, deixa eu ver... não. Essa aqui, não. Deixa eu ver se o látex da outra está melhor...” ela seguia nisso a noite inteira, chupando hora uma, ora outra. E se uma das chupetas caísse no chão, ela chorava até receber a chupeta de novo, mesmo que ainda estivesse com uma na boca.

Ela não chupou chupeta por muito tempo. Lembro que lá pelos três anos e meio, combinamos que ela passaria do berço para a cama e que “menina grande que dorme em cama não chupa chupeta.” Mas algo me diz que já estava na hora. Talvez o fato dela já conseguir tocar Jingle Bells na chupeta. Era um suc, suc, suc / suc, suc, suc / suc, suc, suc, suc suuuc... Definitivamente, estava na hora.

Com o meu filho é mais difícil porque ele chupa o dedo. Tentei usar do mesmo expediente e trocar a cama pelo dedo, mas na hora da troca ele não entregou a parte dele. Com ele, o cacoete não se restringe a chupar o dedo. Ele tem que chupar o dedo de uma mão (o polegar da mão direita) AO MESMO TEMPO EM QUE massageia uma etiqueta entre o polegar e o indicador da outra mão. Em geral, é uma etiqueta de bicho de pelúcia, mas qualquer etiqueta serve, até de toalha de prato, desde que seja acetinada. E mais: se não tiver a etiqueta, ele não consegue chupar o dedo.

Vai dizer que adulto não tem cacoete? Claro que tem! Aos montes. E se disser que não tem, é porque o cacoete é a mentira. Cacoete, acho eu, é um ritual que, com a repetição, cumpre a função manter a ilusão da segurança. Quais são os seus?

domingo, 1 de julho de 2007

Casamento - a fórmula

O que torna o um casamento especial?

Afinal, todo casamento tem noivos emocionados, atrasos, gente bem vestida, gente exagera no penteado ou na bebida, pai que chora e criança que dorme na cadeira.


Todo casamento tem festa, dança, bolo, um buquê pelos ares, marcha nupcial, cumprimentos, bem-casados e votos de felicidade eterna.


Todo casamento supõe uma vida nova, continuidade, planos, filhos, fotos, memórias e muitas, mas muitas intenções, na maioria, boas.

Então, o que torna um casamento particularmente especial?


Esse casamento foi especial pelo clima... não, não esse clima. Estava frio, como em toda a cidade. O clima a que me refiro é algo que os místicos gostam de chamar de "energia". A noiva estava linda, o pai chorou
, a criança dormiu, voou buquê, tudo como de hábito. Mas havia algo mais. Havia ali a certeza de que ambos eram feitos um para o outro. Uma sintonia plena que emanava do altar e ia envolvendo cada um dos convidados em ondas de calor. Lá pelo meio da cerimônia, tudo era só encantamento. No altar, entre os convidados, até nos rostos normalmente compenetrados do pessoal do staff. É raro, mas acontece.

Em mitologia, dizem que homem e mulher foram criados como um só ser e que um dia, por fúria e vingança, foram separados ao meio e condenados a vagar pelo mundo por toda a eternidade, em busca da sua outra metade.

É por isso que dizem que cada pessoa só tem uma alma gêmea. Tomando isso como fato, imaginemos as chances, num mundo de sete bilhões de pessoas, de encontrar a "sua" alma gêmea. Isso, é claro, considerando que ela venha ao mundo na mesma época que você e não setenta anos antes ou quarenta depois. Pensando bem, melhor nem pensar para não desistir.

Mas às vezes acontece. Como ontem, nesse casamento. E quando a gente tem a chance de presenciar algo assim, é para não esquecer mais. Nunca mais. Um casamento desses é uma lição para todos que acham que encontraram a alma gêmea.

Assim, se a certeza não é plena, não perca tempo. Lembre-se de que são sete bilhões de pessoas - três bilhões e meio para os não-bissexuais. É um bocado de gente para procurar. Se, por outro lado, é, dedique-se, empenhe-se, ame loucamente, faça por merecer. Como eu, como você, como os noivos de ontem.