Todo ano é a mesma coisa: a cidade faz aniversário, mas quem ganha o presente é você. E aí, amanhã, dia 19, começa a ser preparado o tradicional bolo do aniversário de São Paulo, para ser servido na constrangedora festa do Bexiga, dia 25.
O bolo, que esse ano terá 454 metros – mesmo número de anos que a cidade completa – será de laranja e baunilha. Para preparar a iguaria, serão necessários mais de 1500 quilos de farinha (o peso de um carro), quase 1300 potes de margarina, o equivalente ao peso de um homem adulto de fermento, 600 quilos de açúcar, mais de mil litros de leite e 13.202 ovos*.
Fiquei aqui pensando... quem será que calculou a proporção dos ovos? Por que treze mil, duzentos e DOIS? Será que esses dois ovos farão toda a diferença? E mais: imagina só a chance de alguém perder a conta:
_ Ó, Zé, agora eu me enrolei... foram 712 ou 713?
_ Eita! E eu sei?
_ Melhor começar de novo, né?
_ Dá tempo não, Zé. Arredonda pra 715 e continua daí.
Outra: imagina a chance de, em 13.202 ovos, haver um... bem, um “não bom”? E nem adianta tentar me convencer que os moços que preparam o bolo quebram cada ovo individualmente em um potinho à parte, para minimizar riscos.
Como apresentação é tudo na cozinha, o bolo-monstro será coberto por mais de mil quilos de marshmallow, outros mil litros de leite e 150 quilos de confeitos coloridos.
Tudo isso será montado em cavaletes para o deleite de uma turba de selvagens furiosos, que aparecerá dos mais variados cantos e orifícios com sacos de supermercado, baldes e bacias para devorar tudo em cerca de sete segundos. Segundo dados de anos anteriores, estima-se uma invasão de cerca de seis mil pessoas. Alguns nem se darão ao trabalho de levar recipientes; atacarão o bolo com as mãos mesmo ou simplesmente cairão de boca.
E à noite, tal qual as inevitáveis notícias do Ano Novo em Tóquio ou do primeiro bebê do ano, clássicos do jornalismo televisivo, veremos um repórter abatido e com cara de bunda por ter sido escalado para cobrir a “festa”, dizendo:
_ Esse ano, o tradicional bolo do Bixiga, em comemoração aos 454 anos da cidade, foi consumido em tempo recorde. Em menos de sete segundos, seis mil pessoas acabaram com o doce que levou mais de trocentas horas para ser feito. Vamos tentar falar com alguns participantes da festa...
(Aparece uma velha magrela com a boca e as mãos sujas de creme, carregando duas sacolas de supermercado repletas.)
_ Ah, é muito bom, né? Só assim pros pobre comer bolo...
_ A senhora comeu?
_ Ô _ responderá ela, limpando a boca com a manga do vestido.
_ E essas sacolas aí?
_ Vou levar pros neto que não pôde vir, né?
_ Mas nem todo mundo faz como a dona Alzira... _ retomará o repórter, com voz cansada.
Corte para cenas gravadas segundos antes, de um punhado de adolescentes selvagens, atirando bolo uns nos outros. Novo corte para cenas de uma dona-de-casa dando paneladas em um aposentado barrigudo, na disputa por um teco do troço. Corte final para uma criatura sem sexo definido, que se enfiou de cara no bolo e tenta abocanhar a maior porção possível.
_ É com você, Fátima _ conclui o repórter, aliviado.
Volta para a Fátima Bernardes que sorri, faz aquela cara de “ainda bem que eu sou carioca” e toca a vida porque, podreira desse calibre, numa sexta à noite, ninguém merece.
Quer conferir?
R. Rui Barbosa, entre Conselheiro Carrão e Praça D. Orione, no bairro do Bexiga, dia 25 de janeiro, às onze horas. Não se atrase.
*Fonte: Agência Estado
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Só um pedacinho, por favor.
Postado por
Ana Téjo
às
17:36
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5 comentários:
Toda nação terráquea que se preze tem sua comemoração bizarra. Pelo menos os pobres não estão fugindo de touro na rua ou fazendo guerra de tomate.
Fica pra gente o velho e louco ditado
"não tem pão? come bolo".
Ps.: ainda bem que eu sou carioca.
hj, no sptv, passaram as imagens do ataque ao bolo do ano passado. Show de horror.
beijo
estou pensando em ir e dar um mosh no meio do bolo.. o q vc acha?
Rodis,
Fazem guerra de bolo. Argh!
Clau,
Nem me fale.
Parece que todo ano o povo quer "se superar".
Dani,
Acho ótimo. Só não se atrase, sob o risco de acabar dando um mosh na mesa e se machucar.
Ah, e se passar você dando mosh na TV, eu nunca te vi, combinado?
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