Antes de sairmos para passar o fim de semana fora, tranquei a casa e fiz um Sinal-da-Cruz mental para que Papai do Céu protegesse as coisas que me eram caras. Por “coisas que me eram caras”, entenda-se: meus sapatos, minhas echarpes, um móvel de familia e uns casacos.
Passei dois dias tensa, imaginando aquele roedor dos infernos solto pela casa, fazendo ninho nos tapetes, parindo dentro da TV, se enfurnado na gaveta de lingerie...
Depois de muita negociação, havíamos concordado em deixar água e uma porção de ração DENTRO da gaiola com a porta aberta. Se tivesse interesse em se alimentar, o animal que criasse juízo e fosse ao lugar certo. Pena que não conseguimos pensar num jeito de fazer a porta se fechar automaticamente, caso ele entrasse.
Voltamos no domingo à noite e minha filha foi correndo à gaiola.
_ Ah, mamãe, graças a Deus. Graças a Deus!
_ Ele voltou?
_ Não, mas tá vivo.
_ E como é que você sabe?
_ Porque a comida tá mexida, ó!
Olhei e juro que não notei diferença. Poderia ter sido o vento ou a vontade da minha filha de que o hamster estivesse vivo. Resolvi não dizer nada. Passaram-se dois, três, quatro dias e nada do bicho. Mas todas as manhãs, minha filha jurava que a comida estava “diferente”. E todas as noites, eu ia me deitar tensa, assombrada pela possibilidade de acordar com o animal me encarando.
_ Hmmm... filha, eu estava aqui pensando... hamster sobe em móveis?
_ Só se tiver escada, mamãe.
_ Quer dizer que não há a menor possibilidade dele subir na minha cama?
_ Acho que não. Bem... talvez pelo lençol...
_ Filha, pelamordedeus! Eu morro se esse troço subir na minha cama. Imagina eu dormindo e ele me fazendo cócegas no pé...
_ Mamãe, ele não vai fazer isso..
_ E por que não?
_ Primeiro, porque ele não é burro e depois porque já deve ter notado que você NÃO GOSTA dele.
...
_ Hmmmm... filha, será que ele não escapou por baixo da porta de entrada?
_ Ah, meu Deus! Será, mamãe? Nem me diga! Ah, coitadinho! Fugiu por baixo da porta. Já pensou se ele chegou à escada? Deve ter tomado um tombo danado, rolado vários degraus... deve estar agonizando, com fraturas múltiplas... buáááá!
_ Calma, filha. Foi só uma idéia.
_ O meu bebê, eu nunca mais vou vê-lo! Buááááá!
_ O seu o quê? Do que você está falando agora, menina?
_ Do meu filhinho, mamãe, o Chiribum.
_ Ah, não! Pópará! Pópará que eu não vou ser avó de rato nem morta!
_ Mamãe, eu já falei mil vezes. Ele não é um ra...
_ Nem de esquilo.
No dia seguinte, acordei e vi uma toalha enrolada, rente ao vão da porta.
_ Pra quê essa toalha, filha?
_ Porque se ele não fugiu, não foge mais.
_ E se ele fugiu?
_ Buáááááá!
Passou-se quase uma semana e, todos os dias, invariavelmente, ela acordava e ia olhar a gaiola. Confesso que em alguns momentos – poucos – cheguei a pensar em comprar um bicho novo. Meu maior medo era que o hamster tivesse passado desta para melhor e que em pouco tempo começássemos a sentir o cheiro... se aquilo já cheira mal em vida...
Na sexta-feira, acordamos com a babá gritando.
_ É o rato! É o ratinho da Nindinha!
_ Onde? Onde? _ quis saber minha filha, que nunca levantou tão rápido na vida.
_ Vivo ou morto? _ perguntei.
_ Acho que vivo. Ele ta lá na cômda, no quartin. Fui pegar uma brusa e ouvi um baruín. Aí, abri as gaveta e vi ele se mexendo.
_ E você pegou? Colocou ele na gaiola? _ perguntou minha filha, com o coração aos saltos.
_ Eu, não. Pega você!
_ Eu prefiro não ver isso. Vou voltar pro quarto. Filha, ponha uma luva, sim? Aliás, ponha duas ou três. E se ele te morder, me avisa que primeiro eu mordo ele de volta, depois vou te dar uma anti-rábica.
De volta ao cativeiro, Chiribum entrou numa espécie de surto psicótico e passou horas correndo feito um alucinado dentro da rodinha e tentando a qualquer custo roer as grades da gaiola. Felizmente, em vão.
De volta à cômoda, vimos o estrago. Como sabe que eu não gosto dele, é evidente que o bicho escolheu justamente minha gaveta de sacolas para fazer seu novo lar. Sim. Eu acumulo sacolas e não. Eu não quero falar sobre isso. Depois que ele saiu, tiramos o equivalente a uma bola de basquete de papel roído de dentro da gaveta. E não é que o danado roeu minhas sacolas preferidas? O quê? Irracional, eu?
21 comentários:
Ana, fico feliz que Chiribum esteja vivo. Sim, ele sobe em lençóis. tive uma ex-namorada que tinha um hamster chamado bisnaga. Eles parecem mesmo umas bisnaguinhas. Uma vez tirei ele do meio da cortina, depois de ter escalado um metro e meio com aquelas unhinhas.
Graças a Deus ele está vivo e bem!
:)
Que bom que o Chiribum está bem...
Melhor ainda que ele já está num lugar seguro (para vc).
Beijo
Anna
Sorte que o bicho não deu cria. Já pensou se ele se chamasse Ana? Ia ter uma porção ;)
Ah, que alívio que seu netinho foi encontrado são e salvo, Ana! rs
Ai que bom que ele apareceu! eu tava angustiada já!!!
Ufa! pra felicidade geral (da ME), ele então está de volta na gaiola...
só fyi: eu tbem acumulo sacolas. Talvez seja mal de família. E, claro, tenho as minhas preferidas. Entendo a sua "dor"...
Ana,
Adorei os posts, estava aflita pelo final..
Abraços
Val
Gastón,
Pelarmodedeus!
Se tivesse lido isso alguns dias atrás, acho que teria mudado para um hotel até a criatura ser encontrada.
Ana,
Hmmmm... amém, eu acho.
Anna,
Quanto mais trancado, melhor. Trancado e distante é o ideal.
Rodis,
Um nome simples, forte, absoluto. Um clássico. Um verdadeiro "pretinho básico" dos nomes.
Clau,
Netinho é a vovozinha!
Pé de pato, mangalô, três vezes.
Lala,
Eu também.
MH,
Sabe aquelas de coleções especiais, lindas, forradas por dentro?
Aquelas, que trazem lembranças de tempos longínquos em que a gente conseguia consumir & pagar as contas ao mesmo tempo...
Ah, nem quero falar nisso.
haha, mas antes as sacolas que as meias ou coisa pior né, afffffffffffffffff....
Ai, ai, ai.
Eu adorei o nome dele, mas não fica bem dizer:
- Meu netinho, o Chiribum!!!
Ele tava mais gordinho? ao menos!!
Bjos e quel tal um gatinho, tipo Frajola na próxima estada do Chiribum?!?!?!
Vaaaaaaaaaaal,
Que bom te ver aqui, menina. Tava com saudade.
Feliz Ano Novo e tudo de muito, muito, muito bom pra você e pra sua linda família.
Angela,
Melhor nem pensar, né?
Beija-flor,
Nada, menina. Tava magrelo que só, o ingrato! Tinha até uma peladura no lado do corpo, que deve ter sido causada por ele se meter onde não devia.
Quanto ao Frajola, vou pular, tá? Eu sou incrivelmente alérgica a gatos.
HAHAHAHAHA...não via a hora de saber o final de história. Que bom que o ratin...ops...esquilinho tá vivo!
Beijos
PS.: Já leio seu blog há um bom tempo, mas eu sempre demoro pra começar a comentar...
Tadinho do Chirium... ele descobriu a liberdade, agora as grades não lhe bastam.... tadinho..... estava tensa em saber o fim desta história...
bjs
Re
e ele foi imediatamente despachado pro lar de onde nunca deveria ter saido, né?!
melhor assim!
bj!
ps: concordo, vc. não fica bem de vó de rato, nem de esquilo.
Ciça,
Vivo e quicando. Felizmente, na casa do "vovô".
Que bom saber que você lê o blog. Fique à vontade para comentar sempre que der vontade.
Rê,
Eu também. Muito tensa.
Luci,
Imediatamente.
Quanto ao parentesco, eu sou xófen demais para ser avó do que quer que seja. Afff!
Postar um comentário