terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

É brincadeira...

_ Mamãe, vamos brincar de carrinho?
_ Ah, filho... de carrinho? Mamãe está com uma bruta preguiça... você não prefere ver um filme ou jogar alguma coisa?
_ Hmmm... podemos jogar futebol no escuro com a minha bola fosforescente, quer?
_ Acho que não.
_ Então, podemos jogar os carrinhos da pista de lançamento, vamos?
_ Vamos.
...
_ Nossa, filho! Quanto carrinho! Você deve ter mais de cem. Você já contou?
_ Não.
_ Quer contar? Vai ser divertido.
_ Hmmm... ok.
_ E se a gente separasse os caminhões, dos carros, das motos?
_ Mas a gente não ia brincar?
_ Ué! E a gente não tá brincando?
_ Hmmm... mamãe, o que você está fazendo?
_ Ué, filho. Tô separando por cor! Vou fazer uma fila beeem comprida só com os brancos, outra só com os prateados, uma de verdes, uma de vermelhos... Aí, depois a gente vê de que cor você tem mais carros...
_ Mamãe...
_ Sim, meu amor.
_ Esquece. Você não sabe brincar.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Encomendas

_ Filha, o que você quer que a mamãe traga de viagem?
_ Ah, mamãe... tanta coisa... vamos ver: umas camisolas, uns perfumes, um tênis Nike, uns refrigerantes diferentes, um chaveiro beeeem legal, uma escova de dentes elétrica igual à sua, um CD daqueles meninos liiindos que são irmãos e que eu não lembro o nome agora, um...
_ Sei... “só” isso?
_ Ah, se tiver alguma outra coisa que você ache a minha cara, pode trazer também.
_ Sei... e você, meu filho?
_ Eu não quero nada.
_ Nada?!
_ Nada.
_ Mas nem um brinquedo, uma fantasia de Peter Pan... por que você não quer nada?
_ Porque você nunca traz o que eu quero.
_ Pôxa, filho! Que injustiça! Por que você não tenta pedir pra ver o que acontece?
_ Tá bom. Eu quero uma máquina do tempo, um acelerador de partículas, uma bazuca e uma granada. Ah, e a fantasia do Peter Pan, só se vier com a faca de verdade, tá?

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Alienígenas

Parece incrível, mas ainda tem gente que não tem noção.

Outro dia, eu estava no Mc Donald’s com o meu filho e, como sempre, havia fila. Como nunca discutimos a respeito do pedido – ele sempre pede a mesma coisa – começamos a debater sobre as vantagens e desvantagens de cada brinde.

_ Aquele tem luzinha, filho.
_ Mas o outro mexe.
_ Mas aquele é maior!
_ Mas o outro é verde...

De repente, fomos interrompidos por uma voz alterada um pouco à frente. Era uma mulher beirando os cinqüenta anos – ou assim parecia. Hoje em dia, nunca é muito sensato e nem tampouco seguro fazer conjecturas sobre a idade de alguém – batendo boca com a atendente. É óbvio que viramos para ouvir melhor.

_ Mas por que é que não dá pra tirar o picles? Eu ODEIO picles! Eu sou alérgica a picles.
_ Senhora, isso é impossível.
_ Por que é impossível?
_ Porque os sanduíches já estão montados.
_ Montados por quê? Por quem? Então, manda montar o meu agora.
_ Não pode ser, senhora.
_ Por que?
_ Porque mesmo que o da senhora seja montado agora, ele vai ser absolutamente igual aos outros.
_ Por quê? E não dá pra falar pro cara que monta pra não botar picles no meu?
_ Não, senhora.
_ Por quê?

Nisso, meu filho me cutucou:

_ Nossa, mamãe! Quantos “porquês”, né? Essa vovó parece eu...
_ Shhhh! Fica quieto, filho, que se ela ouvir você chamando ela de vovó, mata a gente.
_ E porque ela não pede o sanduíche com picles e tira o picles depois?
_ Fica quieto senão ela vai afogar nós dois no pote de picles.
_ Porque ela é louca, filho.
_ É mesmo? Por quê?
_ Shhhh. Presta atenção...

O bate-boca continuava:

_ Quer dizer que se eu quiser meu Quarteirão no pão do Cheddar Mc Melt? Você também vai dizer que é impossível?
_ Sim, senhora.
_ E por quê? Por que eu não posso comer o sanduíche no pão que quiser? Por que tem que ser no pão que “vocês” querem?

A atendente poderia ter dito algo como “porque nós somos uma cadeira multibilionária de quinhentos gazilhões de lojas em todo o mundo. Porque nós chegamos até aqui graças à uniformização massiva dos pedidos. Porque se a sra. quer pão x, pão y ou sem picles, é melhor ir em outro tipo de lugar que ‘customiza’ seus sanduíches. Não é o nosso caso”.

Mas é claro que se a coitada dissesse isso, ia acabar sendo demitida por fugir dos padrões de atendimento. Obstinada, ela se limitou a manter a voz baixa e o veredicto implacável de não alterar absolutamente nada no sanduíche.

Fiquei imaginando de que planeta aquela encrenqueira tinha saído. Será que ela nunca tinha visto um Mc Donald’s? Será que nem desconfiava de como era o esquema ou que tinha acabado de assistir “Um Dia de Fúria” na TV e estava louca pra brigar com alguém? Eu, hein...

Pior que essa só uma outra, num outro dia, em outra lanchonete que customiza, sim, os sanduíches. Lá, você pode pedir com pão, sem pão, com pão torrado, pão preto, pão branco, pão azul, hambúrguer mal passado, queijo bem derretido, alface só do lado direito, tomate só se estiver maduro e todas as combinações possíveis dessas variáveis.

Pois na mesa bem ao lado da minha, deu-se um diálogo improvável. Personagens: família de quatro pessoas; um casal de meia idade e duas filhas de vinte e poucos anos. Pelo sotaque, todos saturnianos. Depois de olhar o cardápio por um bom tempo, a mãe da família virou-se para o garçom, pediu uma Coca-Cola, uma porção de fritas e perguntou:

_ Nesse cheeseburguer aqui... vem o que, hein?

O garçom olhou para ela, esperando o fim da piada. Que não houve.

_ O que foi? Você não sabe? _ perguntou a senhora.

Agora vem a piada, pensou o garçom.

_ Não. Não sei! _ respondeu, bem humorado.
_ Então vai perguntar na cozinha, moço. Porque eu não vou pedir uma coisa sem saber o que é.

O garçom afastou-se, mais de choque do que de outra coisa, foi até o balcão e voltou.

_ E então? Descobriu?
_ É um sanduíche, senhora. De pão, com carne e queijo.
_ Ahhhhh, entendi. Que tipo de carne?
_ Carne moída, senhora. Hambúrguer.
_ Mas que carne vocês moem? Acém ou patinho?
_ Picanha, senhora. Carne moída de picanha.
_ Rá! Até parece que vocês usam picanha pra moer! Picanha custa uma fortuna, moço.
_ Nossos hambúrgueres são de picanha, senhora.
_ Olha, moço, eu duvido. Posso ir à cozinha ver a picanha sendo moída?
_ A senhora pode ir à cozinha, se quiser, mas não vai ver ninguém moendo picanha porque isso não é feito aqui. Os hambúrgueres já vêm prontos e temperados.
_ Ah, tá vendo? Eu sabia! Quero não, obrigada. Escuta... e o que é esse “hot dog” aqui, hein?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Ajudantes

Deus não podia estar em todos os lugares.
Por isso, ele fez as avós.
O diabo também não.
Por isso, ele fez os ex-maridos.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

A verdade dói

_ O que é isso na sua boca, pelamordedeus?
_ É um palito de picolé, mas eu estou fingindo que é um cachimbo de pirata.
_ Meu filho, você tinha dinheiro?
_ Não.
_ Alguém te deu esse picolé?
_ Não.
_ Não me diga que você achou o palito no chão e está com ele na boca!
_ Tá bom. Eu não digo.