segunda-feira, 27 de abril de 2009

Skate Adventures, parte 2

Na loja de skate, fui atendida por um menino que não devia ter mais de 12 anos. Dá uma pena ver criança tão pequena trabalhando... Ele devia estar na escola. Será que tinha dado tempo de se alfabetizar?

_ E aí? Belê?

_ Belê. Eu queria comprar um skate pro meu filho, por favor.

_ Sei. Ele é âm?

_ Hein?

_ Ele é âm?

_ O que é “âm”, moço?

_ Amador, tia. O seu filho é amador?

_ Claro que é. Ele só tem sete anos. Começou agora.

_ E que tipo de skate a sra. quer?

_ Quero um do tipo “certo” pra um menino de sete anos, que começou a andar agora e que não custe mais de duzentos reais.

_ Duzentos o shape?

_ Não, moço. Duzentos o total da conta, em duas vezes, no cartão, pro moleque sair andando, com tudo o que isso envolve.

_ Entendi... A sra. tem que escolher um shape. Que shape que a sra. quer?

_ Hmmm... oval, comprido?

_ Depende do estilo do seu filho.

_ Moço, ele não tem estilo. Está começando a aprender “agora”.

_ Mas ele faz freestyle, street, mini ramp, half pipe, pool, big air, downhill…como é que ele anda?

_ Em pé, oras! Às vezes ele dobra um pouco os joelhos e estica os braços assim, ó, meio de lado.

 

Enquanto ele tentava, em vão, conter a risada, eu me sentia a mais incompetente mãe de skatista do mundo.

 

_ Olha, existem três tipos de shape: skateboard, fishboard, longboard, com vários noses, tails e côncaves diferentes

_ Qual é a mais comum?

_ Skateboard.

_ Ok. Eu vou levar uma dessas, com nose e tail padrão.

_ E a mesa, o truck, roda, amortecedor, rolamento?

_ Moço, na boa: eu não sei se deu pra perceber, mas eu não ando de skate, não sei nada de skate e nem domino o vocabulário. Assim, temos duas opções: ou você me descola o skate “certo” pro menino, ou eu vou embora sem skate e você fica aqui, sem comissão. O que vai ser?

_ É que fica difícil ajudar a sra. sem ter informação.

_ Mas eu já dei todas as informações que eu tinha, criatura! O primeiro skate dele, que tinha uns desenhos irados, de monstros embaixo, o professor disse que não prestava. O segundo, que ele ganhou, o professor disse que não andava o suficiente. Essa é minha terceira e última tentativa. Assim, pelamordedeus, monta aí um skate médio, com rodas, cheipe, truck, whoop, skettles, sbranches e brables médios, pra um menino médio aprender a andar. Se possível, com rodas verdes porque a gente adora verde. Se não der certo, boto ele no karatê porque, de kimono, eu entendo.


...


_ Pronto, tia. Eu pus um slick no shape pra ficar mais slide. Ficou dentro do preço.

_ Ótimo.

_ A session dele vai ficar rad!

_ Obrigada. Pra você também.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Síntese


_ Que legal a sua lição de casa, filho!
_ Qual?
_ Essa aqui, ó. É a história do elefante cinzento e grandalhão. Conta como ele subiu montanhas, desceu colinas e fez mil coisas. E você tem que recontar a história com outro personagem.
_ É. Eu sei.
_ Que personagem você vai escolher, filho?
_ A rã. A rã leve e bege.
_ Rã bege? Que interessante! E por quê você escolheu a rã?
_ Porque é menor.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Skate adventures - parte 1

Não é fácil para uma mãe acompanhar o ritmo dos filhos. Meu filho agora faz skate. São sete anos de pura energia e adrenalina em cima de uma prancha com rodinhas. Para lapidar o estilo, resolvi colocá-lo nas aulas do clube. Como já investi muito no moleque e preciso conservá-lo, comprei antes equipamento completo de proteção. Capacete, ele vai usar provisoriamente o de ciclista, até minha conta bancária se recuperar porque antes de acertar no skate, tive duas aquisições solenemente recusadas pelo professor.

 

_ Mãmi, esse skate não dá!

(Mãmi?)

_ Você que é o professor de skate do meu filho?

_ Eu mesmo, mãmi. Meu nome é Johnny.

(Acho que eu já vi esse filme.)

_ Legal, Johnny. Olha só: eu não sou sua mãe, tá? Não sei como a notícia vai cair pra você, mas é melhor que você saiba de uma vez, antes que comece a se apegar a mim.

_ Ah, falou. Olha, é que esse skate do Montanha não tem a menor condição.

_ E por que não? É tão bonito, verde, tem uns monstros aqui na parte de baixo, ó...

_ Ah, mã... tia, porque esse não roda direito. Vai prejudicar a performance do moleque.

_ Sei...

_ Aí, todos os amigos dele vão progredir e ele vai ficar estacionado...

_ Entendi. E qual é o skate “certo”?

_ Tem que ser um bom, tia.

_ Bom “quanto”, Johnny? Porque lembre-se de que o Montanha aqui tem só SETE anos e que é mais fácil um boi voar do que eu comprar um skate de um milhão de dólares pra ele.

_ Acho que com umas duzentas pratas você já compra um que ele consiga andar.

_ Duzentas pratas??? Pelamordedeus!

_ Isso, pra começar, né? Depois, a gente vai melhorando.

_ Sei. Johnny... faz o seguinte: anota aqui, por favor, o que eu preciso, que eu vou tentar arrumar isso para antes da próxima aula.

_ Falou, tia. Aê, Montanha, a mãmi é pro, hein?

 

...

 

_ Filho, o que é esse “pro” que o seu professor de chamou?

_ Sei lá, mamãe, deve ser professora.

_ Mas eu não sou sua professora. Sou sua mãe.

_ Eu sei. Quer que eu vá lá e pergunte?

_ Melhor não, meu filho. Vamos embora.


Peguei os endereços de lugares para comprar o skate “certo” e saí, munida do maior espírito aventureiro, a bordo do meu mais puro estilo skatista.

Continua...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

40

Tenho acompanhado nos últimos tempos várias amigas chegarem aos quarenta anos. As comemorações variam, mas muitas tem oferecido grandes festas para uma centena de pessoas ou mais, com as músicas que a gente dançava, comes, bebes, flores, garçons e iluminação caprichada. Invariavelmente, as aniversariantes estão esfuziantes a bordo do trio melhor penteado-melhor roupa-melhor maquiagem. As mais abonadas reservam uns três meses antes da ocasião para pequenos retoques, lipos e uma ampolinha de toxina botulínica para amenizar as rugas que começam a dar as caras. Afinal, envelhecer virou pecado mortal e se os cinquenta são os novos trinta, os quarenta são o quê? Os novos vinte? Eu acho que não.

Porque por mais que abundem mulheres de cinquenta que juram estarem muito melhor hoje do que aos vinte, é impossível manter um pique igual sem mil vezes mais esforço. E nem sempre aos quarenta, a gente tem tempo para tanto esforço.

É claro que todo mundo diz que morre de orgulho de cada passo do caminho, de cada dia vivido, de cada conquista e de cada ruga – e é verdade, à exceção, talvez, das rugas – e que não quer, por nada, voltar aos vinte anos.

Só que aos vinte anos, a gente saía, voltava às quatro da manhã, levantava seis e meia e ia para a faculdade como se nada houvesse. Aos vinte, a gente comia lasanha e pizza quatro queijos quando tinha vontade, tomava sorvete com calda, se entupia de chocolate na Páscoa – e no resto do ano – e não engordava. Aos vinte, a gente não usava demaquilante, nem loção tônica, nem um hidratante para o dia e outro para a noite – este último, com ácido para corroer o peso dos anos –, nem filtro solar e tinha pele de pêssego. Em calda. Aos vinte, a gente não fazia ginástica, ou fazia duas vezes por semana e tinha coxas firmes, bunda dura e uma barriga mais chata que a Mallu Magalhães que, por sinal, nem vinte tem.

Por mais que a gente sorria e celebre não é fácil fazer quarenta anos e quem disser que é, está mentindo. Aliás, ouso dizer que é muito mais difícil hoje. A seu favor, nossas mães não tinham a obrigação de preservar o frescor dos vinte nem a expectativa – geralmente frustrante – de manter o mesmo pique, o mesmo corpo e a mesma disposição.

Eu completo quarenta anos em agosto e estou me preparando com muito cuidado. Não vou fazer lipo, não vou aplicar Botox e provavelmente não vou dar festa porque nunca tenho grana. Para ajudar na aparência, um vestido novo, unhas feitas e um novo corte de cabelo. Talvez me rebele e aprenda a andar de moto para driblar o trânsito de São Paulo. De resto, manter a rotina de sono, a alimentação equilibrada e os exercícios cinco vezes por semana para tentar, em vão, abandonar em alguma esteira os três quilos que vieram morar em mim um ano atrás.

E, não. Esse post não tem conclusão, lição de moral, mensagem otimista ou final engraçadinho. Vou ali tentar lidar com a perturbação e entender esse negócio de fazer quarenta anos e, quando descobrir, eu volto.