terça-feira, 27 de maio de 2008

O assunto dos acentos

Pelo MSN:

_ MM?
_ Oi, filha. Tudo bem?
_ TD. O P tem q lvr 1 foto de maio pra scla. Vc traz?
_ Seu irmão tem que levar uma foto pra escola? Foto recente? De maio?
_ Eh.
_ Tá. Vou separar aqui. Pode ser do Dia das Mães?
_ Km assim, MM? Pirou?
_ Comassim, digo eu, filha! Ele não tem que levar uma foto de maio? De maio, acho que só tenho do Dia das Mães. Qual é o problema?
_ Pô, MM! Não cmplik. É foto de rp de ndr; na piscina!
_Mas seu irmão não foi à piscina em maio.
_ MaiÔ, MM. Maiôôôô.
_ Ahhhhhhhhhhhh, tá. Agooooooora eu entendi. Essa sua mania de comer os acentos ainda vai nos arrumar encrenca. Custa usar os acentos, filha?
_ PQ? Acento eh 1 prda de tmp.
_ Não é, não. Acento é muito importante.
_ Eu n axo.
_ Mas é. E se você pretende escrever em português, TEM que usar acento.
_ PQ?
_ Para que as pessoas entendam o que você quer dizer. Para que não aconteça o que quase aconteceu agora, do seu irmão levar a foto errada pra escola, por causa de um acento a menos. Quer outro exemplo?
_ Qro.
_ Tá. Olha só: João e Maria é um casal. João é Maria é um transsexual.
_ MM, vc pirou msm.
_ Por que, filha?
_ Dããããns! Pq João e Maria eh uma hstria. Td mnd sb disso.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Treze

Minha filha,

Tão difícil quanto ser mãe é ser filha. Ainda mais a mais velha. Eu sei bem. De repente, só porque a gente nasceu antes, todo mundo acha que a gente tem que ser mais madura, mais responsável, mais focada, mais educada, mais equilibrada.

Quando a gente tem um irmão mais novo, fica pior ainda. Ainda mais quando ele é muito mais novo. Aí, os pais sempre dão a desculpa de que “ele é pequeno, a gente é grande; ele não sabe; a gente sabe...” e por aí vai. E quando a gente finalmente consegue as coisas, depois de lutar feito louca, vem o irmão mais novo e consegue a mesmíssima coisa um mês depois, na aba das nossas conquistas. É filha; não é fácil ser filha, nem é fácil ser grande.

Lembra de quando você foi fada da Bela Adormecida na peça da escolinha? E daquele Dia das Mães, em que penduraram um coração imenso no seu peito e você cantou só pra mim? E quando você voltou de viagem e foi correndo pro quarto, beijar todos os seus bichinhos? Eu lembro, filha. Lembro de quando você pisou no formigueiro, de quando a abelha picou sua boca e de quando o cachorro arranhou sua perna. E lembro, perfeitamente, da sua primeira competição de esgrima e de quando você achou que o Yago era fortão só porque ele foi à escola com a fantasia do Batman. Eu estava presente em todas essas ocasiões, filha, assim como vou estar presente hoje, na pizza com as suas amigas (“só que em outra mesa, né? Longe, né? Porque mãe na mesma mesa é o maior mico!”).

Aí, um dia desses, eu olhei pra você e descobri que você tinha virado mulher. A descoberta me encheu de orgulho e de saudade. De orgulho, porque me fez ver que a gente conseguiu, apesar de tudo, chegar até aqui sem maiores percalços e que você está se tornando uma mulherzinha maravilhosa. De saudade, porque sei que daqui pra frente, você vai se afastar cada vez mais de mim para poder ser você. E que a gente só vai se encontrar de novo daqui a uns dez anos, quando você virar adulto de vez. Vai com Deus, filha. Com Deus e com a certeza de que, mesmo da outra mesa, eu vou estar sempre perto de você. Porque só tem uma coisa melhor que ser mãe: ser SUA mãe.

Te amo,

Mamãe

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Mamãe-coruja

Reza a lenda, que toda mãe que se preze, deve admirar incondicionalmente a beleza dos filhos, desde o momento do nascimento. Só que comigo não foi assim.

Antes que a coisa fique preta, devo salientar que, hoje, meus filhos são, efetivamente, lindos. Tão lindos quanto é possível, modéstia à parte.

O problema é que durante a gravidez, passei os nove meses (ou quase), idealizando a aparência deles. Imaginava bebês como a minha irmã havia sido: lindos, imensos, bochechas coradas, totalmente carecas e com olhos azuis da cor do céu. Só que é óbvio que cada bebê é de um jeito e minha filha, apesar da ascendência puramente caucasiana, nasceu com uma farta cabeleira preta e espetada, que mais parecia filha de japonês. Nasceu pequena, magrinha... e peluda! A parte dos pêlos foi a mais chocante. Tinha toda a área das costas, dos ombros até o bumbum recobertos por uma fina camada de pêlos escuros, que a pediatra jurou por Deus que cairiam em alguns meses. De fato. Como se isso não bastasse, a pobrezinha nasceu de parto normal e, consequentemente, toda amassada. Ah, e tinha umas manchas escuras na região da bacia que, diante do meu espanto, a mesma pediatra disse tratarem-se de "manchas mongóis".

_ Comassim??!! _ perguntei, perplexa.
_ Mongóis. Da Mongólia.
_ Mas como essas manchas foram parar aí?
_ Deve ser a ascendência.
_ Comassiiiiim???!!!
_ Você ou seu marido devem ter ascendência Mongol.
_ Não temos!!!
_ Ah, devem ter, sim. Só que vocês não sabem.

Virei para o pai dela, acusadora:
_ Você tem ascendência Mongol? Porque eu, não tenho!
_ Eu, não! _ afirmou ele, aturdido.

Virei-me para a pediatra e declarei:
_ Nós não temos ascendência Mongol!
_ Então... _ disse ela, dando de ombros. _ Eu não sei.
_ Isso sai? _ perguntei, temerosa.
_ Sai _ disse ela. _ Em alguns meses.

Bem, eu sei que sou a mãe sei quem é o pai. Seria possível que minha filhinha tivesse sido trocada na maternidade? Não. Certamente que não. Eu vi quando colocaram a pulseirinha e conferi quando ela veio para o quarto e antes de levá-la para casa.

Tem mais. Quando nasceu, ela quebrou a clavícula. Os médicos disseram que era uma ocorrência comum em partos normais e que podiam enfaixar ou não, porque o osso calcificaria da mesma forma. Perguntei as vantagens e me informaram que enfaixando (por apenas sete dias), era garantido que a calcificação fosse perfeita.
_ Enfaixem!_ disse eu, poderosa.

Quando um bebê quebra a clavícula no nascimento, a imobilização é feita apenas com gaze, prendendo o lado fraturado, com braço e tudo, junto ao peito. Resultado: um braço fica solto e o outro, preso.
Algumas horas depois, fui chamada ao berçário para vê-la. Quase enfartei. Minha filha, saci-pererê de braço, com uma manga do macacãozinho recheada e a outra solta, como se faltasse um braço ali. Eu olhava para ela e pensava: "Deus! Tem alguma coisa errada comigo. Eu TINHA que estar louca de paixão por ela! Tinha que estar achando essa pequena taturana a coisa mais linda do mundo. Mas, como???"

Sozinha, fui algumas vezes ao berçário. Via os outros bebês (alguns lindos, clones perfeitos do bebê dos meus sonhos) e pensava, morta de culpa: "Puxa! Bem que a minha podia ser assim!"

Quando fiquei grávida do meu filho, resolvi não idealizar a imagem dele. "Agora estou mais madura, já vivi a experiência uma vez e VOU amá-lo de qualquer jeito. Venha ele como vier." Grande engano. Ele nasceu de cesárea e eu logo pensei: "dessa vez não vai nascer amassado, será loirinho e, com alguma sorte, terá olhos como os da minha irmã." Só que o coitadinho era feio de doer. Tinha bem menos cabelos que minha filha, todos concentrados na coroa externa da cabeça, como um fradinho careca em miniatura. Também nasceu pequeno, magrinho e tinha um nariz grande como o do pai, ligeiramente adunco. Olhava para ele no quarto e pensava: "parece um velhinho banguela. Que coisinha mais feia da mamãe! Deus me perdoe"

Para corroborar a minha tese de que o bichinho de doer, recebi a visita de um grande amigo, que depois de dar uma espiadinha no berço, disse, franco:
_ Ana, eu adoraria dizer que ele é uma gracinha, mas não vou poder.
_ Tudo bem _ respondi. _ Eu também não acho. Mas ele vai melhorar, se Deus quiser.

Ah, hoje, os dois têm olhos escuros, como jabuticabas. E eu adoro jabuticabas!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Confissões inv(f)ernais

Depois dessa seqüência de madrugadas frias e de ter que pular feito uma mola da cama pela manhã & trocar de roupa, eu resolvi pôr uma pantufa acolchoada e vir a público para dividir uma coisa muito, muito pessoal: eu tenho Tip-Top. Adoraria dizer que, mesmo no inverno, eu só consigo dormir usando camisolas de renda ou, como Marilyn Monroe, Chanel número 5, mas seria uma mentira deslavada.

Explico: sabe pijama de bebê, com pé? Melhor; alguém lembra do desenho do Peter Pan? E do irmãozinho menor da Wendy, que vai pra Terra do Nunca com um pijama ridículo, cor-de-rosa, com dois botões no traseiro? É. Eu sei. Fica uma gracinha. Desde que você tenha até um ano de idade. Ainda não captou? Ok. Imagine um macacão. É feio, eu sei. Adicione ao macacão pés do mesmo tecido com bolinhas antiderrapantes nas solas. Acrescente um zíper de quase um metro para permitir que um adulto entre e saia da peça da peça. Um Tip-Top é mais ou menos isso, só que pior.

Pior porque qualquer adulto de um metro e setenta de altura fica parecendo um whoompa-loompa com paralisia cerebral dentro dele. Como o meu é quase branco – uma coisa meio assim... off-white... trendy! – fico parecendo um coelho gigante dentro dele. O que me salva é que minhas orelhas são pequenas, graças a Deus.

Só que esquenta. Muito. E funciona como fonte de entretenimento pra família toda. Até meus filhos morrem de rir!

Se eu já usei esse estrupício na frente de outra pessoa? Talvez ainda solteira, na casa dos meus pais... Sei, com absoluta certeza, que nunca usei nem na frente do meu ex-marido.

É horrível, é medonho, mas esquenta. A única desvantagem do Tip-Top é que o meu, ao contrário do modelo do menininho do desenho, não tem dois botões ridículos no traseiro. É, meu amigo, você passa a tecer novas considerações sobre o quão dura a vida pode ser, no dia em que precisa levantar à noite para fazer pipi... e tem que tirar o Tip-Top.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Filha 3.0

Pelo MSN:

Filha: oi, mm!

Mãe: Oi, filha. Tudo bem?

Filha: td. E vc? 9ddes?
Mãe: Não, filha. Sem novidades. Tô aqui, soterrada como de hábito.

Filha: taum tá. Dpis flams.
Mãe: Filha, posso perguntar uma coisa?

Filha: Pd.

Mãe: Por que vc come as letras?

Filha: Hm?

Mãe: Por que vc fica me mandando essas mensagens enigmáticas, sem vogais?

Filha: Pro seu prpr bm.
Mãe: Pro meu bem???

Filha: É. Qr vr?
Mãe: Quero.

Filha: e eu eee ó a oai oê ão ai eee aa.

Mãe: O quê???

Filha: Eu disse que “se eu escrever só as vogais, você não vai entender nada.” Viu só km vc n ntndeu?