sexta-feira, 12 de junho de 2009

Macaquices

Aí, por um desses caminhos e descaminhos que só acontecem na Internet, fui parar na página de embarque de animais domésticos do site de uma companhia aérea (Não. Eu não tenho animais domésticos. Mesmo que tivesse, não pretendo viajar nos próximos dias e muito menos levando um.). No rodapé da página, depois de dar todos os detalhes sobre como levar Totós e Lulus com segurança, estava a seguinte informação:

Embarque de animais acompanhando deficientes físicos
Passageiros com deficiência visual ou auditiva que acompanham animal de serviço (cão ou macaco guia) são autorizados embarcar em nossos vôos e ficar junto ao passageiro durante todas as etapas de sua viagem.



Vocês leram o que eu li? Macaco-guia? Agora, na boa, sei que é ignorância minha, mas como será que um macaco-guia funciona? Porque os cães-guias de cegos, efetivamente “guiam” o dono. Se o cão pára, o dono pára. Se o cão anda, o dono anda. E com o macaco? Na hora de atravessar a rua, por exemplo, como será que o macaco faz? Dá um tapa na orelha do ceguinho? E se não for para o dono atravessar a rua porque vem vindo um caminhão em desabalada carreira, como o macaco reage? Grita?

Imagina agora você, embarcando para uma viagem de negócios e, de repente, senta-se ao seu lado um deficiente com um macaco-guia. Lá pelas tantas, o macaco começa a ficar de saco cheio e resolve puxar conversa com você. Como macaco não fala, ele primeiro pula no seu ombro e depois, mais confiado, começa a cutucar sua orelha e a catar piolhos na sua cabeça. Que tal? E você não tem nem o direito de reclamar com a aeromoça porque, afinal, os animais “são autorizados embarcar em nossos vôos e ficar junto ao passageiro durante todas as etapas de sua viagem”.

Em caso de despressurização da aeronave, faz como? Põe a máscara primeiro no macaco ou no passageiro? Porque, se for um deficiente visual, não vai enxergar a máscara e se for um deficiente auditivo, não vai ouvir o alerta de emergência, certo? E se o macaco não tiver prática?

Será que o macaco tem direito a uma barrinha de cereais? Será que ele escolhe a de banana?

E em caso de pouso n’água? Será que o macaco está ciente que “o assento da sua poltrona é flutuante”?

Só sei que troquei idéias com amigos e quando disse que, se fosse eu, discretíssima, levaria logo um orangotango, alguém rebateu dizendo que orangotango não podia, porque todos já estavam trabalhando como seguranças de boates.

Melhor parar por aqui porque esse post está ficando politicamente incorreto, a companhia aérea é seriíssima, o serviço também há de ser e é capaz de haver algum ativista da Sociedade Protetora dos Animais ou do Sindicato dos Deficientes Donos de Macacos-Guia que Viajam de Avião lendo isso aqui e aí, vou acabar sendo processada em milhões de dólares por calúnia, difamação, preconceito e ignorância. Mas que é engraçado, é.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Tia Genérica, parte 2

Trim, trim, triiiiiiiiiiim!

_ Alô?

_ Ana? É a tia Genérica.

_ Oi, tia. Como vai a senhora?

_ Ah, minha filha, nada bem.

_ É mesmo? O que houve?

_ Eu estou triste, meio deprimida...

_ Puxa, tia, que pena... por quê?

_ Porque eu estou muito gorda. Muito gorda mesmo, sabe? Relaxei com o meu corpo.

_ Nossa, tia, da última vez que a gente se viu, eu achei a senhora ótima.

_ Ah, mas eu piorei muito, minha filha. Muito. Nenhuma roupa mais me serve; um horror. E o pior é que eu tenho um casamento na semana que vem e estou nua.

_ Sei...

_ Aí, eu lembrei de ligar pra você. Será que você não me emprestaria um vestido seu?

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Tia Genérica, parte 1

Todo mundo conhece alguém assim.

Geralmente, é uma tia que não necessariamente é irmã dos seus pais. Às vezes, é uma amiga da sua mãe que, por razões que a própria razão desconhece, insiste em frequentar a família há décadas. A sua. Não a dela própria.
A tia Genérica é uma pessoa avançada na idade, nos dissabores da vida e no grau de miopia, que parece compensar esses avanços todos com comentários inclassificáveis.

_ Ana!
_ Oi, tia Genérica.
_ Nossa! Há quanto tempo! Você engordou?
_ Não, tia. Continuo com o mesmo peso.
_ Mas você tá mais fortinha. Com quantos anos você está?
_ Trinta e nove, tia.
_ Só??? Tem certeza? Eu pensei que você já tivesse passado dos quarenta há algum tempo.
_ Não, tia. Eu só faço quarenta em agosto. Falta muuuuuuuito tempo.
_ Mas, espera aí... quando você brincava com o Heitorzinho, meu filho, vocês eram quase da mesma idade, não?
_ Não, tia. Eu sempre fui oito anos mais nova que o Heitorzinho. Sempre.
...
_ Mas você esta bem, Ana. Tá até conservada.
_ Er... obrigada?
_ Você usa creme para os olhos, minha filha?
_ Uso, tia. De manhã e à noite, religiosamente, desde meus vinte e cinco anos.
_ Pois não parece...