sexta-feira, 29 de junho de 2007

Isso merece um post!

Bom para rever os conceitos do que é ser compulsivo. LOL!

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Então estamos agendados

Hoje, muita gente tem celular com agenda. É legal, é leve e é prático (a não ser pela parte de ter que ficar digitando um zilhão de letras naquelas teclinhas minúsculas), mas não tem, nem de longe o glamour das antigas agendas escolares.

Lembro como se fosse hoje quando eu estava na sexta ou sétima série* e tinha uma agenda gigante, encapada com uma foto de surfe. Na época, eu assinava a revista Fluir. Logo eu, essa ratazana de praia, esse tipo tropical, essa coisinha marrom-bombom, que passava metade das férias na praia e a outra metade no hospital, me recuperando das queimaduras...

Mas havia a agenda. De vez em quando, eu até anotava alguma coisa da escola, alguma lição pra fazer, mas legal mesmo, ela colar nas páginas tudo o que cruzasse a vida durante o ano.

A regra não verbal era clara: quanto mais grossa fosse a agenda, maior o status. Quem conseguisse fazer a sua não fechar mais antes do final do primeiro semestre, tinha popularidade garantia. Quando as minhas paravam de fechar, eu colocava um elástico em volta. Depois, dois elásticos. Finalmente, adaptei um cinto velho e afivelava as agendas com ele.

Lá por setembro, as agendas já pesavam mais de um quilo. Nelas, o que se pudesse imaginar: band-aids usados, a areia da praia das férias, o chiclete que grudou no sapato, bilhetes, papel de bala, ingresso de cinema, a farpa de madeira que entrou no pé, tampinha de refrigerante, mecha de cabelo cortado, marca de beijo com batom, unha quebrada, caco do farol que sobrou da batida do carro da mãe, cílio caído, rótulo de saco de pipoca, asa de borboleta, folha de árvore, fitinha do Senhor do Bonfim arrebentada, fio de cabelo daquele menino, grampo...

O bom era que também funcionava como arma. Sim, porque a missão de vida dos meninos era roubar agendas. Mais que o jogo de futebol na hora do recreio, mais que atirar bolas de papel higiênico molhado no teto do banheiro, mais do que ter coragem de detonar uma bomba na privada no último dia de aula, roubar a agenda de uma menina era uma espécie de prêmio Nobel do sucesso escolar. E eles tentavam. Ah, como tentavam. E a gente fugia. Ah, como fugia. Não que houvesse algo importante nelas, mas as agendas eram o símbolo máximo de um universo feminino cheio de mistérios e segredos. Quando algum menino conseguia roubar uma agenda, era imediatamente metralhado com uma saraivada de outras agendas. Coerência zero. Uma vez, conseguimos deixar um de olho roxo!

Se eu guardei alguma? Não. Nenhuma. Minha mãe tinha medo que aquilo desse pulga ou barata e pedia que eu me livrasse delas assim que o ano acabasse. Se eu tenho saudade? Da agenda, não. Da época, também não. Talvez sinta falta da leveza, do descompromisso e das poucas responsabilidades.

* Legenda para os leitores xófens: sexta ou sétima série é o que vocês chamam hoje de sétimo ou oitavo ano do Ensino Fundamental II.

Legenda para os leitores maduros: sexta ou sétima série é o que vocês costumavam chamar de segundo e terceiro ginasial.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Vai chamar seu pai, vai...

Aí, eu chego ao cliente e depois de esperar os quinze minutos protocolares, sou levada por uma mocinha uniformizada até a sala de reuniões, batizada com o nome de um dos produtos da empresa. Mais cinco minutos de espera e entra um rapaz de não parece ter mais de quinze anos.

_ Boa tarde.
_ Oi.
_ Você que é a Ana Tejo?
_ Eu mesma. Acho que tenho uma reunião marcada com o seu pai às quatro horas.
_ Com quem é a sua reunião?
_ Com o Fulano de Tal, gerente de marketing.
_ Ah, sou eu mesmo. Oi, Ana.

Fiquei ali, olhando aquele menino recém saído da adolescência, que ainda tinha espinhas no rosto e pensando nas conseqüências de ter cada vez mais gente como ele em cargos executivos. O fenômeno já tem até nome: juniorização.

A adoção de conceitos como “downsizing” e “reengenharia”, que infestaram o mundo empresarial no início desta década, abriu espaço para a substituição de profissionais mais experientes e bem remunerados por gente mais jovem, ganhando menos e com menos – ou nenhum – benefício.

Se por um lado a empresa reduz instantaneamente seus custos e injeta “sangue novo” em suas operações, por outro perde. E muito. Perde memória, perde vivência e corre o sério risco de colocar em posições estratégicas profissionais verdes, passíveis de tomar decisões erradas, não por incompetência, mas por pura falta de experiência.

Nitidamente, as empresas andam optando pelo que os míopes chamam de “garra”, em detrimento da qualidade. Um júnior é um profissional que muitas vezes ainda mora com os pais, tem poucas despesas fixas, raramente tem filhos e tem toda a disponibilidade do mundo para trabalhar 14 horas por dia, trabalhar nos finais de semana e ainda emendar o final do expediente com uma rodada ou duas num bar próximo, com os colegas de trabalho.

E aí acontecem coisas parecidas com a Visa, que em tempos de despoluição visual de uma cidade como São Paulo, conseguiu uma liminar pra manter um mega outdoor bem ao lado do Shopping Iguatemi. Fico aqui, imaginando o brilho nos olhos do gerente de marketing júnior, dizendo: “Aê! Se demo bem! Sem nenhum outdoor na cidade, o nosso vai chamar muito mais atenção”. Teve também aquela do pessoal do Red Bull (o que te dá aaasas), que resolveu distribuir latinhas do energético nas obras de resgate do desastre do metrô, em São Paulo, como forma de promoção da marca. Bonito, muito bonito. É o que dá... deixar as crianças brincando de escritório sem supervisão.

Onda migratória

Trim, triiiim!

_ Alô.
_ Bom dia, por favor, eu gostaria de falar com a responsável pelo imóvel.

(Oh, céus! De novo, não!)

_ É ela mesma.
_ Er... bom dia. Como é o nome da senhora, por favor?
_ Qual é o assunto, hein?
_ É que eu sou representante da Dedetizadora ÇangueBão e eu não sei se a sra. teve oportunidade de estar vendo o cartazete no elevador....
_ Tive sim.
_ Então, senhora... é que foram detectados vários focos de baratas e cupins nos apartamentos acima, abaixo e ao lado do da senhora.
_ Sei...
_ A senhora tem tido algum problema com baratas e cupins ultimamente?
_ Não. Nenhum.
_ Bem, eu gostaria de estar avisando que nós vamos estar fazendo a dedetização para o controle de pragas nas unidades vizinhas à sua nos próximos dias...
_ Estou avisada.
_ Será que a senhora não gostaria de estar aproveitando nosso preço promocional para condomínios e estar dedetizando o seu apartamento também?
_ Não, obrigada. Eu vou estar declinando da oportunidade.
_ A senhora está ciente de que TODOS os cupins e baratas dessas unidades dedetizadas tenderão a migrar para áreas não dedetizadas?
_ Estou ciente.
_ E a senhora não se preocupa com isso?
_ Nem um pouco.
_ Senhora, eu preciso estar informando que uma barata põe de dois a três mil ovos por vez e que uma infestação de cupins pode acabar com armários, móveis, beirais de portas, roupas...
_ Peraí! Roupas?
_ Sim, senhora. Principalmente roupas de inverno. Algumas espécies de cupins adoram artigos de lã.
_ Tá. Já entendi.
_ E MESMO ASSIM a senhora não vai querer estar dedetizando o seu apartamento?
_ Mesmo assim, não. Eu gosto de viver perigosamente.


O representante da Dedetizadora ÇangueBão desligou o telefone quase irritado. Estou com um mau pressentimento.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Prescrição











_ Filho, não faça barulho porque sua irmã está dormindo.

_ Ué, ela não foi pra escola hoje?
_ Não. Sua irmã está doente.
_ É? E o que é que ela tem?
_ Tosse, filho. Muita tosse e um pouco de febre.
_ Você já deu xarope?
_ Já, filho. E mel também.
_ E não passou?
_ Ainda não.
_ Mamãe, eu sei o que ela precisa.
_ Sabe? E o que é?
_ Muita água, descanso e abraços.
_ Na verdade, todo mundo precisa de água, descanso e abraços, filho. Até quem não está doente. Onde você aprendeu isso?
_ No Discovery Kids.

E depois tem gente que diz que TV não educa...

O nó da questão

Aí havia esse aniversário. O dono da festa era um homem sóbrio e formal, profissional atuante em umas das poucas áreas que ainda demandavam o uso de terno e gravata.

Inspiradíssima, ela resolveu dar um presente pra lá de inusitado: uma gravata. Eu sei, eu sei que dá pra fazer melhor, mas vamos combinar que ela não estava com tempo nem paciência de pensar em alguma coisa “criativa” pra dar? Vamos combinar também que não era tãããão amiga assim da pessoa e que queria cumprir logo sua obrigação e resolver o problema? Gravata parecia ser um presente correto e impessoal, na medida certa. Algo que deixaria claro que havia se lembrado – e investido – na ocasião, sem sugerir qualquer tipo de aproximação maior.

Se soubesse que teria tanto trabalho, teria preferido bordar o monograma dele em uma dúzia de lenços de cambraia. Do fundo do seu coração, nunca imaginou que uma mulher pudesse ter tanta dificuldade para escolher uma gravata. Achava que isso era privilégio dos homens com roupas femininas, mais por desinteresse e preguiça do que por desconhecimento real.

O fato é que lá estava ela, naquela loja elegante e colorida com mais de mil tipos de gravatas e um imenso vazio existencial. Não sabia nem por onde começar.

O vendedor, solícito e experiente, veio acudir.

_ O que a senhora deseja?
_ Hmmmm... uma gravata?

Ele quis saber como era o futuro dono do presente, sua idade e profissão. Finalmente, fez a pergunta crucial:

_ Como ele vai usar a gravata?

Ela olhou para o vendedor, cada ver mais confusa.

_ Errr... no pescoço?

O vendedor riu.

_ Senhora, eu preciso saber se se trata de um homem sóbrio, se ele aceita ousar de vez em quando, se usa cores, se transmite uma imagem profissional mais austera ou mais informal, qual é o ambiente em que trabalha, com que tipo de gente interage, se os colegas o vêem como uma pessoa acessível...
_ Dá para ver tudo isso pela gravata, é? _ perguntou ela, encantada.
_ Sem dúvida. Uma gravata é muito mais que um cartão de visitas. É um emblema masculino universal, capaz de ser lido e interpretado nos quatro cantos do planeta. A gravata certa denota estilo e personalidade e pode ajudar a fechar um contrato, a ganhar um caso ou a conseguir um emprego. A gravata errada pode pôr tudo isso a perder.
_ Puxa...
_ As listras, por exemplo. Listras diagonais são uma opção com boas chances de sucesso. Gravatas assim também são chamadas de “regimentais” porque surgiram na Inglaterra para diferenciar os membros dos regimentos reais.
_ Listrada, então?
_ Desde que ele seja a pessoa certa. Caso contrário, pode achar que a senhora o vê com mais austeridade do que ele realmente tem. Padrões de cashmere ou os geométricos pequenos também costumam dar certo, desde que na cor adequada. Bolinhas, em gravatas, são consideradas uma escolha ousada.

Ela fez um esforço imenso para se lembrar de alguma gravata que já tivesse visto nele, mas seu cérebro estava intoxicado de tanta informação e tudo o que lhe ocorria era aquele modelo de mulher pelada que o Didi, d’Os Trapalhões usava, em começo de carreira.

_ Sei...
_ Alguns homens gostam muito de padrões com referências eqüestres, ou de estampas com animais como cães ou aves...

Com aquele último discurso, suas opções haviam se reduzido de mil para cerca de setecentas e oitenta.

_ Eu... eu acho que gostei dessa aqui _ disse, insegura.
_ A rosa? A senhora gostou da rosa? Sem dúvida que é uma bela peça, de seda pura italiana. Uma gravata assim seria a escolha perfeita para um jovem empresário do ramo da comunicação. É o caso?
_ N... não _ Ela começou a ficar tensa. Só queria acertar, mas as chances de erro eram tantas... _ Se ele não gostar, pode trocar?
_ É claro que pode, mas quando receber o presente, ele vai ter em mãos uma prova inquestionável de como a senhora o vê. E se essa imagem não coincidir com a imagem que ele gosta de projetar, talvez a senhora se veja em uma situação delicada.

Ela agradeceu e saiu da loja o mais rápido que pôde, suando de nervoso. Entrou depressa em uma livraria e comprou um livro de arte, de capa dura. Nem sabia se ele gostava de arte, mas parecia ser um presente mais seguro.

Daquele dia em diante, nunca mais disse que moda masculina era uma coisa fácil e passou a olhar com muito mais respeito para os homens de gravata.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Por que os domingos voam?

Porque são tão bons e tão nossos.
Porque o que temos para fazer juntos não cabe nas poucas horas que os domingos oferecem.
Aliás, nem nas horas das segundas, ou das terças, ou das quartas...

Porque não dá tempo de almoçar duas vezes.
Nem de jantar duas vezes
Nem de tomar dois cafés da manhã
Nem de ver dois filmes,
e ir passear,
e voltar,
e encontrar os amigos,
e ir em todas as suas festas,
e nas minhas,
e tomar sorvete,
e se perder numa livraria,
e catalogar todos os DVDs,
e as músicas,
e dormir,
e acordar.

Para que os valorizemos.
Para que vejamos como são preciosos.
Para nos deixar com vontade de ter mais e mais domingos, sempre.
Porque temos tanto em comum.
Porque eu te amo.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Meninos, blargh!

Mãe e filho de cinco anos, ambos de ascendência européia:

_ Mamãe, eu tomei uma decisão.
_ Ah, é mesmo? E qual foi?
_ Eu não quero mais cortar o cabelo.
_ Não?! Mas você fica tão lindinho de cabelo curto. Tão charmoso, tão...
_ Mas eu não quero mais cortar.
_ Sei. E quais seriam os seus motivos para tal decisão?
_ Vou deixar crescer.
_ Entendo... e por que mesmo?
_ Porque eu quero ficar igual ao Ronaldinho Gaúcho.

Visões


_ Ei Ana, que cara é essa?
_ A minha, ué!
_ Não. Você está com uma cara diferente.
_ É sono.
_ Não. Uma cara boa, de quem andou aprontando alguma coisa.
_ Será?
_ É. Quer saber? Tá com cara de quem viu passarinho verde.
_ Tá bom. Eu confesso. Só que não era verde...

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Esquisitices

Quem não tem uma mania esquisita? Esquisita para os outros, naturalmente. Porque para o dono, a mania sempre faz todo o sentido do mundo.

Eu tenho rinite desde pequena. Depois de mil tratamentos, rezas e simpatias, convivemos pacificamente, ela no domínio do meu nariz e eu, controlando o resto do corpo. Com o passar dos anos, fui percebendo o que agravava os sintomas e aprendi a evitá-los. Só tem uma coisa que não tem jeito: documentários sobre insetos.

Basta eu ver um minuto de documentário sobre qualquer inseto (daqueles, onde o bicho aparece em big close up, te encarando do lado de lá da TV, sabe?), para o meu nariz começar a coçar. E não coça pouquinho, não. Coça pra burro, fica vermelho, começa a escorrer, a inchar e se eu não mudar de canal ou sair da sala, começo a espirrar sem parar.

O auge do problema é quando aparecem os ovos e as larvas. Irk! Sou capaz de precisar de um anti-histamínico, de tanta coceira.

Já me perguntaram se cheguei a tratar disso em terapia. Não lembro, acho que não. Havia tantas outras questões tão mais necessitadas de tratamento, que deixei essa pra lá. Até porque, se eu sei que saindo da sala “fico boa”, pra que gastar preciosas horas de terapia, não é? Mas sei que em algum ponto dos seus estudos, Freud, ou Lacan, ou Jung, ou algum outro bacana tem uma teoria perfeita e centenas de estudos duplo-cegos, randomizados, cruzados, testados por dezenas de anos a respeito do assunto.

Mas vai piorar: meu problema é contagioso! Sim, porque depois que comecei a sentir isso, minha irmã também passou a ter a mesma coisa. E antes que alguém diga que deve ser algum fungo lá em casa, informo que minha irmã mora em outro estado. Minha filha também está com os mesmos sintomas e a coisa vai se alastrando. Um dia, quem sabe, a gente aprende a engarrafar isso e domina o mundo. Não que seja mania, nem que seja esquisita, mas só por precaução, lá em casa Animal Planet é bloqueado.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

O plastiquinho

Coisas novas são assim: vêm com aquele plastiquinho de proteção. Controle remoto tem plastiquinho, aparelho de som tem plastiquinho, telefone celular tem plastiquinho. Coincidentemente, nesse fim de semana, eu comprei um celular novo. Comprei, não. Ganhei da operadora boazinha, que resolveu me dar um aparelho novo de presente só porque eu sou legal.

Pois bem. Cá estou eu, ainda hesitando com os novos botões e funções do meu celular novinho. Diante da missão hercúlea de passar toooooda a lista de contatos do aparelho velho para o outro, vou deixando ele aqui, na mesa.

Não foi de propósito, não foi de caso pensado, mas o fato é que no meio do turbilhão alucinado que é minha semana, eu não tirei os plastiquinhos. Ficaram lá, os três, um na tela de fora, um na tela de dentro e um sobre os botões.

Aí, ontem à tarde, recebi uma visita aqui, na minha mesa. Ele chegou pra conversar, mas como adora uma novidade – ainda mais na aérea de eletroeletrônicos – logo viu meu novo celular.

_ Ûia, Ana! Que legal! Posso ver?
_ Pode. É novo. Ganhei da operadora boazinha.

De repente ele parou e me encarou, lívido, com os olhos ligeiramente arregalados.

_ Ana... o que é isso?
_ Isso o quê?
_ Isso aqui, do lado de fora.
_ Ah, o plastiquinho...

Ele começou a tremer ligeiramente.

_ O plastiquinho? Você não tirou o plastiquinho?
_ Não. Esqueci. Por quê?
_ Ana, como é que você pode esquecer de tirar o plastiquinho?
_ Esquecendo, ué. O que é que tem?
_ Ana, me diz... _ ele continuava meio alterado, boca seca, gaguejando. _ ... quando você compra um carro, você também deixa o plástico nos bancos?
_ Ihhh, faz tanto tempo que eu não compro carro, que nem lembro. Mas acho que não deixo, não. Porque aí não é um plastiquinho. É um plasticão, né? E plasticão esquenta, incomoda quando a gente senta...
_ Ana, por favor, posso tirar o plastiquinho?
_ Pra quê, Gastón?
_ Ana, pelamordedeus! Deixa eu tirar o plastiquinho!

_ Calma! Tá todo mundo olhando. Controle-se!

Quando vi que a relevância da remoção do plastiquinho era fundamental para a manutenção do equilíbrio mental dele, resolvi me aproveitar.

_ Quer saber? Não!
_ Ana, por favor, vai? Só um. Você escolhe qual...
_ E o que é que eu ganho com isso?
_ Além da minha gratidão eterna?
_ É, ué! Gratidão não paga contas.
_ Um post no meu blog?
_ Ah, um post... é... pode ser. Mas então tira esse aqui, ó. O menorzinho.
_ Tá bom! _ Schlept! _ Pronto _ Ele me olhou aliviado, quase normal. _ Deus lhe pague, Ana.
_ Amém, maluco.

Imagina quando trocar de geladeira... Aff! Cada amigo que eu arrumo, viu?

Para conhecer a versão do Gastón desta mesma história, clique aqui, ó!


terça-feira, 19 de junho de 2007

Dizem as boas línguas...

No quesito aprimoramento do paladar, há duas teorias bem distintas: há quem diga que paladar é coisa que se desenvolve com o tempo e há gente que, ao contrário, acha que o importante é “educar” o paladar da criança desde a mais tenra idade. Não sei quem está certo ou errado. Só sei que criança tem mania de gostar de umas coisas bem estranhas.

Eu era um exemplo típico. Lá pelos sete ou oito anos, meu refrigerante preferido era uma combinação de Guaraná, com Coca-Cola, com Fanta Laranja. A entrada da Fanta na mistura tornava a coisa toda meio turva e amarronzada. Ficava lindo, parecendo o lago Ness em dia de chuva. Para a escola, na hora do lanche, às vezes minha avó fazia escondido da minha mãe um sanduíche de pão com manteiga e açúcar. Era uma coisa altamente improvável, mas que ficava ótima, com gostinho de massa de bolo.

Na época de faculdade, morei com uns primos ingleses que tinham hábitos bem peculiares. Sábado à noite, quando tinha pizza, ela era servida invariavelmente com batatas chips e café com leite. Uma verdadeira iguaria.

Um pouco antes, ainda no colegial, fiquei muito amiga de um menino que era capaz de cometer loucuras por um cachorro-quente com chantilly. É. Chantilly. Não era cream cheese. Não era sour cream. Era chantilly mesmo, do tipo que a gente bate com açúcar, na batedeira.

Viajar é sempre uma boa forma de conhecer as esquisitices alimentares dos outros. Conheci uma pessoa cujo alimento preferido no café da manhã era pão francês bem fresquinho, estalando, com o feijão frio do dia anterior. Se tivesse paio e bacon, tanto melhor. Ela pegava aquele feijão meio ressecado com uma colherona, enfiava dentro do pão, alisava um pouco com as costas da colher e mandava ver. Um espetáculo!

Tinha aquele que espalhava geléia Ritter de morango em cima da pizza fria de mussarela e aquela outra que tinha que enxaguar a boca com Gatorade de limão depois de escovar os dentes. Caso contrário, ela dizia que ficava enjoada o dia inteiro.

_ Você já tentou água? _ perguntei.
_ Já. Não funciona. Tem que ser Gatorade de limão.
Então tá, né?

Tenho um amigo carnívoro que se casou com uma mulher vegetariana. Ele sofre, o pobre. Para se consolar, pede à mulher que faça montes e montes de molho à vinagrete e come com batata, com farinha de mandioca e com pão francês. E quando alguém pergunta o motivo, ele diz: “Ah, faz de conta que é um churrasquinho e eu mordi o pedaço que não tem carne...”

Mas o melhor de todos os casos, era uma era uma conhecida de infância (imagina só se eu vou dizer que era amiga...). Essa pessoa, do alto dos seus oito ou nove anos, adorava colocar pasta de dente Signal listrada em cima do sorvete de chocolate. Dizia que ficava parecendo uma sobremesa de chocolate mentolado. Disse que uma vez experimentou com Close-Up verde, mas não gostou. Tinha que ser Signal. E listrada. De outra cor, não servia. Tenho uma vontade danada de reencontrá-la... deve ter uns dentes ótimos e um estômago arrebentado, a doida.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Os fofos

Tem gente que gosta de ser assim: fofa. Não é difícil reconhecer um. Fofos, de maneira geral, são aquelas pessoas que inclinam ligeiramente a cabeça para o lado sempre que vão falar alguma coisa e associam a inclinação à uma vozinha propositalmente fina.

Um fofo genuíno, quando encontra uma conhecida, chama de “miga” ou, pior, de “migucha”. É gente que, ao que tudo indica, ou não teve infância, ou não a desfrutou por tempo suficiente. Talvez tenha assistido ao Show da Xuxa em excesso ou que tenha chacoalhado tanto com as coreografias do Menudo, que o miolo ficou meio mole.

Só falta alguém dizer que é implicância minha, mas tem coisa mais enervante que um fofo de quarenta anos, falando fininho e tratando os outros como se todos freqüentassem a mesma matinê do Especial de Natal do Barney?

_ E então, como você está?
_ Eu tá bonjinho!
_ Aconteceu alguma coisa com a sua língua?
_ Pu quê?
_ Sei lá. Porque você tá falando desse jeito esquisito...
_ Num acontecheu nada, Ana. Pu quê vochê implica cumigo?
_ Porque você tem quarenta e quatro anos e não três, ser humano!

E quanto mais velho for o fofo, mais constrangedor. Poucas coisas são mais esquisitas que uma fofa adulta, de cabelos grisalhos, agindo como a avó dos Teletubbies.

_ Oi, miga! Vochêboajinha?
_ Miga? Quem é miga?
_ Vochê, Ana. Vochê é minha migucha do corachão! _ E o cabeção ali, virado de lado, pra parecer ainda mais fofa. Afff!

Mas piora. A coisa pode piorar muito na hora do fofo ir embora. Quanto você está prestes a explodir com tanta fofura, à beira de uma crise de hiperglicemia, arruma um jeito de escapulir, não sem certo alívio.

_ Olha, eu tô atrasada, preciso ir e...
_ Então tchau!
_ Tchau!
_ Olha... beijo no corachão, viu?

“Beijo no coração”. “Beijo no coração!!!!!” Eu morro de aflição toda vez que alguém me manda um troço desses. Acho de matar. Sei que o objetivo é dos mais nobres, que é um cumprimento carinhoso, fofo, mas me dá uma coisa... fico imaginando aquela boca babada do fofo dando umas bicotas em cima do meu músculo cardíaco, com o sangue pulsando. Ui!

Nããão, dirão vocês. Não é no músculo, Ana. Deixa de ser cartesiana e implicante. É no coração, no sentido figurado. Um beijo pra aquecer seu coração. Um beijo sincero, de coração. Tá bom, eu entendo e agradeço, mas será que dá pra dar o meu beijo no rosto e pronto? Tanto lugar mais divertido pra beijar! Imagina se eu vou querer beijo no coração. Ainda mais de um fofo! Eu, hein?

domingo, 17 de junho de 2007

Qualidade de vida

Bom é assim, sem dia, sem hora, sem compromisso
Bom é assim, sem pressa, sem preço, sem limite.
Bom é assim, sem rumo, sem prumo, sem cobrança.
Bom é assim. Sempre com você.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Tamanho é documento?

Comprar:
- Sapólio
- Vassoura
- Arroz
- Carne
- Sabonete
- Leite
- Biscoito
- Macarrão
- Café
- Guardanapo

- Amaciante
12 palavras

_ Incrível como está chovendo hoje, não?
6 palavras

_ Quer casar comigo?
3 palavras

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Questão de organização

Eu tenho uma babá há 12 anos. Na verdade, a babá não é minha; é das crianças, mas mais que uma babá, trata-se de uma profissional multitarefa que faz absolutamente tudo em casa, inclusive cuidar das crianças. Nossa relação é tão estável, que já dura mais que o meu casamento. É claro que como eu todas relações longas, a gente se acostuma com algumas coisas e com outras não. Aprendi, por exemplo, que ela é incapaz de aprender a arrumar os talheres na mesa. Quer dizer, ela até põe os danados lá, mas erra a posição em 100% das vezes. É incrível. Um dia, comprei descansos de faca, pensando que facilitaria. E ensinei:

_ Ó, você coloca o descanso de faca aqui, tá vendo? Do lado da mão que você usa o anel. Na mão que não tem relógio, tá?
_ Tà, sim senhora.

Ela até acerta a posição do descanso de faca. Mas coloca o garfo sobre o descanso e a faca sozinha, do outro lado. Paciência...

Outra coisa que ela parece incapaz de aprender é a arrumar os livros na estante. Nem são tantos livros assim e a arrumação é bastante eventual, mas quando acontece, eu levo algumas semanas até conseguir restituir a ordem. O fato é que não conseguimos entrar em um acordo quanto à forma mais racional de arrumar. Eu gosto de manter meus livros ordenados por autor e por assunto. É uma coisa minha. Assim, todos os Gabriel García Marques estão juntos, assim como todos os de receita, todas as biografias, todos os romances açucarados e por aí vai.

A babá, por outro lado, acha que legal mesmo é arrumar os livros por ordem de tamanho. Aí, eu chego em casa e encontro aquela escadinha em degradê, tudo absolutamente fora de ordem. Da minha ordem.

_ Babá, assim não é possível! Desse jeito eu não acho nada!
_ Ah, Don’Ana, mas eu arrumei tudo tão bem arrumadinho... antes é que estava uma bagunça.
_ Eu sei, eu sei. É que antes, o que parecia uma bagunça era o jeito que eu conseguia achar as coisas entendeu?
_ Entendi não. A senhora é esquisita...

De tanto pedir a ela que não arrumasse os livros por tamanho, ela entendeu. Mas precisava pôr alguma ordem naquilo. Algo que fizesse sentido para ela. Em um dia particularmente inspirado, se superou: arrumou tudo por ordem de cor!

_ Don’Ana, olha só! Não ficou lindo?
_ O que é isso, pelamordedeus, criatura?
_ Eu arrumei os livros da senhora! Os tamanhos estão todos bagunçados, mas pelo menos ficou mais melhorziinho, né?
_ Nãããããooo!
_ Mas Don’Ana, vai ficar muito mais fácil pra senhora achar.

De fato. Agora, eu só preciso lembrar da cor da lombada pra poder achar o livro. Ficou mais ou menor assim: um Borges, um de biscoitos, um Fernando Pessoa, um de Segunda Guerra, todos verdes, uma beleza.

Melhor assim. Até porque, eu tinha uma dificuldade danada pra lembrar se o Jorge Amado era mais alto ou mais baixo que o Guia da França!

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Ordem

Problemas, peguem uma senha.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Uma idéia, duas versões

Véspera do Dia dos Namorados e o meu, que além de dedicadíssimo é criativo, me manda por e-mail um texto lindo de morrer. Na verdade, mandou vários, mas esse marcou. Resolvi publicar a versão dele e a minha, com idéias e desejos para o dia de hoje.

Ele disse:

Mandar flores, gravar um monte das nossas músicas favoritas, comprar uma bela roupa ou sapato, enviar um telegrama fonado, ou mesmo um daqueles ao vivo, com uma performance divertida. Ou, é claro, um novo celular, com capacidade de armazenar todas as mensagens apaixonadas que gosto de enviar? Um iPod vídeo, para poder gravar nossos filmes favoritos e que toque mp3, mp10 e até mp100? Um perfume novo, para selar a data e me fazer ficar perpetuando o seu cheiro ao meu lado?

Mais original? Bem que eu poderia tentar arrendar a Ofner, ou mesmo tentar uma franquia da Le Lis Blanc, ambos por um dia, é claro

Mais radical? Saltar do edifício Itália, com um pára-quedas que abriria com seu nome. Mais perigoso ainda? Fazer um body-jump na Paulista. Em ambas as situações, fatalmente eu seria preso em seguida e teria a enorme satisfação, pioneirismo e prazer, em sair na mídia inteira por ter cometido o enorme delito em ter-me declarado de uma forma menos convencional.....rs

Para gastar um pouco mais, te daria em mãos um voucher para Paris e teríamos que fazer o sacrifício de ficar por um mês tomando vinhos e comendo croques nacionais.

Também, gosto e respiro música, você bem sabe. Pensei em importar do México uns mariachis, ou mesmo dar uma de músico e fazer uma serenata para você debaixo de sua janela. Deixei isto de lado rapidamente, sob o risco de tomar um vaso na cabeça advindo da janela do ogro, seu nobre vizinho-porco-mal-educado-e-fedido, pois fiquei receoso em não poder passar com você a noite mais romântica dos últimos tempos.

De forma mais realista, pensei também encomendar uma faixa de rua, com letras garrafais. Isto é também uma excelente idéia para uma declaração, mas esses pintores-de-rua sumiram, com receio da multa nestes tempos da cidade-limpa do prefeito de São Paulo.

Ou, uma jóia... hummm... Tentador...

Huh, que viagem, infindável.

Você merece tudo isto, e muito mais. Mas, de uma forma ou de outra ainda prefiro fazer uma coletânea de atos e sensações, simples ou nem tanto, mas sempre contínuos, que possam oferecer no dia-a-dia e de forma contínua, sensações diversas e infindáveis de felicidade plena.

Bem, a imaginação é fértil. Vou até ali, pegar mais inspiração e já volto, a tempo de estarmos juntos amanhã. E sempre.

Ela disse:

Uma coisa que pisque, brilhe ou acenda,
Um disco impossível, esgotado, uma lenda?

Um presente exótico, um passeio de balão...
Ou mais ainda: uma viagem pro Sudão?

Algo que faça você se lembrar de mim todo dia,
Ou uma engenhoca da mais alta tecnologia?

Um novo estoque de controles remotos
Um HD gigante para manter suas fotos?

Um envelope contendo duas passagens
A promessa de te acordar sempre com massagens?

Uma novidade para a cozinha
Outra foto sua, ou nossa, ou minha?

Todas as músicas (boas) do mundo
Seus sorvetes da La Basque num saco sem fundo?

Trazer Buenos Aires para a esquina
Muitos vales banhos a dois na sua piscina?

Um fim de semana sem fim.
Fechar um cinema pra você e pra mim?

Um helicóptero, um motorista...
Uma cidade sem carros à vista?

A chance de pilotar um avião, sem brevê.
Um livro, escrito por mim e dedicado a você?

Uma semana na praia, com direito a luau
Uma quinzena de férias, em Portugal?

Mais uma concha de sorvete para a sua coleção
Seus DVDs preferidos, sempre ao alcance da mão?

Alguém para pregar todos os botões de camisa.
Um dia sem limites no seu cartão Visa?

Encher sua casa de essência de lavanda
Um passe-livre para curtir a preguiça na varanda?

Um jantar romântico, só pra nós dois
A promessa de muitas outras noites depois?

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Ah... l'amour

Edith Piaf e Théo Sarapo. Presente "multimood" para quem está e para quem não está no clima.

Love for Sale

Hoje, pela manhã, estavam dizendo no rádio que o amor é um santo remédio. Que pessoas apaixonadas sofrem menos com problemas cardíacos, de impotência, depressão, alguns tipos de câncer e que até certos sintomas de Alzheimer são atenuados. Para explicar tudo isso, a ciência faz uso de múltiplas teorias que detalham o aumento na produção de endorfinas dos corações enamorados e outras coisas do gênero.

Na seqüência, diziam que as compras pela Internet para o Dia dos Namorados aumentaram exponencialmente este ano e já estão se aproximando, em volume, do Dia das Mães. Os motivos para isso são a economia estável, a desvalorização do dólar, as múltiplas formas de pagamento e a ligeira melhora na qualidade de vida das classes menos favorecidas.

No final do bloco, o locutor sugeria ao ouvinte que participasse de um programa específico e que fizesse um texto sobre uma música que o marcou, romanticamente. O melhor texto será premiado com um fim de semana em uma cidade serrana, com tudo pago.

E já que é semana do Dia dos Namorados, tudo é motivo para falar do amor. Semanas do Clímax nos canais de TV a cabo, maratonas de romances com finais felizes, ofertas de compras “casadas” em supermercados, promoções, corações aos milhares estampados em todas as vitrines dos shoppings, enxurradas de e-mails abarrotando nossas caixas postais, tentando nos convencer a comprar o celular X, o tênis Y ou a câmera Z... uma cesta de café da manhã, talvez... ou um passeio de helicóptero, ou até de balão, para os menos convencionais. Quem sabe alugar uma limousine para passear pela cidade, ou comprar uma diária de hotel com pacote que dá direito a taças de champanhe, pétalas de rosa sobre a cama, trufas e um café da manhã (que deverá ser tomado às pressas porque na quarta-feira, a data romântica será passado)? Tem de tudo. Programações especiais nas rádios, nichos temáticos em livrarias com dezenas de livros sobre “Os 100 Mais Célebres Casais de Todos os Tempos”, “Os 250 Beijos Mais Célebres”, “1000 Formas de Dizer Eu Te Amo”. Apaixonado ou não, fica difícil escapar do clima.

Eu, felizmente, tenho um amor que enche minha vida de prazer, ilumina meus olhos, colore meu rosto e ocupa meus pensamentos. É um amor-perfeito? Nem sempre, mas a gente sabe que é para sempre. É claro que há brigas, desentendimentos, implicâncias (implicante, eu?!), mas tudo para melhorar. Nesse fim de semana, tivemos a chance de admirar um casal com mais de quarenta anos de casado e havia tanto amor neles, tanta atenção e carinho, que ficamos emocionados. Será que a gente consegue chegar a isso um dia? Velhinhos e apaixonados? Juntos há uma vida e mantendo aquele brilho nos olhos que a gente só vê em uniões feitas no céu? Não, sei, mas ele é teimoso, eu também e a gente vai tentar com seriedade.

O fato é que estamos entrando em nosso terceiro ano de união e este, precisamente amanhã, será nosso primeiro Dia dos Namorados. Isso aconteceu porque em 2005 ainda não estávamos juntos nessa época e em 2006, eu estava fora, viajando. Este vai ser o nosso ano e eu, como boa romântica compulsiva, estou tomando todas aquelas Providências Simples de Grande Efeito Moral que deixarão os não apaixonados com hiperglicemia. Depois eu conto, para não estragar a surpresa.

É comercial, é jogada de marketing? Pode até ser, mas quando a gente está apaixonado – como eu estou –, é tão bom!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Cobras e jacarés

Eram um casal normal, com hábitos normais e gostos como há tantos por aí. Durante a semana, faziam aquilo tudo que casais sem filhos fazem e nos finais de semana, idem. Seriam pessoas corriqueiras não fosse por uma peculiaridade: ele era sonânbulo. Não apenas do tipo que fala dormindo, mas daqueles que levantam e saem andando. Nos primeiros tempos de casamento ela, assombrada pelas lendas de que não se deve acordar um sonâmbulo, limitava-se a segui-lo pela casa quando ele levantava, apenas para garantir que nada de mal lhe acontecesse. Com o tempo, foi perdendo o medo – das lendas e dele – e, em nome da qualidade do sono – dela – acordava sempre que sentia que ele ia levantar e perguntava:

_ EI! Cê tá acordado?
_ Tô, mulher. Vou ao banheiro.
_ Fazer o quê?
_ Que tipo de pergunta é essa?
_ Nada. Só estou checando se você está mesmo acordado ou não.
_ Tô. Vai dormir.

Ela virava para o lado e dormia. Um dia, ela acordou sendo sufocada pelo travesseiro.

_ Aaaaaiiiii! Socooorro! O que é isso, homem?
_ Hummm... hein?
_ Você enlouqueceu, é? Está tentando me matar?
_ Nossa! Desculpa. É que eu estava sonhando que tinha uma cobra gigante aqui e eu tinha que matar.
_ Sufocada?! Você ia sufocar a cobra, criatura?
_ Não; quer dizer, sei lá. Eu estava dormindo, oras!
_ Sei... e eu, se não acordo a tempo, ia acordar só no outro mundo, né?

Ela ficou desconfiada. Todo mundo sabia que o marido era sonâmbulo. Seria a desculpa perfeita para um assassinato. No tribunal, o sonambulismo serviria como atenuante e ele acabaria se safando. Estaria sendo traída? Seria prudente contratar um investigador particular? Melhor não. No resto das coisas eles se davam tão bem, que não era o caso de criar caso. Ficaria atenta, apenas.

Ele tinha uma característica interessante: não podia ver filme com cobra ou jacaré na televisão, que ficava impressionado e sonambulava na certa. Certa noite, ela estava envolvida num projeto e ele ficou assistindo Animal Planet no quarto. Adormeceu durante um especial sobre os crocodilos de Everglades, na Flórida. Aqueles, comeram o que restou dos passageiros de um famoso desastre aéreo, alguns anos atrás.

Lá pelas tantas, ele se levantou. “Ei, você vai aonde?” Silêncio. Ela saltou da cama e foi atrás. Seguiu-o pelo apartamento escuro, desceu as escadas para a sala e encontrou-o em pé, em cima de uma banqueta de bar, com uma vassoura nas mãos.

_ Homem, você enlouqueceu? Desce daí!
_ O jacaré! Cuidado com o jacaré _ respondeu ele, com os olhos vidrados de medo.

Ela, que estava acordada, tentou puxá-lo pela razão:

_ Que jacaré, homem? Não tem jacaré em Porto Alegre! E mesmo que tivesse, estamos no sétimo andar. Jacaré não sobe escada e nem alcança botão de elevador.
_ Sai! Cuidado! Ele vai te pegar!

Ele brandiu a vassoura e ela se esquivou. Salvou-se por pouco. Da vassourada, não do jacaré. Furiosa e com o coração aos saltos, resolveu acabar com aquilo de uma vez por todas. Partiu para cima do marido e agarrou-o pelas pernas. Ele se debateu.

_ Ele me pegou! Ele me pegou!
_ Não pegou, seu doido! Sou eu, sua mulher! _ Ela segurou com mais força.
_ Pegou! Pegou! Vai me morder! Me larga! Me larga!

Ela usou toda a força que tinha e, no desespero, começou a chorar. O ruído acordou-o. Ele baixou os olhos e, confuso, a viu.

_ O que você está fazendo aqui?
_ Eu? Eu???!!! Estou segurando você, caramba!
_ Me segurando por quê?
_ Como assim, por quê? Por causa dos jacarés, oras! E pra você não me matar com essa vassoura!
_ Mulher, eu não vou matar você. Além disso, a gente está em casa e em Porto Alegre não tem jacaré...

terça-feira, 5 de junho de 2007

Agonia matutina

Antes mesmo de começar, pressinto que a polêmica será inevitável porque, assim como nas torcidas de futebol, haverá defensores fiéis e empedernidos do ponto de vista contrário ao meu.

Mas vamos em frente: eu detesto rádio-relógio. Só tive um na vida que, aliás, nem era meu. Era do meu ex-marido, mas eu quebrei contra a parede numa manhã fria de sábado, depois que o desgraçado tocou pela terceira vez no intervalo de vinte minutos (o desgraçado do relógio, é bom que se entenda).

Como eu não tenho muito tempo para dormir, procuro desfrutar das minhas horas o mais intensamente possível. Isso significa já encostar no travesseiro ressonando e manter-me assim até o último segundo possível para me arrumar na velocidade da luz, engolir alguma coisa a caminho do elevador e sair para deixar minha filha na escola. Com o passar dos anos, fui adquirindo prática e hoje consigo fazer tudo em cerca de meia hora. É verdade que às vezes saio com meias de cores diferentes ou sem batom, mas nada que não dê pra corrigir ou disfarçar.

Sendo como sou, é compreensível que pessoas que deixam o despertador com o “snooze” acionado sejam um mistério insondável para mim. Não consigo entender como alguém em sã consciência, opta por acordar vinte minutos ou meia hora mais cedo, só para saber que ainda tem meia hora para dormir, em blocos fixos de dez minutos. Por que, em nome de Deus, essa gente não fica dormindo de uma vez?

Mas fica pior: há aqueles que, com medo de não acordar apenas com o alarme, também programam o troço para ligar o rádio no volume máximo JUNTO com o alarme. Meu ex-marido era assim. Não é de surpreender que a gente tenha se separado. Todos os dias eu acordava sobressaltada, com taquicardia, como deviam acordar os ingleses sob os bombardeios da Segunda Guerra Mundial.

_ Socorro! Socorro! São os alemães! Eles estão atacando de novo! Vamos pra baixo da cama!
_ Calma, Ana. É só o despertador.

Não tinha mesmo como dar certo. Fico me perguntando se um despertador de freqüência, que começa com um pi-pi, pi-pi, passa para um pi-pi-pi, pi-pi-pi, evolui para um pi-pi-pi-piii, pi-pi-pi-piii e termina com um tacape na sua cabeça não é uma coisa mais civilizada. Pelo menos, dá tempo da gente se acostumar com a idéia de acordar, sem correr o risco de morrer do coração. Tudo isso, aos quarenta e cinco do segundo tempo, naturalmente.

With a love like that...

... I know I should be glad!

Incrível como o amor se manifesta nos momentos mais inesperados,
das maneiras mais simples. Incrível o efeito moral que isso produz.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Causa e conseqüência

Sem liberdade não existe espontaneidade.
Sem espontaneidade não existe criação.
Pena...

Coisa de gente amphtyga

Esse negócio de dizer que “no meu tempo era melhor” me dá nos nervos. Coisa de gente saudosista, que chupa drops de naftalina no café da manhã e se recusa a curtir tudo de bom que a gente tem hoje. Bom era quando não tinha DVD, nem videocassete, nem TV, nem penicilina...!

Mas vendo as “festinhas” de hoje em dia, preciso confessar que sinto uma certa saudade. Outro dia mesmo, ouvindo uma conversa na mesa ao lado da lanchonete, uma menina contava para a mãe sobre a festa que tinha ido. A menina era aquilo mesmo, que todo mundo conhece: comprida, magrela, cabelão liso, jogado para a frente, brincão na orelha, camiseta curtíssima, calça baixíssima e sandália rasteira. Enquanto conversavam, a menina ia contando:

_ Ai, mãe, precisa ver; o maior mico! O cara da iluminação tinha chegado e o buffet também, mas o DJ atrasou e aí, o pessoal começou a chegar e minha amiga teve que pôr música de CD! De CD, mãe, já pensou?
_ Ué, filha. O que é que tem?
_ Mãe, pelamor! Não pode, né?
_ E por que não?
_ Porque não, né, mãe? Festa TEM que ter pelo menos UM DJ!
_ Pelo menos um? Tem festa que tem mais?
_ Claro, né, mãe?! Porque aí eles vão se revezando!
_ Credo, filha, que exagero!
_ Comassim exagero, mãe? Você perdeu a noção?

Fiquei ali, ouvindo a conversa e achando que quem tinha perdido a noção era a menina. Será que precisa mesmo de PELO MENOS UM DJ em uma festa de pré-adolescentes de 14 anos de idade? Não me parece. E que mal pode haver em ouvir música de CD? Quase perguntei, mas fiquei com medo da menina me fuzilar, pensando em "que gente mais amphtyga freqüenta essa lanchonete!” E quanto deve custar uma superprodução dessas? Um milhão de dólares em alegorias & adereços, pra pobre da aniversariante pagar “o maior mico” porque o DJ atrasou?

Lembrei que “no meu tempo” era bem diferente. Diferente e bom, muito bom. Uma das minhas festas mais “fervidas” aconteceu no quarto em que dormia a minha avó, evidentemente que sem a minha avó dentro.

Para adaptar o espaço doméstico ao “bailinho” que eu queria dar, minha mãe tirou quase todos os móveis, colocou uma lâmpada azul de 40W no lugar da lâmpada original (eu queria luz negra, mas ou a gente não achou, ou achou e era muito caro. Ficou luz azul mesmo), fez uns 50 ou 100 cachorros-quentes pequenininhos e arrumou tudo numa cesta bem grande, dentro do armário, para minimizar os riscos de acidentes. Por “tudo”, entenda-se: os sanduíches, a mostarda, o catchup (naquele tempo, a gente não tinha o hábito de pôr maionese, molho vinagrete, purê de batata, batata-palha, chucrute, carne moída e chantilly no hot dog. E nem tinha salsicha de chester, de pernil, de frango light, de avestruz... Salsicha era salsicha e pronto. No máximo, tinha grande e pequena.) e a Coca-Cola (da comum mesmo, porque não existia diet) em copinhos plásticos. Tem Guaraná? Não. Tem Coca, quer? Tem soda de grapefruit? Tem Diet Cristal Pepsi? Tem Cherry Coke? Não tinha nada disso e nem por isso a gente era menos feliz.

Para ouvir, os discos (dis-cos, longuepleis) do Grease, dos Embalos de Sábado à Noite, de Dancin’Days, que a gente tocava até furar e depois tocava de novo. Tudo reproduzido em uma vitrola Philips azul com UMA caixa de som. Ah, e tinha que virar o disco. Quando chegava essa hora, parava a música, todo mundo parava de dançar e ficava esperando. Aí, o dono da festa ou um fiel escudeiro fazia o processo com bastante cuidado, colocava a agulha no ponto, ouvia aquele chiadinho habitual e recomeçava a dançar como se nada tivesse acontecido. O ritual se repetia a cada 15 ou 20 minutos, porque esse era o tempo que durava um lado de longueplei e o mundo não acabava.

Foi boa, aquela festa. Aliás, todas as daquela época eram ótimas. Quanto menos espaço, mais a gente se divertia. Meninos de um lado, meninas do outro, até a coisa começar a engrenar. Dançávamos até o suor pingar no chão. E esperávamos ansiosamente pela música lenta. Quando ela começava, dez segundos protocolares de frio na espinha, meninos reunindo toda a coragem do mundo para tirar uma menina para dançar e quando o universo conspirava a favor – ou seja, o menino criava coragem antes da música acabar e a menina aceitava o convite – era bom demais. Nada se comparava à mistura de frio com calor, à sensação de sentir pelas primeiras vezes um corpo do sexo oposto bem pertinho, aos movimentos ritmados... é evidente que mal acabava a música e a gente se afastava como se tivesse levado um choque. Suados, corados e loucamente contentes.

Não tinha DJ, não tinha buffet e não tinha iluminação. O único custo maior era o de repintar o ambiente depois da festa, por causa das marcas de pés na parede. Ah, e a gente corria muito menos risco de “pagar mico”. Vai dizer que não era bom?

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Overdose

Nasceu e, de tão pequeno, foi logo enrolado num punhado de jornal para se aquecer. Tomou gosto pelas palavras desde cedo.

Demorou a andar. Quando fez sete anos, o padrinho enterrou-o nas cinzas da fogueira de São João. Funcionou, mas ficou fraco das pernas, o que era bom, porque o pai judiava menos no canavial. Quem judiava mais era o sol. Em legítima defesa, procurava qualquer coisa que fizesse sombra e espichava o quanto podia o almoço, entretido com a folha de jornal que a mãe usava para embrulhar a comida. Admirava aquelas letras enfileiradas, acabando sempre no lugar certo, numa ordem que sua vida não tinha.

Aprendeu a ler sozinho, na venda, comparando os nomes das coisas que conhecia com os escritos embaixo delas. Dali a desenhar o nome, foi um pulo.

Impressionava. Compensava a fraqueza das pernas com a força das palavras. Vomitava conhecimento. Comia quem queria. Era quase autoridade.

Cresceu e resolveu que, sabido assim, merecia uma chance. Enfiou o que tinha numa trouxa. Na saída, ganhou um par de sapatos ainda bons, embora furados, que forrou com jornal.

Foi pra cidade decidido a ser rei, mas descobriu que sua cultura não era assim, tão grande. Lá, qualquer um lia. Lia e desenhava muito mais que o nome.

Na rua, todos os escritos do mundo. Jornais de dois ou três nomes, diferentes todos os dias. Em vez de achar graça, foi se acabrunhando. As pernas enfraqueceram de novo e parou de andar de vez, intoxicado com tanta informação.

Encontraram o corpo dias depois, o rosto caído num prato de sopa de letrinhas. Morrera engasgado com as próprias palavras.

Apologies

A vida é assim. Às vezes, mesmo sem querer, mesmo sem nem imaginar, a gente provoca dor em alguém.

Geralmente
, isso acontece por uma daquelas conjunções de palavras muito específicas que, se num momento comum não provocam absolutamente nada, quando pegam a outra parte numa hora particularmente sensível, é desastre na certa.

Tanto pior quando acontece com alguém que é importante. Pior ainda quando, por mais que se argumente, e fale, e explique, não há eco do outro lado. Ou melhor, só há eco. O eco das nossas palavras.

Em momentos assim, há que ter humildade para pedir desculpas e voltar atrás porque, mesmo sem entender o motivo de tanta dor, o fato é que ela foi causada, E muito além de tentar justificar, há que se apaziguar o coração. O seu e o do outro.