segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Inícios memoráveis

Meu filho,


Quarta-feira passada foi o primeiro dia de aula seu e da sua irmã e cada um de nós não dormiu por um motivo.


Sua irmã não dormiu de curiosidade. Estava morrendo pra saber se o amigo tinha repetido mesmo; se o bonitinho do colegial olharia pra ela; se haveria alguém novo na classe; se iam gostar da mochila nova; se seria melhor ir de cabelo preso ou solto, com ou sem lápis no olho. Sua irmã já está grande, filho. Já é uma mulherzinha e tem preocupações muito diferentes das suas. Falou até que se conseguisse ver você no recreio, ia te dar um aperto bem forte – dá status ter irmão mais novo, sabe? – mas eu falei pra ela que era melhor não apertar você. Afinal, você também está construindo sua imagem.


Você não dormiu de ansiedade, de curiosidade e de vontade de conhecer a escola nova, a classe nova, a professora nova e os amigos novos. Quis dormir já com o uniforme novo, mas eu não deixei. Talvez devesse ter deixado, mas mães são mesmo assim. Quando você tiver seus filhos, deixe que eles durmam de uniforme no primeiro dia de aula, tá? Não tem mal algum nisso.


Eu não dormi, pensando no mundo imenso que começa a se abrir para vocês. Você, grandão, escola nova e aulas de verdade. Sua irmã, no último ano do ginásio, já começando a pensar no que vai querer ser para o resto da vida. Por enquanto ela quer ser escritora e quem sou eu para desencorajar? Só precisamos fazê-la entender  muito direitinho que é raríssimo um escritor viver de literatura no Brasil. Talvez se ela fizer jornalismo... mas ainda temos tempo pra isso.


Saímos numa hora boa e fomos de mãos dadas, com você puxando sua mochila nova de rodinhas, cheia de material novo dentro. Me ofereci para ajudá-lo, mas você não quis de jeito nenhum. Fez questão de puxar aquela mochila pesaaada ladeira acima e calçada abaixo. Como era seu primeiro dia, você desviou das poças e até pediu para atravessarmos para não passar com a mochila nova num monte de areia úmida. Sei que isso vai durar pouco, filho, e que talvez essa mochila nova não dure nem até o meio do ano. Ainda bem que compramos um modelo barato!


Chegamos à escola e você estava lindo, cheiroso e penteado como um menino que a mãe escovou antes de sair (e escovei mesmo!). Fomos para a fila da sua classe e você nem precisou segurar na minha perna. Até porque, você já está grande demais pra isso. Segurou, isso sim, na minha mão e eu apertei a sua de volta com bastante força, pra você entender que eu estava ali, de verdade, com você. De repente, alguém que não era sua professora veio dar as boas vindas e tratou logo de apresentar você a um novo amigo, que também estava com os pais. Você, sociável que só, começou a puxar papo com o menino novo e nem reparou que ele estava de camiseta do Pateta. Que espécie de mãe manda um filho para a escola, no primeiro dia de aula, com uma camiseta do Pateta? Será que ela não sabe que um ato desses pode arrasar a fama do seu amigo até o fim do primário? Ainda bem que você estava de uniforme completo. Com a cueca d’Os Incríveis, é verdade, mas isso fica só entre nós.


Dali a pouco, o sinal tocou e você subiu a escada na maior confiança. Fiquei ali, esperando você sumir degraus acima. Lembrei do seu primeiro dia no mini maternal, ainda de fraldas; do primeiro dia da sua irmã na escola grande e, agora, do seu novo início. Senti um orgulho imenso de ter estado com vocês em cada um desses dias, segurando as mãozinhas com força. Aí, me deu um aperto tão grande no peito, que foi difícil não chorar. Tá bom, eu deixei escorrer uma lagriminha, mas como estava de óculos escuros, ninguém viu.


Vai com Deus, meu filho. Faça seu caminho e, se tiver alguma dúvida, siga os lindos passos da sua irmã, que é um modelo e tanto pra você e para mim. Amo vocês dois. Loucamente.


Mamãe

10 comentários:

Zagaia disse...

Você deixou cair uma lágrima? eu deixei cair várias... Pra variar, lindo texto! Bjos e boa sorte pra vocês todos..

Anônimo disse...

preciso comentar???

vc até me emprestou o lencinho.

Anônimo disse...

Bb – fosse um conto, eu contaria pra todo mundo.
Sendo uma estória, me delicio em ler, e em me emocionar, sempre.
Mas, como de alguma forma vivo de perto parte da história dos seus filhos e sua, me dou mais ainda conta do quanto você é especial, para eles, e para mim.
Luv ya,
Me

Lala disse...

É disso que é feita a vida! Voila!
Muita muita sorte pros três!

Cláudia disse...

Ana
hoje foi primeiro dia de aula para nossos filhos, cada um no seu quadrado.
E nós nos emocionamos igual, pelas mesmas razões... e desejamos a mesma coisa para nossos filhotes.
Mãe é mesmo tudo a mesma coisa!Ainda bem!
beijo

Anônimo disse...

Lindo texto.

Passei por isto hoje.

Posso não ter a capacidade de expressar tão bem como você, mas senti alg muito parecido.

Estou feliz por você também.

MH disse...

liiiiiiindo!!!!

Anônimo disse...

owwwmmmm!!!!! Owwmmmmmm!!!!! Owmmmm!!!

Te amo mamãe. Loucamente.

E eu aceito ser jornalista, a Folha é legal.. eu ja fui la, lembra? Mas desde que eu posso fazer ficção!

beijos

Codinome Beija-Flor disse...

Coisa mais linda tuso que escreveu aqui.
E nem deu tempo para eu colocar meus óculos escuros, antes de rolarem as lágrimas.
Ah! deu saudade do primeio dia da filha.
Bjos

IsABela araÚjo siLVA disse...

passei por aqui naquele fuça-fuça normal entre um blog e outro. e caí justo neste post... e chorei baixinho aqui na produtora, sorte que eu estava sozinha, nem precisava ser baixinho... enfim, não sou mãe ainda, infelizmente, mas sou uma criança grande, perdida no cerrado e longe do aperto de mão da minha super-mãe que nem sonha essa minha vontade de ser do tamanho que a gente quiser... rsrs. adorei seu blog.