segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Psicologia automobilística

Depois ainda tem gente que tem coragem de dizer que carro não tem sentimentos. Eu mesma comecei a conversar com o meu de uns tempos pra cá. Ué, qual é o problema? Não há quem converse com plantas? É que ele anda sensível, principalmente com a aproximação do fim do ano. Quem é leitor antigo, sabe que uns dois anos atrás, eu vivi uma verdadeira epopéia automobilística, a ponto de passar dias com meu carro desaparecido no mês de dezembro e de vivenciar o caos de estar, em pleno dia 23, antevéspera do Natal, subitamente sem ré. Mas quem precisa de ré, não é mesmo? Todo mundo diz que é pra frente que se anda...

Enfim, o carro – sim, é o mesmo carro. O mesmo bólido prateado que quase me levou à falência e à loucura há algum tempo – tem demonstrado já há algum tempo, persistentes sinais de carência. Para tentar contornar o problema, já gastei com ele em oficina mais do que certamente gastarei com todos os meus presentes de Natal juntos. É até bom, porque nessa época do ano (com mudança, décimo terceiro da babá, presentes, festas, ceias, amigos secretos aos montes), sempre sobra uma grana que a gente não sabe em que gastar. É um alívio poder dar um destino nobre a um dinheiro que está lá, paradão, sobrando na conta... Só que não adiantou.

Nos últimos trinta dias, passei cerca de dez sem carro. Felizmente, tenho uma alma caridosa na família que não tem usado seu próprio veículo e me cedeu, para uso temporário, sem qualquer custo.

Quando finalmente consegui recuperar meu bólido, após dias de empenho, negociações e ameaças entre o Sr. Ana Téjo e o mecânico, andei alguns dias com ele, até ficar três vezes na rua. No mesmo dia.

Ontem, depois de uma crise mais do que justificável de choro convulsivo, liguei para meu corretor de seguros, que me aconselhou a pedir o carro-reserva da seguradora.

_ Alô, seguradora.
_ Alô, don’Ana.
_ Olha, eu queria saber o procedimento para solicitar o carro-reserva.
_ Pois não. O que aconteceu?

Contei resumidamente e disse que teria que deixar o carro no mecânico – de novo – a partir da primeira hora da segunda-feira. A seguradora boazinha me dá direito a carro-reserva depois de 24 horas que o meu carro estiver na oficina. Ou seja, inevitável ficar um dia a pé, mas é melhor do que nada.

_ Onde a sra. está nesse momento?
_ Estou na casa do sr. Ana Téjo, que fica estrategicamente localizada exatamente na frente da oficina.
_ E a sra. quer estar solicitando o guincho?
_ Eu não vejo necessidade. Primeiro, porque hoje é domingo e a oficina está fechada. Segundo, porque o carro está em segurança, na garagem. Terceiro, porque eu mesma posso levar o carro à oficina amanhã, pela manhã.
_ Mas se a sra. não estiver pedindo o guincho, nós não temos como estar concedendo o carro-reserva.
_ Fofa, entenda uma coisa: não faz o menor sentido vocês mandarem um guincho pra cá, para atravessar a rua com o meu carro.
_ Mas o carro está andando?
_ Está, mas está em risco. Meu mecânico me orientou expressamente a não andar com ele, mas isso não significa que eu não possa sair da garagem e cruzar a rua e parar na oficina, entendeu?
_ Nesse caso, a sra. não tem direito ao carro-reserva.
_ Comassim, pelamor?
_ Porque o carro-reserva só é concedido se o carro chegar guinchado à oficina.
_ Sei. Deixa eu entender uma coisa: se eu mesma levar o carro à oficina amanhã cedo e economizar o guincho para VOCÊS, não tenho direito ao carro-reserva. Se eu mandar chamar o guincho e o guincho atravessar a rua com o carro, eu tenho direito, é isso?

A gentil atendente me pediu o endereço onde eu estava e o da oficina. Dei. Depois de alguns minutos de consulta ao Guia de Ruas, ao GPS e de muito raciocínio matemático, ela disse:

_ Mas, sra.! A sra. está a apenas sete números de distância da oficina. É praticamente na frente.
_ Eu sei, criatura! Foi a primeira coisa que eu disse. Estou vendo a oficina daqui, da janela. Se não estivesse fechada PORQUE HOJE É DOMINGO, eu poderia até dar tchauzinho pro mecânico, que já virou meu brother.
_ Mas a essa distância não faz sentido chamar o guincho!
_ É o que eu estou dizendo, lembra?
_ Então, nós não vamos estar podendo guinchar seu carro e a sra. não terá direito ao carro-reserva.
_ Sei. Deixa eu só entender outra coisa: se na segunda pela manhã, eu me afastar 3 ou 4 quadras com o carro, ligar para o guincho e vocês guincharem o carro até a oficina, aí eu tenho direito ao carro-reserva?
_ Sim, senhora.
_ Então tá. Muito obrigada. Brilhante o sistema de vocês.

10 comentários:

Renata Marques disse...

Não é pra matar um ser desses? Fala sério! Passei por situação muito parecida, dia desses. No meio da Marginal Tietê, tive um crise forte de síndrome do pânico. Como eu não tinha o remédio de colocar embaixo da língua ali comigo, e a crise não passava, liguei para seguradora querendo usar o serviço de motorista que - dizem - foi criado para dirigir para o segurado que estiver passando mal em trânsito. Fiquei bege quando a atendente me disse que eu só teria direito a isso se topasse que o tal motorista me levasse pro hospital! Expliquei que só precisava do meu remédio, que estava em casa, pois tenho uma doença crônica e sei como tratar, mas não teve jeito. Ainda falei pra ela: Veja que coisa sem sentido você está me pedindo, pois se fosse pra eu ir pro hospital mesmo, chamaria uma ambulância, e não um motorista particular da seguradora.

Eu mereço, hein? Nós merecemos.

UrbAnna disse...

Afe! Muito brilhante mesmo!
Que bom te ler de novo.
Desejo muito boa sorte aí com seu bólido!
Beijo

Cláudia disse...

Nao estresse mais. Leva o carro duas ruas pra cima e manda eles buscarem, assim ficarão felicíssimos!
Isso é coisa de fazer doido.
beijo

Ana disse...

Aff pelamor hein, haja estupidez nessas empresas...
faz isso mesmo, anda com o carro umas duas ruas pra cima e pede o guincho!

Rubi disse...

Que seguradora de m...Mude de carro e de seguradora!

Anônimo disse...

Ana,
Já tentei a tática Mcfly, batendo a testa no volante. Nada. Talvez, o melhor seja bater a testa no nariz da operadora de telemarketing. Vou tentar.

Anônimo disse...

Não deixe o carro a duas ruas, deixe a umas vinte ruas (se chegar lá) que aí o crime compensa...
Carro velho...e a casa nova?
Bjs. Rosana.

Anônimo disse...

Hahahahahhahahahahahahahahaha...
Inacreditável, né?
Mas essas coisas "brilhantes" são tão comuns... =/

Patri disse...

Meu nível de raiva e stress subiram nesse momento, terei de sair da agência agora.
hehehe
beijo
Pati "Campo"

Ana disse...

por isso que eu sou alergica a artendentes de telemarketing...Choro, sofro por antecipação só de ter que pensar em ligar para eles...