terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O que são seis trogloditas dentro de dois carros?

Saí de manhã no horário normal para o trabalho. O ritmo ainda é diferente; tem muita gente de férias e quem já voltou – ou nem saiu – ainda está se acostumando com a ideia do novo ano. Subi a rampa da garagem e peguei na pista da direita para contornar o quarteirão habitual. Excepcionalmente sem pressa, prestei atenção no que diziam no rádio, troquei de estação e freei a tempo de não ser gravemente abalroada por uma Blazer branca em disparada, pilotada por quatro chimpanzés de óculos e ternos escuros. Antes mesmo de formular um palavrão à altura da grosseria, uma segunda Blazer – essa, pilotada por apenas dois orangotangos – cruza a minha frente em disparada. Escolta, pensei, só pode ser. Era. Um pouco adiante, já virando a esquina, uma Maserati preta – não aqueles pretos brilhantes, polidos até parecerem um espelho, mas um preto estranho, meio opaco, que me lembrou um daqueles kits de carrinho de montar, quando a gente usa a tinta spray errada. Deve estar na moda; eu é que estou por fora...


Deu vontade de emparelhar com uma Blazer e puxar conversa:

_ Ei, moço, você usa esses óculos escuros com esse tempo horrível porque é mau mesmo ou só pra gente pensar que você é mau?

_ Ei, moço, vocês são gêmeos?

_ Ei, moço, tem uma migalha de pão grudada no seu dente!

Preferi deixar pra lá.


As duas Blazers fecharam mais um carro, cantaram pneu e foram parar atrás do carro chique com uma freada brusca. Só que em São Paulo, mesmo tendo uma Maserati e duas escoltas para sair pela manhã, você é obrigado a dar a volta no quarteirão, como todo mundo. Assim, fui seguindo aquele comboio tenso por mais três ruas, até que tive a chance de parar ao lado do carro chique. É evidente que não vi nada porque quem tem um carro assim, usa Insulfilm com opacidade de 100% e deve pilotar aquele troço com o auxílio de instrumentos, como os pousos na chuva em Congonhas que quase sempre dão certo.


O sinal abriu e eu segui, livre como um rouxinol, no meu velho bólido prateado pelas ruas pouco congestionadas da cidade. Pelo retrovisor, ainda tive a chance de ver o dono do carro opaco mudar e pista, obrigando as duas Blazer a fazerem novas barbaridades para acompanhá-lo. Concluí que não deve ser uma vida boa, não. E se der vontade de passar despercebido por algum lugar, tipo no Mc Donald’s só pra comprar um sundae de chocolate? E se der vontade de emendar uma sessão de cinema na outra ou de dormir na casa do namorado? Deve ser muito chato mesmo ter que dar satisfação da própria vida o tempo todo para pelo menos seis trogloditas. Principalmente se você for grande, e poderoso, e tiver dinheiro suficiente para pagar seis brutamontes, duas Blazer e uma Maserati com pintura que parece que não deu certo. Eu, hein?

5 comentários:

Anônimo disse...

Eu acho legal pintura opaca. hehehe



PS: Não era eu na masserati.

PS2: Também não era eu na Blazer branca. Apesar que uso terno e oculos escuros. hehehe

Ana Téjo disse...

Cassio,
Deve ser lindo. Eu é que não tenho referência.
PS's: Ainda bem.

MH disse...

credo... imagina, o "piloto" devia estar tentando despistar os gêmeos das blazers, pra poder curtir o dia em paz!

Ainda bem MESMO que não sei o que é isso...

Cláudia disse...

ah, isso já aconteceu comigo, com Hebe Camargo saindo do salão e os seguranças num Santana atrás. Pior que ela dirige mal pacas e os caras toda hora ficavam pedindo desculpas pros demais motoristas.
beijo

Ana Téjo disse...

MH,
Não é uma vida que eu inveje.
Nem a do dono do carro, nem a dos escoltas.

Clau,
Pelamordedeus! Imagina o desespero dela pra não borrar o esmalte e nem desmanchar aquele capacete perpétuo. Afff!