quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Simples

Saudade de quando eu era filha em vez de mãe.


Era bom olhar para as férias e neeem ver o final. Enjoar de tanto assistir Festival Jerry Lewis na Sessão da Tarde (e depois Sessão Aventura, e depois Sítio do Pica-pau Amarelo, e depois novela das seis...). Brincar a ponto de não saber mais do quê. E olha que nem existia videocassete, DVD, Wii, mini game, WiFi, iPod... Era bom poder ir dormir mais tarde; tomar Coca-Cola de litro na garrafa de vidro – dava um trabalho dos infernos levar os cascos pra devolver no supermercado, mas a gente nem ligava – comer leite condensado misturado com Nescau sem contar calorias; fazer bolo de tarde e comer ainda quente. Como era bom...


Hoje que eu sou mãe, as férias são multiplataforma e multitarefa. Tem que ser tudo programado, agendado e articulado antecipadamente. É como se o ócio puro e simples tivesse virado pecado. Xi! Parece que tem uma brecha entre a terceira e a quarta semanas de férias! O que a gente pode encaixar? Que tal não encaixar nada? Que tal deixar o acaso se encarregar dos dias e o sono se encarregar das noites? Que tal experimentar um pouco de tédio? E se livrar do peso de ter que se divertir a qualquer custo? Aliás, tem coisa mais enervante que monitor de hotel que passa o dia inteiro cutucando os hóspedes para jogar vôlei, futebol, tênis, fazer aula de hidro, campeonato de truco, de peteca, de biriba? Moço, deixa eu ler meu livro, pelamordedeus. Mas a senhora TEM que se divertir. Mas eu estou me divertindo. Juro por Deus. Larga do meu pé, por caridade...


E parece que a gente vai ficando mais complicado com a idade. E que cada vez precisa de mais coisas; de superproduções mais elaboradas, até atingir o ápice do absurdo lá pelos quarenta ou cinquenta anos para então, com a bendita sabedoria, reaprender a novamente relaxar e a simplificar a vida.


Meu filho de seis anos amarra uma toalha de prato no pescoço e faz capa de super herói; amarra no ombro e faz toga romana; prende na cintura e faz kimono. Aí, prende um cinto na cintura ou nas coxas e usa pra segurar armas de brinquedo que ele monta com pecinhas de plástico. Os almofadões da cama são inimigos de karatê, que ele abate sem dó com golpes muito particulares. Tudo sem sair do próprio quarto. Outro dia, cheguei em casa e tinha um barbante pendendo de um prego lááá no alto da parede, provavelmente resquício de algum antigo morador. O que é isso, filho? Uma corda, mamãe. Pra eu escalar esse vulcão terrível.


É bom quando é simples, né? Que saudade...

5 comentários:

MH disse...

ai que saudades das férias da infância...

queria reaprender a me divertir assim ao invés de me sentir culpada pelo tempo livre! (depois de devorar quase todos os livros acumulados, com medo de pegar o último e ficar definitivamente sem o que fazer!)

beijo

Codinome Beija-Flor disse...

É que no nosso tempo a gene tinha mais segurança pra brincar nas ruas, viver com mais liberdade e tudo era de fato simples.
Pena que nossos pequenos não saberão jamis a vida boa e de liberdade que a gente tinha.
Joga peteca na rua, pular amarelinha, soltar pipa, brinca de casinha, brincar, brincar, brincar.
Bjo

Cláudia disse...

Exato, basta você dizer pra alguém que passou o domingo inteiro sem nem tirar a camisola, sem nem abrir a janela do quarto, só dormitando entre um filme e outro pra este alguém achar que você tá DEPRIMIDA.

Coisa mais preciosa atualmente é poder ficar sem fazer nada.

beijo

Ana Téjo disse...

MH,
Tédio como??? E o sol, e os parentes, e os cafés com os amigos no Melhor Bolo de Chocolate do Mundo?

Beija-flor,
Hoje a gente se defende com os clubes.
Em compensação, a gente não tinha DVD pra ver A Fantástica Fábrica de Chocolate mil vezes, nem iPod, nem Wii...

Ana Téjo disse...

Clau,
E se sair, passear, dançar, jantar, encher a cara e morrer de dar risada, fica com fama de histérica.
Ê, vida!