quinta-feira, 15 de maio de 2008

Mamãe-coruja

Reza a lenda, que toda mãe que se preze, deve admirar incondicionalmente a beleza dos filhos, desde o momento do nascimento. Só que comigo não foi assim.

Antes que a coisa fique preta, devo salientar que, hoje, meus filhos são, efetivamente, lindos. Tão lindos quanto é possível, modéstia à parte.

O problema é que durante a gravidez, passei os nove meses (ou quase), idealizando a aparência deles. Imaginava bebês como a minha irmã havia sido: lindos, imensos, bochechas coradas, totalmente carecas e com olhos azuis da cor do céu. Só que é óbvio que cada bebê é de um jeito e minha filha, apesar da ascendência puramente caucasiana, nasceu com uma farta cabeleira preta e espetada, que mais parecia filha de japonês. Nasceu pequena, magrinha... e peluda! A parte dos pêlos foi a mais chocante. Tinha toda a área das costas, dos ombros até o bumbum recobertos por uma fina camada de pêlos escuros, que a pediatra jurou por Deus que cairiam em alguns meses. De fato. Como se isso não bastasse, a pobrezinha nasceu de parto normal e, consequentemente, toda amassada. Ah, e tinha umas manchas escuras na região da bacia que, diante do meu espanto, a mesma pediatra disse tratarem-se de "manchas mongóis".

_ Comassim??!! _ perguntei, perplexa.
_ Mongóis. Da Mongólia.
_ Mas como essas manchas foram parar aí?
_ Deve ser a ascendência.
_ Comassiiiiim???!!!
_ Você ou seu marido devem ter ascendência Mongol.
_ Não temos!!!
_ Ah, devem ter, sim. Só que vocês não sabem.

Virei para o pai dela, acusadora:
_ Você tem ascendência Mongol? Porque eu, não tenho!
_ Eu, não! _ afirmou ele, aturdido.

Virei-me para a pediatra e declarei:
_ Nós não temos ascendência Mongol!
_ Então... _ disse ela, dando de ombros. _ Eu não sei.
_ Isso sai? _ perguntei, temerosa.
_ Sai _ disse ela. _ Em alguns meses.

Bem, eu sei que sou a mãe sei quem é o pai. Seria possível que minha filhinha tivesse sido trocada na maternidade? Não. Certamente que não. Eu vi quando colocaram a pulseirinha e conferi quando ela veio para o quarto e antes de levá-la para casa.

Tem mais. Quando nasceu, ela quebrou a clavícula. Os médicos disseram que era uma ocorrência comum em partos normais e que podiam enfaixar ou não, porque o osso calcificaria da mesma forma. Perguntei as vantagens e me informaram que enfaixando (por apenas sete dias), era garantido que a calcificação fosse perfeita.
_ Enfaixem!_ disse eu, poderosa.

Quando um bebê quebra a clavícula no nascimento, a imobilização é feita apenas com gaze, prendendo o lado fraturado, com braço e tudo, junto ao peito. Resultado: um braço fica solto e o outro, preso.
Algumas horas depois, fui chamada ao berçário para vê-la. Quase enfartei. Minha filha, saci-pererê de braço, com uma manga do macacãozinho recheada e a outra solta, como se faltasse um braço ali. Eu olhava para ela e pensava: "Deus! Tem alguma coisa errada comigo. Eu TINHA que estar louca de paixão por ela! Tinha que estar achando essa pequena taturana a coisa mais linda do mundo. Mas, como???"

Sozinha, fui algumas vezes ao berçário. Via os outros bebês (alguns lindos, clones perfeitos do bebê dos meus sonhos) e pensava, morta de culpa: "Puxa! Bem que a minha podia ser assim!"

Quando fiquei grávida do meu filho, resolvi não idealizar a imagem dele. "Agora estou mais madura, já vivi a experiência uma vez e VOU amá-lo de qualquer jeito. Venha ele como vier." Grande engano. Ele nasceu de cesárea e eu logo pensei: "dessa vez não vai nascer amassado, será loirinho e, com alguma sorte, terá olhos como os da minha irmã." Só que o coitadinho era feio de doer. Tinha bem menos cabelos que minha filha, todos concentrados na coroa externa da cabeça, como um fradinho careca em miniatura. Também nasceu pequeno, magrinho e tinha um nariz grande como o do pai, ligeiramente adunco. Olhava para ele no quarto e pensava: "parece um velhinho banguela. Que coisinha mais feia da mamãe! Deus me perdoe"

Para corroborar a minha tese de que o bichinho de doer, recebi a visita de um grande amigo, que depois de dar uma espiadinha no berço, disse, franco:
_ Ana, eu adoraria dizer que ele é uma gracinha, mas não vou poder.
_ Tudo bem _ respondi. _ Eu também não acho. Mas ele vai melhorar, se Deus quiser.

Ah, hoje, os dois têm olhos escuros, como jabuticabas. E eu adoro jabuticabas!

9 comentários:

Mulher Solteira disse...

HAHAHAHAHAHAHA!!!!

Saci-pererê de braço é demais!

Eu tb nasci com o nariz completamente torto e o meu pai ficou apavorado. Com o tempo voltou pro lugar e hoje o desvio só é perceptível se visto de baixo!

Vou mandar esse post pras minhas amigas que são mães, elas vão adorar!

Unknown disse...

hduahduashdusahduh É o texto mais realista sobre mamães-corujas-de-filhos-lindos que já li! A maiorida não nasce lindo, e a gente ainda tem que ouvir que são bebês Johnson! Eu mereço!
Olhos de jabuticaba são lindos... expressivos! ;)

UrbAnna disse...

Adorei...
Eu sempre dizia que se meu filho fosse feio quando nascesse eu ia admitir isso e não ficar dizendo que ele é lindo, mas quando minhas sobrinhas nasceram (uma há 3 anos e outra há 15 dias) mesmo sabendo que não eram os bebês mais lindos do mundo eu insisto em dizer que elas são as coias mais fofas que eu já vi! Imagina o meu...
Ah propósito... já soube que é menino!
Beijo
(urb)Anna

MH disse...

Hahahhahaa,finalmente alguma mãe sincera... difícil bebê lindo de nascença, mesmo... a coisa só melhora meses depois. E pense bem: se o bebê já nasce lindo-maravilhoso, não tem como melhorar, portanto só pode perder a graça com o tempo. Triste, né, saber que sua fase mais linda foi essa?
Seus filhos hoje são lindos, encantadores, e felizes. Não podia ser melhor!!

Anônimo disse...

Criança nasce feia mesmo.

Eu sempre achei as meninas feias quando eram bebês.

O legal é quando crescem e ficam lindas por dentro e por fora.

Vejam:
http://br.youtube.com/watch?v=6HOeixvHCxk

MEHC disse...

Ai, Ana, como me revejo nessa história! Minha filha mais velha nasceu meio feiinha e eu disse isso para o médico no momento da chegada dela, que me contradisse de imediato garantindo que era linda!Hoje eu falo vezes sem conta que ela é linda porque ela é mesmo muito linda, mas continuo não sabendo o que me fez achar que ela era feiinha ao nascer. De certo também eu tinha uma imagem de bébé idealizado. Mãe é ser complicado às vezes!

Atriz disse...

ESta sua história de vida me fez recordar que minha mãe hoje conta, sem cerimônia alguma, que quando eu nasci(15 dias adiantada, em meio as fezes- pq nao deu tempo de fazer lavagem - de parto ultra normal, quase na porta do hospital) ela não queria acreditar que eu era filha dela, de tão feia que eu era! kakakaka
Já que minha irmã mais velha era linda.
Hoje ela me acha linda(tô com 30 anos!) rsssss

beijo, adorei seu blog! Gisele

Diane Lorde disse...

Não consigo parar de rir...hahahah
Ainda não sou mãe, mas, ao menos já imagino as agruras que a bendita ansiedade poderá me causar..rsrsr

Anônimo disse...

Adorei o post!!! Comigo e minha filha foi muito parecido!!! Eu e meu marido ficávamos imaginado um bebe loirinho e olhos castanhos claros..... nasceu minha filha com uma cabeleira preta e olhos pretos e muito pelo!!!!! E ainda as tais manchas mongóis.... e nós tivemos a mesma reação que vcs, MANCHAS MONGÓIS?????? Mas como????? não temos decendência de mongóis!!! heheheheheh
Hoje ela está com 5 anos e é muito linda, com olhos grandes e pretinhos, mas a tal mancha mongol ainda está lá... fraquinha, mas está!