terça-feira, 21 de outubro de 2008

Coisa de bicho

Em casa, de vez em quando, a gente vê Animal Planet. Gosto de ver os bichos com você, filho (menos quando são insetos, porque aí me dá coceira televisiva no nariz, mas isso a gente fala outra hora) e você também adora. Sua irmã não liga muito, mas você ainda se emociona com os pingüins, os elefantes, as zebras, os grandes felinos e as baleias. Gosta de ver as dinâmicas entre pais e filhos; gostava dos cangurus até ver de que jeito os filhotes saem da barriga, quando vão pra bolsa da mãe.


Eu acho engraçado que quanto menor a gente é, mais bichinho. Tá certo que alguns adultos são uns animais, mas não é disso que a gente está falando. O assunto aqui é instinto animal e você ainda tem isso muito aguçado. Quando a gente vai brincar, você sempre dá um jeito de tocar em mim e quando a gente lê à noite, antes de dormir, você sempre se deita ao meu lado e encosta a cabeça na minha, meio que como desculpa pra ver melhor os desenhos. Mas eu sei que não é por isso, filho. Sei que da mesma forma que os bichos que a gente vê na TV, mamães e filhotes humanos também têm essa necessidade de toque e faro.


E é tão bom cheirar você, filho... mesmo no fim do dia, quando você já viajou para mil planetas, já desbravou vulcões, já lutou com dinossauros e sua cabecinha está suada, você cheira tão bem.... acho que é porque cheira a meu. E eu me pego na sua cama ou na porta da sua classe, na escola, cheirando seu rosto, seu pescoço e te enchendo de beijos, enquanto você faz cara de sufocamento e pergunta se eu estou de batom. E eu morro de rir e digo que “com ou sem batom, eu beijo, sim; beijo o quanto quiser e vou continuar beijando porque você é meu, fui eu que fiz e pronto”.


Depois do banho, a gente passa lavanda. Eu capricho na sua nuca, nos braços e passo um pouco no pescoço, embaixo no queixo, dizendo que é pós-barba. Você morre de rir e diz que eu sou boba. Sou nada, filho. Porque ainda ontem você era um bebezinho que cabia em cima de um travesseiro e hoje você já tem seis anos, já escreve e no ano que vem, já vai pra escola de gente grande. Daqui a pouco vai usar pós-barba de verdade, vai perder esse instinto de bichinho (como a sua irmã perdeu) e vai querer distância de uma mãe que insiste em fungar no seu pescoço. Tudo bem, filho. É justo. Eu também não consigo nem imaginar minha mãe me cheirando hoje em dia. Ainda bem que a natureza fez tudo tão direitinho, que algum tempo depois que perde esse instinto, a gente tem filhos e netos. Assim, tem sempre alguém pra gente cheirar e alguém louco pra ser cheirado por perto.

6 comentários:

Anônimo disse...

que delicia, ana!!
para béns por este post e por ser esta mãe dedicada...
e o montanha cresce, hein...
que alegria.
beijos com bastantes saudades,
vivi

MH disse...

antes de mais nada, o Animal Planet é como uma rede de segurança. Com mais de 70 canais, se não tiver nada que preste, lá é o melhor lugar pra parar!

lindo texto! e saudades de vcs!
beijo

Johnny Garden disse...

Texto delicioso de ler, Ana Téjo, como nos tempos do "respira", fluente, simples e envolvente.
Esse olfato feminino para cria deve ser nato, só consegui aproveitar um pouco desse prazer quando minha mulher ensinou onde ficam as "caixinhas de cheiro" ,como chamamos aqui: na nuca, nas laterais do pescoço, etc.
Hoje sou um "cheirador de filhos" convicto e espero que possa desfrutar por um certo tempo ainda (eles tem 4).

MEHC disse...

Ah, que delícia de texto, mesmo dos seus, Ana. Cheirador de filhos, como diz o Johnny,coisa boa. Eu já sou mais cheiradora de netos ;D E que bem cheiram eles!

Rubi disse...

Que texto mais cheio de amor. Obrigada por partilhar connosco Ana. Um beijao

joao de miranda m. disse...

Eu não tenho filho para cheirar. Não calhou. Contento-me em cheirar mães. Ana Tejo é mãe e cheira bem, como este seu texto.