Em casa, de vez em quando, a gente vê Animal Planet. Gosto de ver os bichos com você, filho (menos quando são insetos, porque aí me dá coceira televisiva no nariz, mas isso a gente fala outra hora) e você também adora. Sua irmã não liga muito, mas você ainda se emociona com os pingüins, os elefantes, as zebras, os grandes felinos e as baleias. Gosta de ver as dinâmicas entre pais e filhos; gostava dos cangurus até ver de que jeito os filhotes saem da barriga, quando vão pra bolsa da mãe.
Eu acho engraçado que quanto menor a gente é, mais bichinho. Tá certo que alguns adultos são uns animais, mas não é disso que a gente está falando. O assunto aqui é instinto animal e você ainda tem isso muito aguçado. Quando a gente vai brincar, você sempre dá um jeito de tocar em mim e quando a gente lê à noite, antes de dormir, você sempre se deita ao meu lado e encosta a cabeça na minha, meio que como desculpa pra ver melhor os desenhos. Mas eu sei que não é por isso, filho. Sei que da mesma forma que os bichos que a gente vê na TV, mamães e filhotes humanos também têm essa necessidade de toque e faro.
E é tão bom cheirar você, filho... mesmo no fim do dia, quando você já viajou para mil planetas, já desbravou vulcões, já lutou com dinossauros e sua cabecinha está suada, você cheira tão bem.... acho que é porque cheira a meu. E eu me pego na sua cama ou na porta da sua classe, na escola, cheirando seu rosto, seu pescoço e te enchendo de beijos, enquanto você faz cara de sufocamento e pergunta se eu estou de batom. E eu morro de rir e digo que “com ou sem batom, eu beijo, sim; beijo o quanto quiser e vou continuar beijando porque você é meu, fui eu que fiz e pronto”.
Depois do banho, a gente passa lavanda. Eu capricho na sua nuca, nos braços e passo um pouco no pescoço, embaixo no queixo, dizendo que é pós-barba. Você morre de rir e diz que eu sou boba. Sou nada, filho. Porque ainda ontem você era um bebezinho que cabia em cima de um travesseiro e hoje você já tem seis anos, já escreve e no ano que vem, já vai pra escola de gente grande. Daqui a pouco vai usar pós-barba de verdade, vai perder esse instinto de bichinho (como a sua irmã perdeu) e vai querer distância de uma mãe que insiste em fungar no seu pescoço. Tudo bem, filho. É justo. Eu também não consigo nem imaginar minha mãe me cheirando hoje
6 comentários:
que delicia, ana!!
para béns por este post e por ser esta mãe dedicada...
e o montanha cresce, hein...
que alegria.
beijos com bastantes saudades,
vivi
antes de mais nada, o Animal Planet é como uma rede de segurança. Com mais de 70 canais, se não tiver nada que preste, lá é o melhor lugar pra parar!
lindo texto! e saudades de vcs!
beijo
Texto delicioso de ler, Ana Téjo, como nos tempos do "respira", fluente, simples e envolvente.
Esse olfato feminino para cria deve ser nato, só consegui aproveitar um pouco desse prazer quando minha mulher ensinou onde ficam as "caixinhas de cheiro" ,como chamamos aqui: na nuca, nas laterais do pescoço, etc.
Hoje sou um "cheirador de filhos" convicto e espero que possa desfrutar por um certo tempo ainda (eles tem 4).
Ah, que delícia de texto, mesmo dos seus, Ana. Cheirador de filhos, como diz o Johnny,coisa boa. Eu já sou mais cheiradora de netos ;D E que bem cheiram eles!
Que texto mais cheio de amor. Obrigada por partilhar connosco Ana. Um beijao
Eu não tenho filho para cheirar. Não calhou. Contento-me em cheirar mães. Ana Tejo é mãe e cheira bem, como este seu texto.
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