Não tem jeito. As pessoas que têm o hábito de escrever acabam desenvolvendo alguns vícios. São termos e construções de frase que quem escreve bem chama de estilo. Quem não gosta, chama de vício, mania, ou maldito-cacoete-esse-seu-de-sempre-escrever-tudo-desse-jeito!
_ Eu? Escrevo, é? Ah, sei lá. Porque sim?...
_ Não, Ana, sério: é um saco. Toda vez que eu vou ler um texto seu, tem “purfa” pra cá, “pelamor” pra lá. Você é crente, por acaso?
_ Crente, eu? Crente em quê, pelamor? Escrevo assim porque... ah, acho que é porque é mais curto.
_ Curto?
_ É. É mais curto escrever “pelamor” do que “pelo amor de Deus”; é mais curto escrever ‘purfa” do que “por favor” e eu acho que as pessoas entendem, não?
_ Entendem, mas não gostam.
_ E quem disse que não gostam?
_ Eu estou dizendo.
_ Ah, é? E você trouxe algum protesto oficial? Algum abaixo-assinado do Clube dos Leitores Insatisfeitos da Ana Téjo?
_ Não. Mas é errado escrever assim.
_ Quem disse que é errado?
_ É errado, Ana. Tem “pelamor” e “purfa” no dicionário?
_ Não. Mas também não tem escanear, blogar, baixar, no sentido de “fazer o download” e todo mundo usa e entende!
_ Você devia se corrigir...
_ Não vou me corrigir.
_ Não?! E por quê?
_ Primeiro, porque o blog é meu, quem manda nele sou eu, não tenho compromisso editorial com ninguém e escrevo do jeito que tiver vontade. Segundo, porque eu sou incorrigível. Se me corrigisse, não seria eu. Pelamor, pelamor, pelamor!
O modo com uma pessoa escreve a torna única, inconfundível. A escrita é quase como uma impressão digital. Conheço pelos menos umas dez pessoas – amigos mesmo, gente comum. Nada de Fernandos Pessoa ou Carlos Drummonds de Andrade – cujos estilos eu reconheceria até debaixo d’água, só de ler.
Cacoetes, eu também tenho. Muitos além dessas duas palavrinhas aí
Outra palavra que me dá nos nervos é “possui”. “Ah, esse produto possui muitas features para a senhora.” “Tem”, né? “Tem” muitas características, benefícios, tem vantagens, tem coisas que vão me deixar mais bonita e mais feliz... Tem que falar “possui”? Tem que falar “features”? Será que é pra parecer chique? Hmmm, vou escolher esse aqui porque ele “possui” muitas “features”. Vou “desfrutar” delas todas em meu "domicílio"!
Finalmente – não porque a lista de implicâncias acabou. Eu poderia continuar por horas, dias a fio. O que acabou foi o tempo para escrever – morro de nervoso com palavras em francês que as pessoas não sabem se são masculinas ou femininas e fazem a declinação de gênero como mais lhes agrada. Exemplos? Chantilly e mousse. “Hmmmm! Esse mousse está delicioso, ne c’est pas?” Pelamor...
19 comentários:
Pois eu adoro o seu estilo, inclusive o pelamor e o purfa. Não tem nada que mudar, não!
Oui, Madame!
Ana, adoro seu estilo, viu!?
Adoro suas implicâncias e não as acho tão implicantes assim, hehe!
Beijão.
Obaaa! voltei a comentar! Quê liberdade!
Apoiada!
Cada um escreve do jeito que quiser, né? Desde que não escreva no estilo miguxa de ser...
Aliás, eu falo muito "pelamor"...
Beijo
Tãotáintão.
Mas você esqueceu o "cumassim"...
Gostaria de saber porque alguém que não gosta do seu estilo de escrever fica lendo o seu blog.
Masoquismo? Promessa?
Não era mais fácil simplesmente ler qualquer outro dos milhares de blogs existentes por aí?
beijo, e manda catar coquinho na ladeira!
ah, em tempo: meu ex-marido adorava dizer que nao gostava do que eu escrevia, que eu era metida a engraçadinha.
Vixe, Anna, alguém reclamando de como eu falo ou escrevo me tira do sério... outro dia no meio de um papo com uma amiga falei que determinada atitude de uma colega de trabalho nossa era "contraproducente" e ela rodou a baiana na hora: "AAAAAAAI NÃO! Não acredito que você vai usar essa palavrinha de modismo empresarial...". Levei um susto! Eu uso essa palavra tem uns bons 15 anos... Passei uns 10 minutos tentando digerir a bronca até que não me agüentei: "vem cá, fofa... me diz UM sinônimo de contraproducente que não seja empresarial e eu te deixo em paz".
Humpf!
Ah, o despeito...
Ana, deixa de lado um pouco a educação e manda pro inferno esses chatos (e invejosos) que implicam com seu estilo, que é único e delicioso.
Se vc estivesse usando essas palavras no trabalho, tudo bem, mas no seu blog vc escreve como quiser.
Ê gentalha!! rs
Bjos e saudades.
Hahaha
Isso sempre acontece. Amigos já chegaram pra mim com aquele ar de "desculpe consertas mas..." e disseram:
- Rodolfo, tem um erro ali.
- Onde?
- "Cuméquié"
- E...
- O certo é "como é que é"
- Sim, sim. Mas é só uma forma de brincar com a maneira que as pessoas falam.
- É?
- É.
Mas o pior não é isso. Sempre passo pela situação de estar numa roda e falar algo do tipo "entre mim e ela". Ninguém fala assim, mas esta é a forma correta.
Depois, eu sempre fico com a sensação de que todos estão pensando: "Olha só o Rodolfo. Redator e falando errado".
É, amigos. Pelamor...
Nana,
Não vou mudar. Nem quero.
Vivi,
Se não fosse implicante, não seria eu!
Anna,
Miguxa não, pelamor. Nem "beijo no coração".
Adauto,
Escreve direito! É "comassim".
Esqueci também o "çanguebão", né? Vou fazer uma lista. Daqui a uma ano ou dois, eu publico.
Clau,
Implicância. Depois, a implicante sou eu.
Agora, dizer que alguém é "metico a engraçadinho" é chamar pro pau, né? Não é à toa que virou ex!
Mulé,
Flácido, preguiçoso, improdutivo, é o famoso estilo "sentada no pudim".
Sua interlocutora deve ter achado ruim porque não sabia direito o que significava. Cada uma ,viu?
Rê,
Gentalha, gentalha, gentalha!
Kkkkk!
Rodis,
Morrendo de rir com alguém corrigindo seu "cumequié". Legal que a pessoa vem meio na calada, discretamente, pra dar um toque...
Não que a gente não erre. Eu, por exemplo, teimo em escrever "berinjela" com gê. Acho que faz muito mais sentido, "a nível de vegetal", se é que você me entende. Enfim... cada um na sua.
Ana, liga não boba. A sua audiência adora o modo como vc escreve!
(PS: tb uso "comassim" e "pelamor". Ah, e abrevio o VC tb. Alguém tem alguma coisa contra???
Beijos
purfa não deixa de escrever assim não tá
e que implicância que nada. vc só esbarra naquilo que incomoda muita gente ;)
beijo
Tive que mandar esse texto para minha mãe, e ela se identificou muito.
Essa mania de usar palavras irritantes é para tentar deixar o texto sofisticado, profissional. Para mim é só uma tentativa arrogante que tem zero chances de atingir seu objetivo.
É tipo aqueles restaurantes por quilo que colocam queijo ralado na salada, pra dar uma "incrementada".
Argh.
Ana,
Não gostou? Nem nimim!
Morg,
Tanta coisa séria pras pessoas se preocuparem, né?
MC,
Salsicha. Colocam salsicha na salada porque é mais barata que queijo ralado e pesa infinitamente mais. Argh!!!
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