sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O dente

Meu filho,

Pra você, não é nada. É só o primeiro de outros vários que vão cair. O primeiro passo para uma coisa que vai ser sua para sempre.

Para mim, meu filho, é um marco.

Mães têm isso. Mães são bichos que se emocionam a ponto de soluçar em festas da escolinha, mesmo depois de anos e anos. Mães são animais que olham para as crias e choram de amor. Não é lindo chorar de amor, meu filho? Acho que ninguém pode dizer que é verdadeiramente feliz, enquanto não tiver chorado de amor pelo menos uma vez na vida. Mães guardam cartas com rabiscos que nem elas entendem e desenhos com amebas peludas porque um dia, um filho disse que éramos nós, as mães, ali, no papel, e que aquela manchinha verde era o nosso vestido lindo e que o risco vermelho era o nosso batom. Mães são capazes de olhar a gente dormindo e de nos achar tão grandes e tão pequenos ao mesmo tempo, que choram tudo de novo, só de saudade pelo que foi e de orgulho pelo que está sendo.

Mães sonham, desejam e projetam tudo o que imaginam de melhor, mais bonito, mais macio, quentinho e cheiroso nesse mundo para os filhos. Mães também brigam. Principalmente com os outros. Principalmente com criaturas obtusas que não percebem que nossos filhos são as coisas mais espetaculares que Papai do Céu já teve o capricho de pôr no mundo.

Seu dentinho, filho, eu guardei (foi uma dureza arrancá-lo da Fada do Dente, mas ela há de saber que não há nada mais forte no mundo - nem vulcão, nem dinossauro - que uma mãe determinada). 

Guardei pra olhar pra ele e lembrar do quanto você já foi pequeno. Pra olhar pra você e ver o quanto você cresceu. 

Guardei porque eu estava lá quando esse dente que caiu na quarta-feira, apontou na sua gengiva. Eu estava lá, filho, quando pedi pro seu tio trazer do Free Shop aquele mordedor vibratório refrigerado, lembra? Que coisa louca era aquilo, filho! Você adorava e a gente morria de rir com suas caretas. Eu estava lá – e ainda estou – todas as manhãs e todas as noites, quando a gente escova os dentes. E faço você bochechar três vezes, sim, pra lavar toda a pasta. “Porque a pasta é o sabonete do dente.” E faço você abrir um bocão pra escovar atéééé lá no fundo. E te falo como é importante escovar a língua também. Você não gosta muito da parte da língua, mas um dia, daqui a alguns dentes, você há de me entender. No fim, você joga fora a água que sobrou no copinho, eu molho a mão e lavo seu rosto. Você sempre ri e sempre tenta lamber minha mão. E eu sempre escapo. Ou quase sempre.

Seu dente, filho, agora é meu. É uma parte sua que eu vou guardar pra sempre. Porque o resto de você, meu amor, por mais que eu queira pra mim, vai ganhar o mundo. Que mundo de sorte esse, não?

Te amo,

Mamãe

13 comentários:

Anônimo disse...

aaaaah, quase chorei aqui do seu lado!!!!

Anônimo disse...

A Bia perdeu dois dentes de uma vez!

Foi semana passada!

Adoro ler seus textos. Adoro participar de sua vida!

Anônimo disse...

ooooooooowwwwwwwwwmmmmmmmmm!!!!!!!!!!!!!!

Aline disse...

Sou mamãe só há 11 dias! E chorar de amor émesmo bom demais. Linda carta.
Beijos.

Amarilis disse...

Que coisa mais linda...

UrbAnna disse...

Lindíssimo, Ana.
Emocionada aqui...
(urb)Anna

Johnny Garden disse...

Meu filho agora cismou que tem uns 3 ou 4 dentes moles porque um dos garotos da classe, mais velho, ficou banguela pela primeira vez.

Parabéns pelo texto, estava com saudades do estilo. Devo dizer que
pais também se emocionam em festa de escolinha (embora eu tenha reclamações a respeito da forma relapsa com que comemoram o dia dos pais, só porque é depois das férias) e com textos como esse.

Só hoje, revirando os antigos blogs, vi que você respira pela barriga com outro nome. Vou gastar um tempão lendo os arquivos.

Sou o antigo e falecido Arturo Bandini, reencarnei hoje em http://holambrafloresemvoce.blogspot.com depois de problemas sérios em Santos. Coisas da vida.

Tudo de bom pra vocês, Ana Téjo.

Ana Téjo disse...

Dani,
E eu quase chorei escrevendo.

Cassio,
Legal, né? Dá um orgulho...
E eles são tão corajosos, tão valentes e ficam se sentindo tão importantes...
É bom ver nossos filhos crescendo, mesmo que seja por aqui, pelos blogs.

Ana

Ana Téjo disse...

Filha,
Né?

Aline,
Parabéns, menina. É o maior amor do mundo, você vai ver.
Bem-vinda à maior aventura do ser humano. Seja muitíssimo feliz.

Ana Téjo disse...

Amarilis,
É um pequeno príncipe.

Anna,
E eu aqui. Aliás, como está seu bebê???

Ana Téjo disse...

Johnny,
Meniiiino, que bom te ver por aqui! Claro que eu lembro de você e dos pequenos Bandinis! Essa www é mesmo um ovo.
Vou já te linkar com nome novo e aparecer pra te visitar. Vamos tentar não nos perder de novo, como perdemos o Vetustus...
Quanto ao Dia dos Pais, exija seus direitos.
Obrigada e tudo de bom pra vocês também,

Ana

Anônimo disse...

Oi, Ana!
Não sei se você ainda lembra de mim... eu elogiei os seus artigos no Bolsa e você me indicou este blog, para o qual eu sempre venho e costumo rir muito por aqui. Seu estilo é fora de série, leve e divertido. Porém, hoje, com este texto... eu não ri... só me segurei pra não cair uma lagrimazinha... ma-ra-vi-lho-so!
Saudades dos seus artigos no Bolsa, desde agosto eu não vejo mais nada seu lá, perdeu a graça...hunf...:)

Abração pra vc e pra essa criança felizarda que tem você ao lado!

Ana Téjo disse...

Lucila,

É claro que eu me lembro.
Muito obrigada pelas visitas; fico bem contente em saber que você vem e gosta. Aliás, são retornos positivos como o seu que mantém o pique de gente como eu. Como seria legal se todo mundo que lia o Bolsa aparecesse pra ler aqui...
Quanto aos meus filhos, de fato eles são maravilhosos. É o que eu sempre digo: um filho é a experiência mais rica da vida, não é?
Beijos,