terça-feira, 14 de agosto de 2007

A tentação da ostra

Um dia, voltando de uma viagem ao Japão, um amigo me trouxe de presente uma latinha do tamanho de uma lata de atum, com as laterais transparentes. Dentro, havia uma ostra. Na tampa metálica, os dizeres: "this oyster is guaranteed to contain at least one cultivated pearl. Made in Mikimoto Pearl Island, Japan".

Caramba! Uma ostra com uma pérola dentro? Que diferente! Conversando com ele, descobri que Toba é uma cidade portuária japonesa, cercada de ilhas. Uma dessas é justamente a Ilha das Pérolas, onde foi produzida a primeira pérola cultivada do mundo, em 1858. Ainda hoje, é possível assistir a demonstrações de mulheres mergulhadoras – as ama – que descem mais de 14 metros no mar, sem qualquer equipamento, para apanhar as ostras.

História à parte, lá estava eu, com o presente mais diferente que já havia ganho nas mãos, sem saber direito o que fazer com ele. Abrir ou não abrir? Se não abrir, conservo o presente, mas nunca terei o prazer de ver a pérola (e de saber se tem "mesmo" uma pérola aí dentro). Se abrir, fico com a pérola (que será apenas mais uma pérola, igual a tantas outras, urrava o meu lado romântico). Levei meses para decidir. Enquanto refletia, lembrei de um episódio de Amazing Stories, um seriado antigo, baseado em histórias do Stephen King.


No tal episódio, um homem recebia uma caixa vazia, sem fios, sem bateria, sem nada. Tudo o que havia nela era um botão. O responsável pela entrega dizia que o homem tinha uma semana para decidir se apertava ou não o botão. Se apertasse, ganharia 50 mil dólares e uma pessoa que ele nunca tinha visto antes, morreria. Simples assim. O episódio é ainda mais intrigante por causa das motivações que levam o personagem a decidir. O fato é que momentos depois dele apertar o botão, o responsável pela entrega reaparece, dá o dinheiro e p
ede a caixa de volta.

_ Mas... e agora? É só isso? O que vai acontecer?
O emissário sorri.
_ Agora, eu vou levar a caixa e entregá-la a uma pessoa que você nunca viu antes.

Você deve estar se perguntando o que a minha latinha de pérola tem a ver com essa, do Amazing Stories. Pois é. Nada. A única morte envolvida na minha história é a da ostra. E essa, eu garanto, já tinha partido desta para melhor muuuuito antes da lata chegar às minhas mãos. Acho que o que me lembrou foi o dilema, o conflito, a dúvida e a falta de paz de espírito.

Evidentemente, o lado pragmático venceu (quem me conhece, sabia desde o início). Abri a lata, tirei a ostra pingando um líquido castanho turvo, afastei as laterais da casca e fui cutucando a carne macia com a ponta dos dedos, até sentir uma coisinha dura. Pronto. Era a pérola. Linda, nacarada e perfeitamente esférica. Uma bela pérola. Igual a milhares de outras que já vi na vida.

18 comentários:

MH disse...

Nossa, que presente legal!

Anônimo disse...

Mulheres não resistem a uma surpresa...

Mesmo que ela seja óbvia.

PS:Feliz aniversário atrasado :)

Anônimo disse...

Odeio Ostras!!!Acho nojento...
Me lembrei de uma aula que tive que abrir uma ostrinha e futucar...mas tudo com luva...

bj

Isabella Kantek disse...

Que presente original! Esses japoneses ... a minha professora sempre me dá umas coisinhas geniais. Um dia ela trouxe para a minha filha uma bola feita de papel de seda, linda. Ela vem dobradinha e você enche com a boca delicadamente para brincar.

Essa postagem ficou ótima, adorei o suspense. =)

UrbAnna disse...

Eu tb teria optado por abrir!
E depois, ia aproveitar a pérola e mandar fazer um anel! Não pelo anel, mas para sempre que estivesse com ele poder lembrar que é um anel especial, lembrar (e até contar pros outros) toda essa história bacana do presente do amigo!
Beijo

Nana disse...

Me lembro desse episódio do botão!!!

Rodolfo Barreto disse...

Os melhores presentes são aqueles acompanhados por cartões. Em seguida, vem os que têm cartão e história. Mesmo que tudo isso acabe numa pérola que vai virar bola de gude pro Montanha.

Rubi disse...

LOL Fez bem Ana. Assim cutucou a pérola... :)

Estrela disse...

Ana, uma coisa te garanto: este presente deu um trabalhão pra ser retirado. Por estas sortes da vida, tive a oportunidade de ver estas mulheres que mergulham só com uma roupinha de pano ao fundo do mar pra pegar ostras e pérolas...
É realmente impressionante e o presente foi muito, muito, muito especial! Beijão

Lala disse...

Ai que bom que você abriu! Eu tenho uma pérola que veio numa Ostra. O Príncipe encantado, além de ter encontrado a pérola, mandou por num pingente e eu uso quase como um talismã. Semana passada, você viu, ela caiu e eu quase a perdi. Quase morri.
É uma pérola igual a tantas outras que já vi na vida, mas o significado dela é completamente diferente!

Anônimo disse...

Anna,

o que dizer?

You took the red pill.

Ana Téjo disse...

MH,
Não foi?

Cassio,
Mulheres não resistem A ABRIR uma surpresa. Mesmo que já saibam o que tem dentro.
Obrigada atrasado.

Ana Téjo disse...

Mary,
Vocêêêêê? A moça que tem uma aranha em casa, a que fotografa morcegos, a que está defendendo uma tese sobre piolhos de pombo?
Pois eu adooooro ostras, cruas mesmo, descoladas da concha e deslizadas diretamente para a boca. Hmmmm!

Isabella,
Muito legal. Despoi, descobri que se chama Wish Oyster e que são um presente bem tradicional para quem vai pras bandas de lá.

Ana Téjo disse...

Anna,
Foi o que eu fiz.

Nana,
Era uma série super legal, não era?

Ana Téjo disse...

Rods,
Também adoro cartões. Muitas vezes, mais que o presente em si. Coisa de redator; você há de me entender.

Rubina,
Será que fiz mesmo?

Ana Téjo disse...

Estrela,
Muito especial e muito apreciado. Eu adorei.
Deve ser o máximo ver isso pessoalmente.

Lala,
As pessoas, não as coisas. Sempre.

Ana Téjo disse...

Cris comprida,
Às vezes, a gente toma sem saber.

Anônimo disse...

Ah, a estrela daí sou eu, viu. Só pra vc não achar que eu sumi, Ana. Estou aqui VIVInha.
bjs.