segunda-feira, 30 de julho de 2007

Evolução ou involução?

Estava outro dia almoçando em um restaurante na Vila Madalena. Um bonito, que tem na parede do fundo uma enoooorme fotografia da praia de Copacabana nos anos sessenta. Como para blogueiro tudo é motivo de post, fiquei olhando aquela imagem, cheia de pessoinhas em trajes de banho e divagando.

Em pouco tempo, minha atenção foi parar nos carros. Além dos muitos Dauphines, Gordinis, DKWs e Aero Willis e de alguns elegantíssimos Simcas, com rabinho de peixe e tudo, o que mais se via pelas ruas e calçadas da praia eram os popularíssimos Fuscas e as Kombis. De todas as cores do arco-íris, com uma discreta preferência pelos vermelhos, azuis, beges e brancos. Havia muitos modelos bicolores também. Um charme.

Bons tempos. Tempos das camisas de Ban-lon ou de malha, das cacharréis, das calças Levi’s 501 ou das de Tergal, que não amassavam e nem perdiam o vinco, mas como nem tudo na vida são flores, ameaçavam transformar qualquer ser humano em homem-tocha se expostas a uma fonte mais intensa de calor, de tão sintéticas que eram. Lembro que os comerciais em preto e branco anunciavam que quem comprasse um terno na Ducal, ganhava duas calças iguais. Nada mais lógico, não era? Afinal, todo homem sabe que a calça gasta muito mais que o paletó! Não sei se na época meu pai aproveitou a oferta, mas se era mesmo esperto como eu achava que era, deve ter aproveitado.

Saindo do restaurante, ergui os olhos no estacionamento e vi aquele mar de carros prateados. Prata, prata, prata, grafite, prata, prata, ah, olha um preto ali! Outro prata, mais um preto, prata, prata...

Na mesma hora, fiz a ligação com Henry Ford e seu famosíssimo Ford T. O modelo T de Ford foi produzido por 19 anos a partir de 1908 e vendeu mais de 15 milhões de unidades, marca só superada sessenta anos depois pelo Fusca. Um sucesso sem precedentes. Para fazer sua obra-prima numa linha de montagem, Ford descobriu rapidinho que ganharia tempo se não precisasse diferenciá-la na hora da pintura. E aproveitando que a tinta preta era a mais barata e de secagem mais rápida, o preto virou padrão. Vem dessa época a famosa frase atribuída a ele: "Você pode ter o carro da cor que quiser, desde que seja preto".

Hoje, a coisa mudou. Os carros têm ar condicionado, som com Bluetooth, airbags, freios ABS, as tintas são eletrostáticas e as carrocerias são recobertas por um verniz transparente com partículas cerâmicas microscópicas que endurecem durante o processo de secagem, formando uma película que protege a cor dos riscos e dos rigores no dia-a-dia.

Tudo muito chique e muito moderno. Desde que você escolha prata ou, excepcionalmente, preto. Tem graça?

12 comentários:

Ana disse...

Prata eu não curto não. Preto eu gosto. Vermelho tb.
Agora amarelo, verde abacate, aquele laranja do Palio...pelamor! (sorry aí se alguem tem um nessas cores...)
Beijo

Cláudia disse...

Eu nem posso falar nada, porque sou fã do preto ou do prata, dependendo do modelo do carro.
Além de gostar de carro clássico, mesmo sendo moderno, eu temo enjoar das cores se eu comprar um vinho por exemplo.
Já tive um Vectra azul, porém, e desejei ardentemente um Hyundai Accent cor-de-rosa há coisa de 10 anos...
Mas sou mesmo discípula de Henry Ford!
beijo

UrbAnna disse...

Hahaha, é verdade!
Na garagem do meu prédio o prata predomina meeeesmo! Tem uns 4 pretos, 1 vermelho, 1 verde metálico escuro (o meu) e o resto é prata ou grafite (prata na maioria, claro)...
Mas eu nem posso falar muito, pois sou bem fã do prata e preto, principalmente preto, básico!
Beijo

Anônimo disse...

Recentemente, enquanto estava no escritório (boteco) discutindo um processo (bebendo uma cerveja) com um amigo, ele me saiu com essa: "Olha pra rua. Que coisa mais sem graça. Os carros são quase todos da mesma cor. Falta colorido. Falta vida."

Não foi o motivo predominante, mas um dos motivos pelos quais decidi mudar a cor do carro que comprei e estou reformando (um Opala 79). Vou pintá-lo de laranja (hugger orange), tal qual o General Lee, dos Dukes of Hazzard.

Acho que, além de ficar bom, vai trazer mais colorido para o mundo...

Thales disse...

Prata tem mais porque vende mais, ou vende mais porque tem mais?

Seria legal um carro que desse para trocar de cor tão fácil quanto um template de blog.

Ana Téjo disse...

Ana,
Tá certo. Não estou dizendo que nós devêssemos comprar um carro cor de abóbora, mas que ele teria muito mais personalidade que um preto ou um prata, isso teria, né? E pra achar no estacionamento, então? Já pensou, que moleza?

Clau,
Um Accent rosa? Pelamordedeus! Ainda bem que Henry Ford a convenceu.

Ana Téjo disse...

Anna,
O prata predomina em todo lugar. Prata é uma praga.

Adauto,
Tá aí! Adorei a iniciativa e a personalidade. Vai ser um show nessa cidade cinzenta! E se vir alguém acenando vigorosamente na rua, sou eu, viu?

Ana Téjo disse...

Thales,
Ou tão fácil quanto esmalte. Já pensou?

Anônimo disse...

arrrgghhhh - esmalte com cor de carro ou carro com cor de esmalte - tanto faz, bizarro! Solvente nos dois!!!!

Anônimo disse...

Ana,

sabe que também fiquei reparando nos fusquinhas no dia do aniversário do Gastón? :)

Fiquei impressionada com a sua erudição automobilística. Uau...

O meu primeiro carro foi um corsinha que tinha uma cor linda chamada "azul almirante", aquela cor de besouro meio verde, meio azul, que todos os manobristas sempre chamavam de verde... pena que no segundo carro não deu pra escapar do cinza.

Beijo!

Ana Téjo disse...

LED,
Implicante!

Ana Téjo disse...

Cris comprida,
É legal aquela foto, né? Sempre que vou lá, fico hipnotizada.
Quanto à minha "erudição automobilística", tudo jogo de cena, querida. Nada que cinco minuto de Google não resolvam.
Sobre os carros cinza, acho que devíamos nos rebelar.