sexta-feira, 20 de abril de 2007

Falta de ar

Em um emprego, mais importante do que ficar amiga dos caciques, dos colegas e dos líderes de gangue, é ficar amiga do “çanguebão”. Aprendi isso em quase vinte anos de carreira e, para mim, é regra. Sempre que chego em um trabalho novo, a primeira coisa que faço é detectar e travar amizade com o çanguebão local. E toda agência tem um.

Çanguebão é aquele sujeito encarregado de resolver tudo o que as outras pessoas sempre estão ocupadas ou entediadas demais para resolver. É o cara que vai ao banco, ao correio, busca encomendas nos clientes, leva pacotes de um lado para o outro, troca lâmpadas, troca o garrafão de água, leva os carros pra lavar, enfim... é “o” cara.

Embora nem sempre resolvam os problemas – aliás, muitas vezes não resolvem – eles dão aquela confortável sensação de amparo que toda fêmea tanto anseia sentir.

Quando contei ao nosso çanguebão sobre a triste história do meu pneu, ele estufou o peito, se encheu de brios e disse: “Deixe comigo que eu resolvo isso pra senhora!” Entreguei a chave e os documentos do carro no nano segundo seguinte, antes que ele mudasse de idéia e suspirei, aliviada, sentindo o coração flutuar.

Cerca de meia hora depois, ele voltou, disse que o borracheiro havia desamassado a roda, colocado um “vedante” e que aquilo deveria resolver. Minha vida e meu carro, novos em folha, por apenas dérreau. Paguei alegremente e dei graças a Deus por todos os çanguebão do mundo. Adicionalmente, ele ainda informou que se não resolvesse, que eu mandasse colocar uma câmara no meu pneu, originalmente sem câmara.

_ Se fizer isso, a senhora nunca mais vai ter problema. A única coisa é que o pneu vai ficar um pouquinho mais pesado e na hora de fazer o balanceamento, a sra. precisa pedir pra pôr um pouco mais de peso no outro pneu, pra compensar, entende?
_ Perfeitamente.

Hoje, só por desencargo de consciência, parei no posto e pedi ao simpático frentista que calibrasse meus pneus, com atenção especial ao dianteiro direito.
_ E aí? Tava bom?
_ Tava não, dona.
_ Quantas libras?
_ Seis.
_ Seis era o que faltava para completar?
_ Não, dona. Seis era o que tinha.

Volto a suspeitar que talvez o problema não esteja resolvido.

12 comentários:

Anônimo disse...

Moral da história: Tem muito receptor, para poucos doadores universais nestas quebradas, mina.

MH disse...

Hahaha

a gente nasceu com essa falha genética, e ter um çanguebão por perto ajuda. Mas, pelo visto, não resolve!

e esse, te chama de gostosura, ou djilícia, ou algo apetitoso do gênero?

UrbAnna disse...

Putz, por que é que nós mulheres, pobres fêmeas vulneráveis, sempre penamos tanto com essas coisas?
Fomos inventar essa de igualdade entre os sexos, mas e agora? Quem poderá nos defender quando se trata de automóveis?

Beij
*Anna*

Ana Téjo disse...

Rods,
E que falta eles fazem, não é mesmo?

MH,
De fato, aparentemente, não resolve. Mas que consola, consola.
Por enquanto, esse me chama simplesmente de "Don'ana". Ainda não estamos muito íntimos, sabe? Mas algo me diz que é questão de tempo.

Ana Téjo disse...

*Anna*,
Quem falou em igualdade entre os sexos? Eu é que não fui!
Eu trabalho feito um homem, crio filhos feito um homem, ganho feito um homem, mas na hora do "vamos ver" quero mesmo é um macho poderoso para me abrir as portas, ajudar a vestir o casaco, colocar do lado de dentro da calçada, bem protegidinha... e levar o carro no borracheiro, oras! Por que não?
Só de vingança, a gente nunca mais devia pregar um botão que fosse nas camisas deles. Já pensou a proporçã o do desastre? Ia dar até na CNN.

Gastón disse...

BOm Ana, a quantidade de galhos que o Juneca já me quebrou por aqui é infinita. Agora, com 6 libras no pneu, vc devia estar arrastando o carro...

UrbAnna disse...

Pior que eu tb nem cogitei essa idéia de igualdade entre os sexos...
Mas a gente trabalha igual ou mais do que muito homem, porém, tem dias em que eu daria tudo para poder ficar em casa, cozinhando, limpando... só para não ter as dores de cabeça terríveis que tenho no trabalho!
Uma semana de Amélia iria me fazer um bem!!!

Beijo
*Anna*

Anônimo disse...

É...

A acho que você vai ter que comprar uma roda nova...

Ana Téjo disse...

Gastón,
Estava um pouquinho pesado, sim. Mas eu tenho braços fortes.

*Anna*,
A mim, me faria bem uma semana de madame, sem mover uma só palha, a não ser para me deslocar da ioga para a piscina e da manicure para o shiatsu!

Ana Téjo disse...

Cassio,
Vá rogar praga na vovozinha!

Anônimo disse...

Olá, Ana
Antes da compra outra roda.
Com certeza existem muitas alternativas para resolver seu problema, qto ao dito pneu que não gosta de andar sufocado...
Onde se for de ferro até que é barata, mas se for de alumínio é CARA...
Se por acaso quiser te mando um dossiê completo para tentar resolver seu problema....
Fran

Ana Téjo disse...

Fran,
Estou começando a suspeitar que arrumei outro protetor no quesito "mecânica". Obrigada. De verdade. O que seria de pobres fêmeas vulneráveis sem machos fortes e protetores, né?