segunda-feira, 4 de junho de 2007

Coisa de gente amphtyga

Esse negócio de dizer que “no meu tempo era melhor” me dá nos nervos. Coisa de gente saudosista, que chupa drops de naftalina no café da manhã e se recusa a curtir tudo de bom que a gente tem hoje. Bom era quando não tinha DVD, nem videocassete, nem TV, nem penicilina...!

Mas vendo as “festinhas” de hoje em dia, preciso confessar que sinto uma certa saudade. Outro dia mesmo, ouvindo uma conversa na mesa ao lado da lanchonete, uma menina contava para a mãe sobre a festa que tinha ido. A menina era aquilo mesmo, que todo mundo conhece: comprida, magrela, cabelão liso, jogado para a frente, brincão na orelha, camiseta curtíssima, calça baixíssima e sandália rasteira. Enquanto conversavam, a menina ia contando:

_ Ai, mãe, precisa ver; o maior mico! O cara da iluminação tinha chegado e o buffet também, mas o DJ atrasou e aí, o pessoal começou a chegar e minha amiga teve que pôr música de CD! De CD, mãe, já pensou?
_ Ué, filha. O que é que tem?
_ Mãe, pelamor! Não pode, né?
_ E por que não?
_ Porque não, né, mãe? Festa TEM que ter pelo menos UM DJ!
_ Pelo menos um? Tem festa que tem mais?
_ Claro, né, mãe?! Porque aí eles vão se revezando!
_ Credo, filha, que exagero!
_ Comassim exagero, mãe? Você perdeu a noção?

Fiquei ali, ouvindo a conversa e achando que quem tinha perdido a noção era a menina. Será que precisa mesmo de PELO MENOS UM DJ em uma festa de pré-adolescentes de 14 anos de idade? Não me parece. E que mal pode haver em ouvir música de CD? Quase perguntei, mas fiquei com medo da menina me fuzilar, pensando em "que gente mais amphtyga freqüenta essa lanchonete!” E quanto deve custar uma superprodução dessas? Um milhão de dólares em alegorias & adereços, pra pobre da aniversariante pagar “o maior mico” porque o DJ atrasou?

Lembrei que “no meu tempo” era bem diferente. Diferente e bom, muito bom. Uma das minhas festas mais “fervidas” aconteceu no quarto em que dormia a minha avó, evidentemente que sem a minha avó dentro.

Para adaptar o espaço doméstico ao “bailinho” que eu queria dar, minha mãe tirou quase todos os móveis, colocou uma lâmpada azul de 40W no lugar da lâmpada original (eu queria luz negra, mas ou a gente não achou, ou achou e era muito caro. Ficou luz azul mesmo), fez uns 50 ou 100 cachorros-quentes pequenininhos e arrumou tudo numa cesta bem grande, dentro do armário, para minimizar os riscos de acidentes. Por “tudo”, entenda-se: os sanduíches, a mostarda, o catchup (naquele tempo, a gente não tinha o hábito de pôr maionese, molho vinagrete, purê de batata, batata-palha, chucrute, carne moída e chantilly no hot dog. E nem tinha salsicha de chester, de pernil, de frango light, de avestruz... Salsicha era salsicha e pronto. No máximo, tinha grande e pequena.) e a Coca-Cola (da comum mesmo, porque não existia diet) em copinhos plásticos. Tem Guaraná? Não. Tem Coca, quer? Tem soda de grapefruit? Tem Diet Cristal Pepsi? Tem Cherry Coke? Não tinha nada disso e nem por isso a gente era menos feliz.

Para ouvir, os discos (dis-cos, longuepleis) do Grease, dos Embalos de Sábado à Noite, de Dancin’Days, que a gente tocava até furar e depois tocava de novo. Tudo reproduzido em uma vitrola Philips azul com UMA caixa de som. Ah, e tinha que virar o disco. Quando chegava essa hora, parava a música, todo mundo parava de dançar e ficava esperando. Aí, o dono da festa ou um fiel escudeiro fazia o processo com bastante cuidado, colocava a agulha no ponto, ouvia aquele chiadinho habitual e recomeçava a dançar como se nada tivesse acontecido. O ritual se repetia a cada 15 ou 20 minutos, porque esse era o tempo que durava um lado de longueplei e o mundo não acabava.

Foi boa, aquela festa. Aliás, todas as daquela época eram ótimas. Quanto menos espaço, mais a gente se divertia. Meninos de um lado, meninas do outro, até a coisa começar a engrenar. Dançávamos até o suor pingar no chão. E esperávamos ansiosamente pela música lenta. Quando ela começava, dez segundos protocolares de frio na espinha, meninos reunindo toda a coragem do mundo para tirar uma menina para dançar e quando o universo conspirava a favor – ou seja, o menino criava coragem antes da música acabar e a menina aceitava o convite – era bom demais. Nada se comparava à mistura de frio com calor, à sensação de sentir pelas primeiras vezes um corpo do sexo oposto bem pertinho, aos movimentos ritmados... é evidente que mal acabava a música e a gente se afastava como se tivesse levado um choque. Suados, corados e loucamente contentes.

Não tinha DJ, não tinha buffet e não tinha iluminação. O único custo maior era o de repintar o ambiente depois da festa, por causa das marcas de pés na parede. Ah, e a gente corria muito menos risco de “pagar mico”. Vai dizer que não era bom?

16 comentários:

Isabella Kantek disse...

Ana, era muito bom!!!

O relato da sua festinha/bailinho trouxe muita saudade - a luz azul, pipocas e cachorro-quente, "refri", e a vitrola, que no meu caso sempre tocava Cyndi Lauper.

Obrigada por essa postagem bem cedo, numa segunda-feira chuvosa. =)

Abraços

P.S.: e a ansiedade de saber quem ia tirar quem para dançar ...

Cláudia disse...

Era ótimo!
a gente chamava as festinhas de hi-fi, inclusive. Ou de reuniãozinha, quando queria enganar os pais de que não ia fazer bagunça.
Lembro de uma festa que eu dei, com 14 anos, na sala do apartamento, em Brasilia. Minha mãe sentenciou que nao ia limpar nada depois.
Acordei no dia seguinte e aquela sala imunda, cheia de chiclete no chão, parede encardida. E eu louca pra ir pro clube, pra fofocar sobre a festa, claro!! Mas tinha de limpar tudo aquilo, fazer o que?
Comecei, e dali a pouco aparece meu pai, faquinha em punho, pra ajudar a raspar o chiclete e limpar tudo a tempo de me levar para o clube... Tem coisa mais linda?

Aulinha básica: vc precisa de dois djs, pelo menos, para que eles toquem em back-2-back, um na sequência do outro, que dá mais agilidade à festa do que quando é um dj só.
Mas também pode colocar um de cada lado do salão, que deve ser grande (no quarto da vó não ia rolar), e eles tocam em cross-over, um desafiando o outro a tocar algo melhor em seguida.
A gente só não acha que é mais legal porque passamos da idade só isso...

Anônimo disse...

É Claudia...

Pai e Pai...

Seu pai perece com o meu :)

Anônimo disse...

Também não entendo as complicação dessa adolescência não, viu? Acho que é porque o que era divertido na nossa época (paqueras, dançar coladinhos) já não tem graça nenhuma pra maiores de 7 anos, então eles precisam complicar... Amei relembrar as 1as festinhas com o seu post...
bjs!

Ana disse...

Ai...ainda peguei a época dos bailinhos de garagem. Não fui em muitos não, mas como era divertido, como se fossem um baita evento (e eram)! Tinha até dança da vassoura...rs.
Ana, hoje é diferente pq nem o frio na espinha, de paquerar, de saber se "aquele" menino vai te tirar para dança, nem isso existe mais! Hoje em dia já partem pro beijo (quando não pra outras coisas) e o importante é ver quem beija mais pessoas diferentes na noite.
Triste...

UrbAnna disse...

Ai, ai...
eu até consegui ver passar pela minha mente as imagens de festinhas de garagem (que nem sempre eram na garagem) às quais eu fui na adolescencia...
Putz, como eram deliciosas essas festinhas!!!
O frio na espinha, a adrenalina de dançar a música lenta com aquele gatinho que vc estava a fim há taaaanto tempo (em média uma semana)...
Ô vida boa aquela...
Que DJ que nada, a gente ficava era discutindo se já era hora de colocar a lenta ou não... uns queriam muito, outros temiam o momento da lenta...
E era sempre num radinho que liberavam pra gente nos dias de -festa... pra tocar long-plays e fitas cassete, no máximo!!! Depois de muito tempo é que a gente veio ver CD!!!
A melhor das festas que fui nessa época foi de uma amigona minha. Os pais dela estavam construindo uma casa de dois pavimentos, que estava semi-acabada, mas ainda totalmente vazia... foi a alegria da garotada, a casa inteirinha pra festa!!! Não tinha nem onde sentar ainda, mas e daí, quem é que queria saber de sentar durante a festa???
Nós juntamos dinheiro por um bom tempo para poder comprar algumas lâmpadas coloridas para colocar nos principais ambientes... É... porque não tinha verba assim pra decoração de festa não... A gente tinha que economizar no lanche pra poder ter dinheiro pra esses superfluos altamente necessários!!!
Muita saudade daquela época.
Beijo
*Anna*

Ana Téjo disse...

Isabella,
Era bom, né?

Clau,
As paredes encardiam na altura dos pés dobrados e das mãos suadas dos meninos, não era? E como eram todos mais ou menos do mesmo tamanho, formavam-se faixas cinzentas. Como sofriam, os coitadinhos... que nervoso deviam passar.

Ana Téjo disse...

Clau,
Sobre os DJs, pelamordedeus! Eu não passei da idade, passei do orçamento, isso sim!

Cassio,
Pessoas de sorte, vocês.

Greice,
Mas com sete anos eles querem ver o cão chupando manga e não querem ver alguém do sexo oposto! Como é que faz?

Ana Téjo disse...

Ana,
Será que é assim como todo mundo? Não acredito que não exista mais magia...

*Anna*,
Não eram?
Quando ia ter festinha, os amigos mais chegados passavam semanas capturando as músicas preferidas nas rádios pra gravar "as fitas da festa", não era?
Casa em construção deve ser o máximo. Melhor ainda porque não dá pra estragar a pintura das paredes, né?

Jade disse...

Eu também odeio dizer: "ah no meu tempo...", afinal eu não morri, meu tempo é hoje né?
Mas, no nosso tempo tínhamos menos facilidade das coisas, porém infelizmente é nossa geração que cria esses adolescentes que acham que tudo é fácil e é preciso ter...
Beijos!!
P.S.: Chucrute no cachorro quente eu não conheço!! É aí em Sampa?

Anônimo disse...

E quando a agulha começava a pular? Alguém providenciava uma caixinha de fósforos, colocava sobre o braço da vitrola e a gente ia dosando a quantidade de palitos até voltar a tocar normalmente...

Nós, os meninos, ficávamos ensaiando, com o coração aos pulos, até criarmos coragem para tirar esta ou aquela menina para dançar bem coladinho. Uma conversinha leve ao pé do ouvido, um gracejo, olhos nos olhos, até que sentíssemos a receptividade ou não para arriscar uma tentativa de beijo...

É... Bons tempos...

Agora, com licença, pois acabou meu drops de naftalina sabor cereja. Vou ali comprar um pouco mais e volto logo.

mc disse...

Era bom sim! Dança da vassoura...
Mas uma vez umas pestes jogaram os brigadeiros na parede do quintal... minha mãe ficou tãããão feliz!

Ana Téjo disse...

Jade,
Acho que, em parte, a culpa é nossa, por passarmos quatorze horas por dia trabalhando e ficarmos com aquela dor na consciência dos infernos de dar pouca atenção aos filhos. Dá no que dá...
Chucrute com cachorro quente? Curitiba, Santa Catarina... estados com mais tradição alemã. Aff!

Adauto,
Meniiino, onde você estava quando eu tinha doze anos e sofria com as agulhas que pulavam? No meu grupo não tinha expert em balanceamento com caixinhas de fósforo e a gente amargava... só agora que você me dá a solução? Humpf!
Pobres meninos. Acho que sofriam bem mais do que as meninas. Era preciso ser muito valente naquele tempo, né? Para criar coragem de tirar a menina pra dançar na frente do grupo todo...

Ana Téjo disse...

MC,
Parede de quintal é menos grave porque é mais fácil de lavar.
Nunca jogaram bolos de papel higiênico molhado no teto do banheiro da sua casa? Daqueles que secam e formam estalactites permanentes? Ainda bem, né?

UrbAnna disse...

Afff...
Eu moro aqui em Curitiba há muitos anos, mas nunca vi cachorro quente com chucrute, Ana!!!
Vou dar uma pesquisada!!!
Beijo
*Anna*

Ana Téjo disse...

*Anna*,
No Au-Au, quando eu fazia Positivo (arghhh!!!), tinha!
E num restaurante alemão que tinha lá no Largo da Ordem também!
Depois você me conta.