quarta-feira, 11 de abril de 2007

Reunião na escolinha, a Missão

Ser mãe é ter culpa. Acho que a culpa nasce no parto, junto com o bebê, se fixa na boca do estômago e fica morando lá para sempre. Mãe tem culpa de tudo: de trabalhar muito, de chegar tarde, de sair cedo, de fazer ginástica bem na hora da Maratona Backyardigans, de fazer as unhas no sábado de manhã, de sair com as amigas que não vê à dois meses, de não ir a todas as reuniões da escolinha (inclusive naquelas marcadas para as dez da manhã!)...

Às reuniões, eu sempre dou um jeito de ir. Quando é humanamente impossível, mando minha mais fiel escudeira e representante master: minha mãe.

Essa semana teve reunião na escola do meu filho. E mesmo sabendo que aquela seria rigorosamente igual a todas as outras, mesmo sabendo que não haveria nenhuma novidade e que seriam ditas exatamente as mesmas coisas, lá fui eu.

Incrível como as professoras, esgotadas depois de dois turnos de aula para anjinhos iguais ou piores que o meu, sempre têm o cuidado de avisar que aquela “é uma reunião para falar do grupo, como um todo, e que assuntos específicos de cada criança deverão ser tratados em reuniões separadas, previamente agendadas com a coordenação.” Incrível como algumas mães nunca escutam.

_ ... para esse segundo bimestre, nosso objetivo é trabalhar com mais ênfase a grafia dos números e...
_ Professora!
_ Sim, mãe do Rafinha _ responde a professora, num suspiro.
_ Eu estou tendo o maior problema com o Rafinha, sabe?
_ A senhora não gostaria de falar sobre isso depois da reunião?
_ Não, sabe o que é? É até melhor comentar porque talvez outras mães estejam com o mesmo problema...

(Lá vem! Deus, dai-me paciência porque quando chegar em casa, eu ainda tenho que mimar as crianças, tomar banho, jantar e fazer aquele roteiro freelance até uma da manhã!)

_ É que o Rafinha sempre briga comigo porque o meu “2” é sem barriguinha e ele insiste que o “2” tem que ter barriguinha!
_ Entendo...
_ E eu explico pra ele que o meu “2” é “2” do mesmo jeito, mas ele diz que não e que eu estou ensinando errado.

(E por que você não aprende a fazer um “2” com barriguinha pro pentelho do seu filho parar de encher o saco, sua anta?)

_ O “7” também é um problema porque o meu “7” não tem tracinho no meio, sabe? E ele diz que o “7” tem que ter tracinho.
_ É que aqui, na escola, nós ensinamos as crianças a fazerem o “7” com tracinho para diferenciá-lo do “1”.
_ Eu sei, mas é que quando eu estudei, aprendi a fazer o “7” sem tracinho, sabe? E agora tenho uma certa dificuldade e...

(Ai, Xisus, apaga a luz! Vamos fazer uma vaquinha e comprar um caderno de caligrafia pra essa ostra aprender a fazer “2” com barriguinha e “7” com tracinho e ensinar o filho dela DIREITO?)

Quando finalmente a mãe do Rafinha se satisfaz e eu penso que a coisa voltará a evoluir, a mãe do Tomás levanta a mão. A professora suspira discretamente.

_ Pois não.
_ Então, o Tomás não tem problema com os números, mas eu queria saber se ele tem feito cocô aqui.
_ Eu não tenho essa informação, senhora. Mas posso perguntar às auxiliares, se elas têm visto o Tomás no banheiro.
_ É, porque em casa, ele nunca faz cocô e quando eu digo que ele só vai levantar da privada quando fizer, ele diz que já fez na escola, e eu fico preocupada porque o médico disse que é muito importante ir ao banheiro todo dia e...

(E eu lá, tentando me equilibrar naquela cadeira minúscula e me perguntando o quê, em nome de Deus, tenho a ver com o cocô do Tomás.)

Lá pelas tantas, digo a professora que ainda tenho outro compromisso e pergunto se posso olhar as pastas com os trabalhos do meu filho. Resignada, ela faz sinal afirmativo com a cabeça. Disparo para a mesa, abro todas as pastas, mio baixinho com o talento do infante e dou a missão por concluída. Discretamente, pego a bolsa e aceno silenciosamente para a professora, que ergue as sobrancelhas em resposta.

Enquanto me afasto, ouço a mãe da Lia em uma discussão acalorada com o pai do Robert e a professora. Afinal de contas, o Power Ranger amarelo é menino ou menina?

24 comentários:

Anônimo disse...

KKKKKKKK

Ana !!!

Mais uma vez me identifiquei com você !

Eu também odeio estes tipos de pais!

Tenho um monte de estórias engraçadas para contar também. Quem sabe um dia tabulamos algumas...

Só tenho pena das crianças. :(
Já imaginou o filho sentado na privada com uma louca descabelada "mal amada" gritando "FAX cocô ai!!!".

Tadinho :(

mc disse...

Sei que não tenho filho, nem nada, mas dá licensa que preciso comentar: acho que um dia vc vai sentir saudades dessas reuniões, sabe? Quando ele for adolescente, acho que o nível das reuniões vai piorar...

UrbAnna disse...

Hahahahaha, ninguém merece, mesmo! Nem mesmo as professoras, coitadas!
Ri muito imaginando a cena descrita pelo Cassio... hahahaha coitado do Tomás!!!
Beijo
*Anna*

Cláudia disse...

Permita-me uma resposta ao coment da mc, Ana:
mc, a gente não sente falta não, e quando eles são adolescentes, a gente só vai na reunião se eles estiverem perigando ser expulsos do colégio, caso contrário, nem pensar, que a cota já esgota no primário mesmo.

Ana, uma vez, minha filha com uns 8 anos, a professora pediu para cada pai dizer se o filho mentia ou não e somente a minha filha e o filho da minha amiga mentiam. o resto, tudo uns anjos, que não mentiam, apenas omitiam, segundo os pais.
Aí eu fui cair na bobagem de dizer que a Bela nunca era ela mesma, mas sempre um personagem de desenho (isso numa época que ela andava de quatro pela casa, latindo e lambendo a gente, pq era a Lady da Dama e o Vagabundo, vai vendo), e escutei de uma mãe - que tinha filho que nao mentia, apenas omitia - que eu devia investigar psicologicamente a Bela, pq ela devia ter uma realidade muito dificil para ter de fugir desta forma.
Respondi: sabe que vc tem toda razão? Quem sabe assim ela pára de mentir e começa apenas a omitir?

Codinome Beija-Flor disse...

Por Deus...
Dá pra matricular a mãe do Rafinha na mesma turma que ele?
Bjos

Codinome Beija-Flor disse...

Laxante para o Tomás e para mãe tambémmm
Bjo

MH disse...

hahahaha

fascinante, os temas de discussão propostos pelas mães. Reunião da escolinha deve ser de matar. Só é bom mesmo pra se encher de orgulho olhando os trabalhos da cria...

Anônimo disse...

hahahahaha...
No consultório, eu vou explicar como é o trabalho que eu faço... e elas muitas vezes nem aí! Ficam me interrompendo:
Mas... qt tempo dura a sessão mesmo?
Mas... é a empregada que vai levar e buscar, viu?
Mas...
É prá morrer mesmo!!

Anônimo disse...

Na reunião da minha filha (berçário, crias com menos de dois anos) tem estes tipos de pais, mas o pior é a pedagoga que é extremamente redundante e leva hoooras pra explicar o desenvolvimento das crianças, o que eles já estão 'capacitadas' a fazer, autonomia, etc... pra mim que conheço minha filha e leio muito sobre crianças, é um tédio. Mas pelo que vejo a maioria dos pais acha suuuuper interessante o que ela fala...
beijos!!

Anônimo disse...

hahahahahahahaha: mio baixinho com o talento do infante!!!

beijos,

Anônimo disse...

Essas reuniões são iguais em todas as escolas??? Socorro!!! Eu sempre me pergunto se essas mães não tem mais nada para fazer...

Greice,
Pq pedagoga é sempre redundate??

Anônimo disse...

Reunião de escola e reunião de condomínio devia ser tema de tese antropo-sociológica de livre-docência.

Bjs. Rosana.

Ana Téjo disse...

Cassio,
Só me fala: alguém merece?

MC,
Acho que não vou, não.
Daqui a alguns anos, eu te conto.

tuca disse...

Ana,
tenho um filhote de 5 anos também e concordo em gênero, número e grau com seu comentário - é um porre! especialmente quando você deixou uma reunião importante ou outras coisas igualmente importantes para estar lá...
Com relação à culpa, você repetiu o que ouvia da mãe de uma amiga quando estávamos na faculdade: ser mãe incluir sentir-se culpada - vem junto, sabe? também concordo plenamente...

Ana Téjo disse...

*Anna*,
As professoras são as que menos merecem porque, invariavelmente, dão aula para mais de uma turma, o que significa uma multiplicação nas reuniões. E elas bem que tentam avisar, viu? Sou testemunha disso.

Clau,
É mesmo! Reunião no colegial é encrenca na certa, né?
Rolando de rir aqui com a história da Lady, digo, da Bela. Você é impagável!

Ana Téjo disse...

Esfinge,
Boa! Vou sugerir na próxima reunião. Quem sabe ela aprende a fazer a barriguinha do "2", né?
E vou já ligar pra Farmácia em Casa e encomendar um Lacto-Purga embalagem família para mãe & filho. Adorei.

MH,
"É" de matar. Depois, não diga que eu não avisei.

Ana Téjo disse...

Aninha,
Nem me fale. Não dá vontade de jogar um tubo de Super Bonder na bocarra das mamães?
Aliás, acho que mães assim devem ser a grande motivação para o filho ir parar no seu consultório, não?

Greice,
Ela tem que justificar o salário, né?

Ana Téjo disse...

Vivi,
Mãe mia. Vai aprendendo...

Krys,
Acho que são sempre iguais, sim. E mesmo assim, a gente vai a todas.
As mães certamente tem mais o que fazer: ioga, manicure, depilação...

Ana Téjo disse...

Rosana,
Grande idéia! Depois que eu concluir meu mestrado e meu doutorado, vou me dedicar a isso.

Tuca,
No fundo, acho que somos (quase) todas a mesma pessoa.

Anônimo disse...

A amarelinha é menina.
Bjs. Rosana.

Ana Téjo disse...

Rosana,
Vou contar pra todo mundo na próxima reunião. Obrigada.

Anônimo disse...

minha simpatia está com as professoras. ninguém merece.

MEHC disse...

Ahh, que saudades eu já tinha do que você escreve, meu Deus!!Só ainda não acostumei a 'ver'você como Ana...Mas eu chego lá.

Ana Téjo disse...

anna o.,
A minha também. Com elas e com pobres mães sem tempo e sem paciência como eu.

Emília,
Saudade também. Em todos os dias de estiagem, pode ter certeza.
E sou eu mesma, juro. Você se acostuma.