quinta-feira, 10 de maio de 2007

Há algo guinchando embaixo da cama - parte 2

Ela acordou cansada do embate inesperado e da noite maldormida. Em algum momento naquele dia, teria que afastar a cama e enfrentar a possibilidade de encontrar a criatura lá, meio viva ou meio morta. Não sabia o que era pior. Se estivesse viva, teria que pegá-la com um saco plástico e sufocá-la até a morte, para então jogar o cadáver... na privada? Não; podia entupir. No lixo? Não; perigoso demais. Pela janela? Hummm... estaria apenas mandando-a de volta para o lugar de onde viera.

Passou o dia andando pela casa com os ouvidos atentos a qualquer tipo de ruído. Nada. Já eram quase seis da tarde quando se deu conta de que morcegos dormem de dia, mas aquele não era o maior dos seus problemas. Problema de verdade era a claustrofobia que a impedia, apesar do juramento da noite anterior, de viver enclausurada, com as janelas permanentemente fechadas. Esperou o marido chegar, pensando no que fazer.

Depois de concluído o trinômio banho-jantar-cama, ela investiu:

_ Sabe, eu estava pensando...
_ Pensando em quê, mulher?
_ No morcego.
_ Ainda? Por quê? Ele deu notícias?
_ Afff! Deus me livre! Felizmente, não. Mas eu não estou tranqüila. Você sabe que eu não suporto viver de janelas fechadas.
_ E o que você está pensando em fazer?
_ Não sei... e se a gente colocasse uma
tela?
_ Tela? Daquelas de criança? Na casa inteira, só por causa de um morcego?
_ Não é por causa do morcego. É por MINHA causa!
_ Por quê? Você vai se jogar se ele aparecer de novo? Olha que a tela não agüenta o seu peso, hein?
_ Pára! Fala sério: você acha que uma tela resolveria?
_ Hmmm... sei não. Você viu o morcego? Do tamanho de um canário. Um bicho daqueles passa fácil por uma tela.
_ É... o pior é que passa mesmo. E se fosse uma tela mais fina, daquelas de mosquito?
_ Você está louca, mulher? Que coisa mais lunática!
_ É. Acho que estou. Escuta... e se eu deixasse a janela aberta, mas só um pouquinho?
_ Como ontem?
_ Não! Só uns dois ou três dedinhos...
_ Sei não. De repente, o morcego faz um parafuso na aproximação e entra de lado...
_ Será possível? Ai, Xisus! E se eu deixar só um dedo de vidro aberto? Só pra eliminar a sensação de sufocamento iminente?
_ Olha... do jeito que esses morcegos são gaiatos, é capaz dele vir voando, aterrissar no peitoril da janela, andar até a esquadria, sentar, passar uma perninha, passar a outra, passar a bundinha e entrar dentro do quarto.
_ Pô, mas aí não é um morcego. É um filho da puta!

16 comentários:

MH disse...

hahahaha

o melhor é o terrorismo do marido, falando que o morcego ia dar um jeitinho de entrar no matter what...

Anônimo disse...

"casal neura" :)

Estou gostando.....

Quando vem a parte III?

Ana Téjo disse...

MH,
Era um morcego-Marine, com formação em West Point. Um sobrevivente.

Cassio,
Aceite o que eu digo: muitas vezes, a realidade é muito mais improvável que a ficção.
Esta história acabou. Mas a fonte de onde ela veio é inesgotável. Capaz até de virar uma série.

Anônimo disse...

HAHAHAHA.... me fez lembrar do dia em que a minha pequena cabeça esmagou um morcego que resolveu se recostar no meu travesseiro enquanto eu dormia. História real e crise real. Tive até que tomar vacina.... Esses morcegos estão cada dia mais safados..... ótimo texto... bjs Re

Anônimo disse...

Ahhhhhhhhhhhhhhh!!!kkkkkkkkkkkk
Mas e ai...achou ou nao o da noite anterior???Qual foi o fim??rs

beijos

Mary

mc disse...

hahahhahaha "passar a bundinha" foi boa...... rolando de rir!

Ana Téjo disse...

Rê,
Imagino a sua sensação de acordar pela manhã, com o lençol todo ensanguentado, e encontrar o "cadáver" ali. Afff!

Mary,
O corpo até hoje, consta como "desaparecido" no IML dos morcegos. Ou fugiu, ou vai ser encontrado daqui a alguns anos quando eles se mudarem e precisarem desmontar a cama.

Ana Téjo disse...

MC,
Boa foi a cara dela, tentando matar o marido!

Gastón disse...

My name is Bat, James Bat.

Anônimo disse...

kkkkkkkkkk
Serio???Como conseguiu, com todo o medo, continuar dormindo la sem saber se saiu ou nao???rs
beijos

Ana Téjo disse...

Gaston,
Always ready for a bat-papo!

Anônimo,
Não sei nem se tem dormido, mas prometo me informar.

Anônimo disse...

kk..
o anonimo sou eu...mary, ESQUECI DE ASSINAR...rs

beijossss

Dani disse...

Detesto morcegos e lagartixas. Principalmente no quarto!

Meu pai já assassinou um morcego com uma tampa de panela (!). E só porque meu pai é um herói é que consegui dormir tranqüila naquela noite. :-)

Beijos!

Ana Téjo disse...

Dani,
Vocês inutilizaram a panela depois do feito heróico, né?

Luci disse...

ah, vai ter que ter a parte III... qdo o casal leva o corpse do fdp à zoonse! ah, e tem as vacinas!
moral da história: todo marido é sádico!
bj!

Ana Téjo disse...

Luci,
Irk! O corpo putrefato, parcialmente decomposto.
Será que vão ter que dedetizar a casa? Será que o maldito era fêmea e estava prenha?
Coitadinhos...