quarta-feira, 9 de maio de 2007

Há algo guinchando embaixo da cama - parte 1

Rio de Janeiro, seis da tarde, temperatura na casa dos trinta graus. Ela, para economizar o ar condicionado quase permanentemente ligado, entreabre as janelas para deixar entrar um pouco do ar da tarde. Pouco antes da hora dele chegar, torna a fechar tudo e liga os aparelhos para refrescar o ambiente. Em pouco tempo ele aparece, cansado do dia de trabalho. Diligentes, dedicam-se ao trinômio banho-jantar-cama.

Já deitados, luzes apagadas, ouvem um ruído no quarto. Uma coisinha assim, incipiente, mas insistente, do tipo que começa a incomodar devagarinho e aos poucos vai fazendo perceber que não é possível que exista no mundo um pernilongo capaz de fazer tanto barulho.

Ela: _ Ei! Tá ouvindo isso?
Ele: _ Tô. Dorme. Deve ser o vizinho.
_ Não é, não. Tô ouvindo bem aqui, atrás da cama.

Ele se vira para o outro lado e procura deixar pra lá. Mas o barulho continua. Ora um ligeiro ruflar de asas, ora uns guinchos esquisitos.

Ele: _ Será um passarinho?
Ela: _ Tá doido? Passarinho não guincha.
_ Então é um morcego.
_ O quê???
_ Um morcego, ué! Tem muito disso aqui, no Rio.

Ela se senta na cama e acende a luz, com o coração batendo como o de um velocista olímpico.

_ Um mo... um morcego? Morcego-vampiro? Do tipo que suga o sangue das pessoas? Do tipo que pode matar a gente durante o sono?
_ Não, mulher, relaxa. A maioria dos morcegos é herbívora.
_ E VOCÊ ACHA QUE EU VOU DORMIR COM UM MORCEGO NO QUARTO? Acha que, antes dele me atacar, eu vou ter sangue-frio de oferecer uma salada?

Quando percebe que a coisa não vai parar por ali, ele também se senta na cama e decreta:

_ Então, nós vamos ter que abatê-lo. Pega seu travesseiro.
_ O quê? Você acha que eu vou usar o meu travesseiro da NASA, comprado em prestações ainda nem quitadas para matar um morcego nojento?
_ Tá bom, mulher. Com o que você quer matar o morcego?
_ Sei lá! Com uma vassoura, seu chinelo...
_ Meu chinelo, não.
_ Então pega lá a vassoura. Espera! Eu vou junto. Não fico sozinha no quarto com o morcego nem morta.

Vassoura em punho, afastam a cama e o vêem: um bichinho do tamanho de um canário, olhinhos brilhantes, provavelmente mais assustado que eles.

_ Aaaaaaaaaaaiiiiiiii! Socorro! Que monstro!

Com o grito, o bicho, que não é surdo e muito menos bobo, precipita-se num vôo livre pelo quarto. A luta franca, janelas abertas do lado deles e peito aberto do lado do morcego, é arduamente disputada e dura cerca de uma hora. No fim, o casal senta-se exausto e ofegante na cama, sem saber ao certo se havia conseguido se livrar da ameaça ou não.

Ele: _ Pronto. Acho que ele foi embora.
Ela: _ Acha ou tem certeza?
_ Acho que tenho certeza.
_ Mas você o viu sair voando pela janela?
_ Acho que vi, mas das duas, uma: ou ele foi embora, ou está tão cansado quanto nós e não há de incomodar.

Dormiram assim, exauridos, com ela jurando que nunca mais deixaria as janelas abertas.

Continua...

20 comentários:

Cláudia disse...

Ai minha nossa que eu me lembrei das férias na casa da vó Galdina, em Vila Isabel.
A gente dormia de janela aberta, sem grade, na beira da rua (essas casas de vila, antigas, que não tem muro.
De noite era uma revoada: morcego, barata voadora (barata do rio de janeiro é barata bem criada, das gordas, parece um besouro).
Beleza ser adolescente né? Hoje não posso nem com um reles mosquito!
beijo

Anônimo disse...

Quando eu era pequena, um morcego caiu na minha cabeça...eu morava num lugar que tinha muitas castanheiras e eles gostam de castanha....o engraçado é que eu achei que era um passarinho e já ia pega-lo para salva-lo da queda, até que ele abriu as asas e saí gritando...morcego,morcego,morcego.
PS: Ana, preciso e não me pergunte agora pq, do tamanho do seu pé...nº que vc calça. depois vc vai saber pq...Juro que não é macumba!
Beijocas

mc disse...

Só um homem mesmo pra falar que morcego é hervíboro. Nosso problema não é que ele nos coma/morda, é que ele se atreva a se encostar na gente!

Eca.

MH disse...

Nossa, lembro das vezes que a casa da fazenda ou da praia era invadida por morcegos. Eca, eca, eca. Pavor. Na fazenda tenho até medo de andar em volta da casa devido aos rasantes dos bichinhos. E se encostar em mim? Enroscar no meu cabelo?

aaaaarrrrrrrrrrrgggggggggh!!!

Anônimo disse...

Era um "morcego bebê" (não menos horroroso por isso).
O marido após persegui-lo incansavelmente e nocauteá-lo várias vezes com o pano de chão, capturou-o com a pá (de cabo longo, lógico) e jogou-o pela janela do 7° andar.
Ele se fez de morto, mas deve ter saído voando.

Anônimo disse...

Ainda pensei em perguntar ao porteiro na manhã do dia seguinte se havia encontrado um morcego esborrachado na calçada, mas desisti.

Anônimo disse...

Certeza ele não tinha porque o bicho não tinha saído de fato... então... ele voltou (à batalha) até ter convicção de seu êxito.

Ana Téjo disse...

Clau,
É por isso que dizem que "sobreviver à adolescência é uma das maiores vitórias do ser humano."
Cada coisa que a gente fazia, né? Fazia e sobrevivia pra contar.

Claudia,
Fico aqui me perguntando quais são as probablidades reais de um morcego cair na cabeça de alguém! Devem ser equivalentes às de ganhar sozinho na Megasena, né? Isso significa que você é uma pessoa de MUITA sorte.
Imagino seu pânico. Afff!

Calço o velho e bom 37, mas tenho o corpo fechado, viu? E se for caramelo, eu agradeço, mas "vou estar passando".

Ana Téjo disse...

MC,
Típico de homem, né? Querer racionalizar numa hora dessas.
Nem me fale. Eca!

MH,
Só passeando de capacete.

Ana Téjo disse...

I...ã,
Ele se fez de morto mas, na verdade, segurou-se no peitoril da janela, voltou engatinhando e se enfiou atrás da cama assim que vocês deram as costas.

Anônimo disse...

Que fofo!!!Um morceguinho???
Fofo...muito fofo!!!
Capturei um para coleção da faculdade...Mas foi dificil...Tive q ir a noite na mata e tal..e ELA com frescura.rs

beijos

Mary

Ana Téjo disse...

Mary,
Você foi à MATA, caçar um "morceguinho" pra faculdade???!!!
E acha morcego "fofo"? Eu, hein?

Anônimo disse...

hahahahahahahahaa...figura!

Anônimo disse...

Logico!!!To sempre na mata...a noite, de dia...Final de semana...Ser estudante de Biologia é uma deliciaaaaaaaaa...Minha praia é PARASITOLOGIA,mas amo morceguinhos, sapinhos...tudo!!Só tenho pavor de aranha, apesar de tbm ja ter pego e estudado (fixado, claro)...
Deixarei de ir no show do Zeca pagodim para passar um fim de semana na mata fazendo trabalho...Eh uma blz!!!!

beijos

Mary

Ana Téjo disse...

Claudia,
Obrigada.

Mary,
Só me ilumina: parasitas são aqueles bichos horrorosos, que às vezes tomam conta do corpo das pessoas e causam os piores estragos? Afff!
Quand otiver problemas com morgeguinhos, ratinhos, sapinhos e baratinhas, já sei quem chamar!

Anônimo disse...

Isso mesmo...Parasistas são aqueles "organismos" fofos tbm...lindinhos, que qdo entram causam um estrago mesmo...rs. No momento to trabalhando com Parasitas de Pombos...nada tao grave!!!rs
E pode chamar...morceguinhos, sapinhos...Menos Aranha, lembra!!!rs.
Ah! Baratinahs tbm...sabia que abrir uma baratinha???rs

beijosss

Mary

Ana Téjo disse...

Mary,
Como se não bastasse serem parasitas, ainda por cima DE POMBO?
Eca, viu?

Anônimo disse...

Rs. Gosto da area de saude humana tbm...É super interessante...Mas trabalho no porto de Vitoria e temos um problema muito serio la com pombos no cais de cereias...daí optei por essa area por já ter "campo" de estudo, neh?Mas gosto tbm...rs
beijos

Mary

Ana Téjo disse...

Mary,
Pombos, por si só, já são um problema onde quer que estejam.
Detesto pombos. Aff!

Anônimo disse...

Rs. Tadinhos...aqui eles tbm são odiados por todos, menos pelos velhinhos da praça....que é isso q mais dificulta o trabalho do pessoal da secretaria...rs
Mas é legal!!!

beijos

Mary